Infinito particular

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"Não é impossível
Eu não sou difícil de ler

Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular"


Quando se entra na Polícia, a primeira coisa que você precisa se acostumar é com o barulho constante. Durante o curso de formação, há uma atividade em específico em que dentro de uma sala de aula, sirenes são ligadas em volume máximo e você precisa responder uma prova discursiva.

Muitos não aguentam metade do curso de formação, quem chega ao fim entende a razão daquilo logo nos primeiros dias de trabalho.

Não se há silêncio dentro de um Departamento de Polícia: há sempre uma vítima em lágrimas, um policial estressado quebrando a máquina de café, uma mãe cobrando uma justiça que nunca vem, uma amante que descobre que seu namorado investigador na verdade é casado.

É por isso que Anita não se assusta com gritos facilmente, quando há alguma confusão, ela sequer sai de sua sala, a menos que a situação pareça ser de perigo eminente. Naquela manhã, quando os primeiros gritos vieram e ela escutou uma voz feminina, apenas rolou os olhos, fixando seu olhar no inquérito que deslizava na tela brilhante de seu computador.

Porém, quando a voz aumentou a cadência e ela reconheceu o tom, levantou-se rapidamente de sua cadeira, saindo como um furacão por sua sala.

A dona da voz não mais grita quando Anita lhe vê, na verdade está sentada na cadeira que costuma ser de Verônica, que lhe estende um copo de água e sussurra palavras que Berlinger não entende.

- O que aconteceu? – A delegada pergunta, assim que está próxima o suficiente. Os olhos da morena sentada na cadeira brilham ao olhar para ela, tanto pelas lágrimas, quanto pelo alívio de ver Anita.

- Graças à Deus! – Denise diz, largando o copo de água sobre a mesa de Verônica e levantando-se em um salto, passando os braços pelos ombros de Anita e voltando a chorar copiosamente. – Eu preciso de você... por favor. – A morena sussurra chorosa e Berlinger acena assustada, deslizando a mão direita pelas costas da mulher em seus braços.

A cena chama atenção do departamento, Lima e Dante que estavam próximos olham confusos, o resto dos policiais param para assistir a mulher que se agarra a delegada mais temida do local sem nenhum receio.

Anita dá um olhar para Verônica, que entende o que ela pede silenciosamente. Berlinger puxa a mulher em seus braços até sua sala, enquanto a escrivã dá um olhar feio aos policiais parados.

- Vocês não têm mais o que fazer não? Vão trabalhar! – A morena grunhe, recolhendo o copo de água e passando por Lima que rola os olhos com a petulância.

- Você não manda em ninguém aqui. – Ele sussurra mordido.

Verônica para o caminho que está a fazer e dá meia volta, raiva brilhando em suas íris. – Você acabou de tentar impedir a melhor amiga de Anita, que aparentemente estava desesperada, de ver ela. Você a destratou, não a deixou ir até a sala da delegada e quase a ameaçou, pois tem o tato de uma pedra e não ouviu o que ela disse. – Ela diz baixo, seus dentes rangendo no processo. – Eu não mando em ninguém, mas se fosse te dar um conselho, seria: suma, antes que Anita descubra. E me trate muito bem, se não quiser que ela saiba como você segurou o braço de Denise.

Ela não dá tempo a ele para resposta, sumindo pelo corredor em direção a cozinha em passos apressados. Dante vê Lima fechar os pulsos e trancar a mandíbula, mas antes que ele exploda, também some pelo corredor, na direção contrária à de Verônica.

Denise se senta na cadeira confortável a frente da mesa de Anita e ao olhar ao redor, visualiza os elementos que marcam a personalidade da loira. Um porta-retrato com uma foto delas no Chile sobre a mesa, um pé de Costela de Adão no canto direito do ambiente, livros de Direito Penal e Processual Penal em nichos na parede. Sua amiga lhe olha preocupada, agachada a sua frente, segurando suas mãos entre as dela.

Teto de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora