Caso sério

950 82 131
                                    

"Eu fico pensando em nós dois
Cada um na sua, perdidos na cidade nua
Empapuçados de amor
Numa noite de verão"

É preciso ter doses de inconsequência para se meter no caminho de Anita Berlinger.

Dentro do Judiciário de São Paulo, muitos rostos se torciam ao ouvia tal nome. As práticas de tortura e corrupção da loira não eram bem-vista por todos, alguns juízes, promotores e outras figuras do Direito, geralmente nascidos em berço de ouro, sempre resmungavam ao ler a assinatura da mulher em algum inquérito.

Para alguns, ter essa imagem seria uma terrível consequência, mas Anita gostava. Gostava do medo, da vingança e do sangue. Ela pouco se importava que suas práticas não eram corretas.

Por isso, ela se diverte ao ver o homem que caminha em direção ao carro despreocupadamente, sem imaginar o que está por vir. Segurando um sanduíche em mãos, o arquivo que Verônica havia conseguido no dia anterior delatava que ele era um ex-policial militar, apelidado de Raposo, que deixou as funções depois de surtos psicóticos em operações. Torres torceu a cara quando entregou as folhas a Anita e pediu para que ela desistisse dessa ideia de vingança, a delegada bufou em negação e a morena disse firmemente que iria com ela.

Berlinger não tinha medo e isso a deixava em uma linha muito tênue com Verônica quando se tratava ter manias suicidas.

Ele continuava a fiscalizar a casa de Denise, de forma nada camuflada e isso irritou a loira ainda mais. Foi muito fácil esperar que ele saísse para comer algo e deixasse o veículo sozinho. Usando uma chave mestra e alguns empurrões, e logo ela e Verônica estavam no banco traseiro, se enfiando no vão entre o banco da frente e escondendo-se de qualquer olhar descuidado. Por isso, o Sargento aposentado mal percebe qualquer coisa de diferente ao sentar-se no banco do motorista, muito interessado no que havia acabado de comprar para saciar a fome de horas esperando Denise voltar.

O metal frio de uma das pistolas encontra a lateral direita da cabeça do homem que trava ao sentir a aproximação estranha repentinamente. A segunda pistola encontra a parte de trás de sua cabeça e ele prende a respiração. Pavor em seu rosto.

Anita sorri, ela segura a arma que está do lado direito da cabeça raspada enquanto Verônica está atrás do homem, pronta para dar um mata leão a qualquer movimento que ele faça em direção a delegada.

- Por que não vamos dar uma volta, sargento? – Anita brinca, a balaclava tomando todo seu rosto, deixando apenas os olhos verdes brilhantes a mostra.

A voz feminina faz o homem franzir as sobrancelhas e ele pensa em reagir, mas o cutucar da segunda arma em sua nuca logo dissipa essa ideia.

- Eu deixo o carro para vocês, não precisa ameaçar, dona. – O homem diz nervoso e Anita rola os olhos.

- Que porra eu vou querer com um carro fodido desses, idiota? – Ela debocha e Verônica reprova a atitude, receosa. – Meu problema é com você. Coloca essa merda na rua.

- Quem me garante que você não vai me matar? – Ele pergunta, sarcasmo em sua voz. – É melhor ficar aqui, é um lugar bem pior para você fugir sem ser vista.

- Deus, como você é inteligente! – A loira ri, seu tom caindo algumas oitavas quando ela prossegue a ameaça como se estivesse explicando matemática a uma criança: – Se eu quisesse matar você, já teria o feito. Por mais que eu queira encher sua cara de bala, só preciso conversar com o Sargento Raposo. Mas se você quer tanto morrer... – A fala não terminada junto ao som de arma sendo engatilhada faz o homem acreditar nas palavras e o motor é ligado rapidamente.

Anita indica um atalho, os tirando de área urbana rapidamente. O trepidar dos pneus no chão de terra faz a arma que Verônica segura bater com insistência no couro cabeludo raspado. Suor frio escorre pelas têmporas do homem rechonchudo e Anita evita trocar olhares com Verônica, não querendo relevar qualquer tipo de relação que ela poderia ter com a mulher ao seu lado.

Teto de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora