Setevidas

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"É besta assim, esse quase morrer
Desconcertante perceber
Que as coisas são
E tudo floresce a despeito de nós"


Isabel sussurra baixinho do outro lado da linha provocando uma risada em Heloísa que caminha calmamente pelo estacionamento aberto, o sol começa a descer e é um fim de tarde tranquilo. Seu plantão no DHPP acabou a menos de meia hora, um dia chato e longo, em que a equipe da civil estava interessada em uma batida que havia acontecido as seis da manhã e que nada tinha a ver com as responsabilidades de Heloísa ali. Então, ela ficou o dia quase inteiro sozinha, sem Anita para perturbar com piadinhas ou Prata para conversar sobre as últimas fofocas do lugar.

A morena já quase se sente em casa ali, seu comportamento fluido e uma conversa instigante a levando a fazer amizades facilmente, a energia de uma delegacia Civil sendo muito mais atraente que a pose e imponência da Federal.

Uma movimentação estranha na rua chama a atenção de Heloísa, o estacionamento não é usado pela maioria da delegacia, que prefere o pátio do lugar. Mas Helô sempre acha infernal a disputa por vaga e prefere a rua ao lado para deixar o SUV prata. Ela acha estranho o carro de vidro fumê que passa por ela, seu instinto aguçado de muitos anos de polícia, a faz segurar o revolver na cintura, deixando a arma no ponto de ser puxada.

Ela volta sua atenção para o que Isabel está dizendo, ela está contando os planos de seu novo livro quando o trepidar de uma van que se aproxima em alta velocidade chama a atenção da morena. Heloísa não tem tempo de desligar a chamada, jogando o celular no chão e sacando seu revólver. Ela corre sobre os saltos, amaldiçoando a escolha do calçado para mais um ataque contra sua vida. Sua visão periférica vê dois homens encapuzados descerem da van rapidamente, empunhando fuzis.

- Puta que pariu, fuzil me quebra. – A morena pragueja, atirando contra eles com a Glock .45 que carregava consigo.

Ela não tinha autorização para ter uma arma com aquele calibre, mas em momentos como esse, quebrar a lei tem suas vantagens. Se agachando ao lado de seu carro, ela escuta os tiros ritmados na carroceria do SUV blindado, olhando os lados para atirar em qualquer um que tentasse lhe encurralar. Quando um homem vestido de preto aparece caminhando em sua direção, ela mal tem menos de 5 segundos para atirar antes que vire um corpo alvejado no chão. Ela sabe que atingiu a perna e isso o faz perder a mira da arma e a bala passa raspando contra seu corpo que se encolhe agachado ao lado do carro.

Heloísa sente a adrenalina tomar seus músculos, seu coração bate alto em seus ouvidos e o som de balas amassando a lataria lhe aterroriza, ela consegue achar o controle automático do veículo e o abre rapidamente, tentando se proteger no carro blindado até que alguém venha a seu socorro.

Mas o homem que ela havia atirado consegue empunhar a arma novamente e está prestes a lhe atingir quando sua cabeça estoura em um barulho seco, Heloísa assiste sangue explodir pelo ar e miolos queimados inundarem a calçada quando ele cai de joelhos e bate com força o resto de seu crânio no chão.

Anita está atrás dele, um rifle preso em seu pescoço, ela reconhece o modelo como um Colt M4A1 que usava em tempos de Civil.

- ENTRA NO CARRO, PORRA! – A loira grita para ela, se agachando contra outro carro estacionado.

Sua voz é cortada por mais tiros que agora também tem Anita como alvo, Heloísa puxa a maçaneta do carro, colocando metade do corpo para dentro do veículo. Sua mão livre abre o porta luvas, retirando uma segunda Glock 30 do compartimento.

A loira arregala os olhos quando vê que Heloísa não seguiu seus comandos e que voltou a se agachar contra o SUV, a mulher segura cada revolver em uma mão e respira fundo antes de pôr os braços sobre o capô do carro e atirar contra a van.

Teto de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora