Quando bate aquela saudade

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"Eu tô com uma vontade danada
De te entregar todos os beijos que eu não te dei

E eu tô com uma saudade apertada
De ir dormir bem cansado
E de acordar do teu lado
Pra te dizer que eu te amo"

Encostada contra o sofá de couro desconfortável, Heloísa sente as costas doerem. Dando uma rápida olhada em seu relógio de pulso, ela vê as horas se arrastarem. Já se passa das 15:00 horas, e eles estão ali desde as onze da manhã.

Ela fita a loira sentada, Anita ainda tem a camisa suja de sangue em si. Sangue que agora está seco e parece um show de horrores estampado no tecido. Prata também está sentado na sala de espera, aparentando o mesmo cansaço. Lima conversa com Dante no pequeno jardim de inverno do hospital.

Anita é a que menos parece exausta deles, apesar de estar lá a mais tempo que todos, por ter levado Verônica e ter se recusado a sair do lugar desde que havia entrado com a mulher ensanguentada em seus braços porta adentro. A equipe só conseguiu estar lá depois de realizar o procedimento de prisão de mais de uma dúzia de capangas de Helena, correndo até o lugar que Berlinger havia avisado por mensagem que elas estavam.

Apesar de não parecer tão exausta quanto o resto, certamente ela era a mais perturbada. Seus olhos opacos encaravam o nada enquanto seus dedos roíam o resto de unha que estava sofrendo desde a manhã pela ansiedade da loira. Após brigar com toda a equipe do hospital, gritar com uma recepcionista que pediu o cartão do plano de saúde de Verônica – que, obviamente, ela não tinha – a cena de seu cartão de crédito sendo jogada contra o rosto da mulher foi o suficiente para que Heloísa tomasse a frente do cadastro de Torres no lugar.

Até mesmo o sangue que havia escorrido de sue nariz estava seco até algumas horas atrás, até Dante a puxar pelo braço como uma criança e enfiá-la dentro do banheiro masculino com ele, já que seria mais estranho ele entrar no feminino que o contrário.

A última notícia que eles haviam recebido era que Verônica entraria em cirurgia, para que o projétil de arma de fogo fosse retirado. Isso foi a três horas atrás.

Um barulho baixo chama atenção na recepção e Berlinger acorda de seu transe, pegando o celular que vibrar no seu bolso de trás. Ela franze o cenho com a ligação, mas resolve atender. Ela se levanta, afastando-se dos colegas para ter privacidade na chamada.

- O que foi, Nelson? – Anita pergunta mau humorada.

- Uh... eu não sei se é bem o momento de te contar isso, mas as imagens que você pediu chegaram. – O homem engole em seco do outro lado da linha.

- Que imagens? – A loira soa confusa.

- As do apartamento de Verônica. – Ele esclarece. – Bem, realmente havia alguém com Paulo naquele dia...

- Quem era?

Há uma batida de silêncio por alguns segundos. Nelson se pergunta se realmente deve contar a mulher.

- Lima.

Anita solta uma risada seca, como se a armação fosse uma peça teatral mal encenada. Claro que Lima seria um pateta de realizar o plano mais tosco do mundo para que ela se afastasse de Verônica.

E teria dado certo, mesmo que Anita não fosse uma idiota. Um tempo atrás apenas a foto, mesmo que em uma armação, seria o suficiente para lhe estressar e cortar vínculos como uma faca quente corta manteiga. O que Lima não contava é que após Verônica, Berlinger era outra mulher.

- Obrigada, Nelson.

Ela desliga, sem esperar a resposta do homem. Seu caminhar de volta a sala de espera é lento e pensativo, quando ela retorna ao lugar, vê Lima pela parede de vidro que cerca o jardim de inverno.

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