Eu amo você

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"Toda vez que eu penso em lhe dar o meu amor
Meu coração (pensa que não vai ser possível)

Eu amo você"


Esconder sentimentos era um problema para a personalidade de Verônica.

Para ela, era quase insano o pensamento de que as pessoas faziam isso todos os dias, durante todas as horas. Que fingiam, máscaras de chumbo projetadas para esconder qualquer emoção que não fosse planejada.

Era uma problema, na verdade. Ela não deveria ter aquela expressão de compaixão no rosto quando uma vítima contava sua história; Ela não deveria mostrar sua insatisfação quando um chefe rigoroso lhe enfurecia; Ela não deveria mostrar como se divertia fazendo coisas violentas. Não seja o que parece, mas o que se vê.

A vida é um baile de máscaras que Verônica participava com seu verdadeiro rosto.

Do outro lado da sala, Anita seria a rainha da festa: sua máscara seria de ouro e sua risada cativaria o salão. O baile se curvaria a ela, porquê os padrões eram exatamente os que ela ditava: controle do próprio coração. Mantido guardado atrás de paredes de concreto pesadas que Verônica, a cada dia mais, chegava a conclusão que talvez nunca quebraria.

Ela estava exausta. Até o última gota de seu sangue corria de forma letárgica, como se evitasse que a escrivã finalmente jogasse tudo para o alto. Ela estava irritada, amargurada e desiludida. Havia levantado bandeira branca, tingida de vermelho: enviado flores, com um cartão que começou a escrever e não parou até que expressa-se o barulho de sua cabeça em um pedaço de papel. Ela mal releu, não querendo voltar atrás, tinha medo de se arrrepender se decorasse o que havia escrito.

Então, ela esperava seu tiro de misericórdia. Que Anita a deixasse, ou a levasse. Mas que fizesse isso logo: as correntes que prendiam os sentimentos amorosos começavam a calejar a morena, e em breve ela estaria sangrando.

A falta de mensagens no celular naquela noite lhe fez se perguntar o que teria sido a reação de Anita. A falta de contato de Denise também lhe comia viva. Ela tentou cozinhar, mas quando olhou os legumes sobre o balcão, desistiu no mesmo instante. A TV parecia irritante, os programas uma grande baboseira que ela mal conseguia prestar atenção. O livro jogado sobre o sofá também falhou. Lhe restou as garrafas de vinho e as músicas deprimentes que tomaram o aleatório, como se os algoritmos soubessem exatamente o momento sombrio que seu coração enfiava-se.

O hábito de fumar não pareceu tão nojento quando a nicotina tragada fez seu coração bater mais calmo; O olhar perdido nos prédios que cresciam como árvores antigas em uma selva de pedra.

Seu corpo está quase passando do ponto, metade da segunda garrafa se esvai e para uma pessoa só, a maioria já estaria fora de órbita. Mas Verônica estava com a cabeça longe a muitas horas, o álcool apenas diminuindo a frequência aterrorizante de pensamentos ansiosos.

Quando batidas irrompem na porta, ela sabe que o momento chegou. Ela está lá, do outro lado. Armada de seu rosto sério e bonito. Seu tiro de misericórdia chegou. É o fim ou é tudo.

Anita sente o cheiro forte de cigarro impregnado em Verônica e torce os lábios, não parecia certo, não nela. Ela entra no apartamento bem menos confiante do que quando entrou naquela madrugada.

- Eu recebi suas flores.

O tom é baixo e o olhar perdido. Ela olha ao redor, Verônica toma mais um gole da taça de cristal reluzente.

A loira nota a falta de resposta, o castanho opaco e os ombros curvos. Ela sempre cansava a todos, não é?

- Eu ensaiei tantas coisas para te dizer durante o caminho, mas agora mal consigo pensar em qualquer coisa conexa. – Berlinger suspira e Verônica acena, ela não quer parecer interessada e quase não está, se não fosse por seu estômago que dói em querer que palavras bontias escorram daqueles lábios.

Teto de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora