Último romance

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"Eu encontrei e quis duvidar
Tanto clichê, deve não ser
Você me falou pra eu não me preocupar
Ter fé e ver coragem no amor"

O tecido cor de musgo escuro, daqueles que você encontra em uma floresta chuvosa, contrasta bem com a pele alva que reluz naquela manhã. Há uma leveza nos músculos do rosto, um andar leve e uma paz de espírito que Anita acha que nunca sentiu na vida.

Ela flutua pelos corredores do departamento, seu coração bate tão calmo que mal chega aos seus ouvidos. Sua mão queima, e não é a que segura o copo de café quente, mas a que roça levemente a de Verônica, que caminha ao seu lado. Segurar o ímpeto de deslizar a palma na da morena ao seu lado no meio da delegacia parece uma tarefa impossível naqueles pequenos minutos que parecem uma eternidade.

Seus olhos fitam o rosto de Verônica, um sorrisinho convencido que não deixou seu rosto desde que elas acordaram aquela manhã. O nariz está empinado e os óculos escuros roubados do closet de Anita lhe dão um ar arrogante. Seu peito está estufado, e Anita levanta uma sobrancelha ao notar o comportamento.

Verônica acompanha Anita até sua sala, esperançosa em ganhar um beijo de despedida antes de se perder na pilha de documentos que se acumula sobre sua mesa. Ela fecha a porta atrás de si assim que a loira a sua frente e ela, entram. Seu caminhar se torna mais rápido para que as mãos afoitas encontrem caminho pela cintura de Anita, que solta um risinho surpreso com a mulher agarrada a si.

- Por que você está assim, hein? – Anita pergunta entre um sorriso, deixando com cuidado o copo de café sobre a mesa e virando-se para retribuir o aperto da morena.

- Assim como? – Verônica pergunta alheia, focando sua atenção em deslizar o nariz pelo pescoço alvo da mulher alta.

- Assim! – Anita gesticula para a morena. – Com a pompa de um jogador de futebol. A arrogância fica bonita em você, mas estou achando engraçado.

- Claro que estou arrogante! – A escrivã responde com um tom de obviedade na voz. – A mulher mais linda e difícil desse país disse que me ama ontem à noite, é como ganhar na loteria! – O tom de voz é animado, e um sorriso alegre toma seus lábios. – E não em um jogo qualquer, algo como a Mega da Virada.

- Você é uma idiota! – Anita revira os olhos, mas sente seu coração derreter como cera de uma vela em chamas. – Vá trabalhar, vá! – Ela empurra a mulher pelos ombros, envergonhada.

Verônica ri, a lufada de ar quente atingindo o pescoço da delegada, que se arrepia com a sensação. A forma como o corpo da escrivã se aperta ao seu a traz um sentimento reconfortante.

Torres se afasta, se dando por vencida. Suas mãos sobem da cintura para a parte superior da camisa de botão, indo em direção a gola levemente bagunçada pela proximidade anterior das duas mulheres. Ela ajeita o tecido, dando leves batidinhas nos ombros da loira quando se dá por satisfeita.

- Você nunca me contou o significado do verde. – O tom é pensativo, e os olhos castanhos focam na camisa verde, seda cara deslizando por seus dedos.

- Achei que você já tivesse descoberto. – Anita brinca, vermelho começando a tingir suas bochechas.

- Eu tinha alguns palpites, mas você já usou essa cor com tantos humores, que não sei bem mais o que supor. – A morena dá de ombros.

Anita encara profundamente os olhos da morena, antes de descer até o distintivo pendurado contra o peito. Ela suspira, sorrindo sem dentes, como se tivesse uma boa lembrança passando por sua cabeça naquele momento.

- O verde significa você, Verônica. – Ela confessa baixo e a boca da escrivã se abre em surpresa. – Era a cor que você estava usando na noite que nos beijamos a primeira vez, tem a inicial do seu nome e me lembra a natureza, algo que sempre me deixou feliz por estar perto.

Teto de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora