Construção

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"Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última

Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego"


Verônica acordou ainda de madrugada, um céu escuro e silencioso lá fora. Seu humor caindo alguns graus pelo horário ridículo, nem mesmo a noite agarrada a Anita tirou a sensação fria e solitária que lhe acompanhou durante todo o trajeto até a delegacia.

A morena observou a preparação da equipe, e suspirou enquanto assistia a delegada colocar o colete à prova de balas, a expressão tensa e focada. O ambiente estava carregado de ansiedade, e a realidade da operação que se aproximava tornava tudo mais pesado.

Aproximando-se vagarosamente, seus lábios tomaram rapidamente os de Anita, ignorando qualquer um que pudesse ver a cena.

- Não vá morrer. – Murmurou a morena, sua voz baixa e intensa.

Anita a encarou, seus olhos verdes estavam sombrios.

- Eu não ousaria. – Ela sorri de lado, mas seu coração retumba de ansiedade.

Eles já estão a postos quando o sol da manhã começa a iluminar o céu, mas uma névoa leve paira sobre o mato alto ao redor do galpão, tornando o ar denso e úmido. A luz pálida filtrava-se entre as árvores e as estradas de terra, projetando sombras que os agentes da polícia civil e federal usavam para se mover com cautela. Dante, ao lado de Heloísa, observava com atenção os capangas que vigiavam o perímetro.

A van disfarçada da polícia civil está estacionada numa rua de terra deserta, a algumas quadras do galpão onde a operação estava prestes a começar. Dentro do veículo, o ar era denso, e os agentes se comunicavam em vozes baixas, trocando olhares rápidos de confirmação. Nelson olhava para Verônica com cuidado.

Verônica estava com os fones de ouvido ajustados. Seu dedo indicador repousava sobre o microfone, pronta para dar qualquer sinal de alerta. Ela tinha feito aquilo dezenas de vezes, mas havia algo diferente naquela missão. Uma tensão sutil que fazia os pelos de sua nuca arrepiarem.

- Equipes posicionadas? - A voz firme de Anita ecoa pelo rádio, firme, mas com uma leve nota de apreensão.

- Todos a postos - Verônica respondeu, mantendo a voz estável. Tudo parecia estar sob controle, mas sua intuição lhe dizia o contrário.

O cenário estava exatamente como elas havia planejado no dia anterior: haviam capangas do lado de fora, em guarda ao redor das portas terrenas. Helena saiu de casa ainda quando o sol estava escondido, sendo levada sorrateiramente para aquele lugar.

Eles precisam de Helena ali. Que ela falasse algo comprometedor, que fosse presa em flagrante. Sem isso, seria quase impossível ligar ela a quadrilha. Era uma mulher perfeita, de reputação inabalável e herança familiar.

Com um movimento de mão de Heloísa, os agentes que estavam junto a ela avançaram com precisão. O primeiro guarda da porta lateral direita foi rendido sem um som, um golpe rápido no pescoço o derrubando ao chão. O segundo, surpreendido por trás, foi silenciado antes que pudesse alertar os outros.

Heloísa e Dante se aproximaram do galpão ao ter a oportunidade. Se movendo até a ventilação, o investigador retirou a grade com cuidado, e ambos entraram no sistema de ventilação estreito e abafado. O silêncio dentro do duto era cortante, enquanto seguiam em direção a uma das laterais do galpão.

Silenciosamente, a decida ensaiada não foi tempestuosa e ambos se esconderam rapidamente atrás de caixas de madeira empilhadas nos cantos. A visão era clara: no centro, Helena, um ponto de elegância perdido em meio a aquele lugar sujo. A mulher de meia idade parecia estar em meio a negociação tensa com um comprador, cercada por vários capangas armados. A luz que entrava pelas janelas superiores lançava sombras angulosas sobre a cena.

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