"Acabei com tudo
Escapei com vida
Tive as roupas e os sonhos
Rasgados na minha saída"- Isso não vai pegar bem para você. – Lima suspira, enquanto Anita abaixa a cabeça. As palavras do homem infiltrando-se por seus ouvidos e indo até seu coração.
Mal sua manhã havia começado e o céu nublado da cidade de São Paulo invadia também o clima de seu dia de trabalho. Ela se pergunta se vivesse em uma cidade calorosa e alegre, também teria situações tão cinzas na vida.
- Você não tem nada a ver com isso. – A loira corta secamente. – Na verdade, não sei em que planeta achou que seria uma boa ideia vir na minha sala contar sobre fofoca da delegacia. Alguma vez eu te dei abertura para tal?
Lima engole em seco, meneando negativamente com a cabeça.
- Só vim te alertar, Anita... Você sab-
Antes que ele possa continuar, a mulher sentada levanta uma mão, interrompendo a ladainha que começava a perturbar sua cabeça.
- Doutora ou Delegada Anita. – Ela corrige. – Agradeço essa sua preocupação, mas ela não me importa.
O homem meneia positivamente, seus ombros caem derrotados. Aquela não era a resposta que ele achou que teria quando resolveu contar a Anita sobre as fofocas em que ela e Verônica eram mais que colegas de trabalho estavam rolando pelo prédio.
O próprio Lima sendo responsável por espalhar a maioria dos boatos, que corroboravam com Verônica em visitas demoradas a sala de Anita e piadas que Heloísa soltava e os corredores ouviam.
Anita escuta a porta fechar, apertando os olhos com a dor de cabeça enjoada que começa a chegar. Ela sabia que Lima ter visto sua proximidade com Verônica não seria bom, que ele tinha uma leve paixão nunca correspondida por ela e que era questão de tempo até que o RH ficasse sabendo.
Ele não estava preocupado, estava com inveja. Isso Anita sabia, mas também sabia que o que ele havia falado era verdade.
Recém nomeada a delegada titular, ela não precisava de um escândalo. Um romance entre colegas não é um escândalo. Um romance entre dois inimigos de trabalho que por acaso ambas são mulheres? Desastre total.
Ela não seria exonerada, nem Verônica. Todavia, sua moral iria para o pé, assim como Verônica seria taxada de aproveitadora.
Ela já consegue ouvir os comentários flutuando pelos corredores:
- Agora que Verônica não tem mais a proteção de Carvana, melhor dar para a nova chefe, né?
- E a loirona era loirão, hein? Quem diria, comendo Verônica ainda por cima?
Anita se torce na cadeira, balançando a cabeça em busca de afastar todos os pensamentos fantasiosos.
- Ninguém paga suas contas, ninguém tem nada a ver. – Ela respira fundo, tentando se convencer daquilo.
Anita não se importava com o que as pessoas pesavam dela na maioria das vezes, mas as vezes sua sexualidade ainda era um fantasma que sazonalmente aparecia para puxar seu pé por debaixo da cama.
Berlinger sabia que gostava de meninas muito cedo. E escondeu isso fielmente de sua mãe, suprimindo todas as paixões juvenis em pequenas caixinhas que aprendeu a armazenar dentro de seu coração. E então, durante a adolescência, ela se questionou se homens também não eram atraentes. Muitas vezes, ela desejou que algum homem a salvasse, lhe tirasse do inferno que era sua casa. Ela era bonita e inteligente, conseguiria alguém que lhe desse tudo.
Mas ela não suportava homens, afinal. Não suporta o cheiro de produtos masculinos, odiava a brutalidade que eles usavam ao beijar, odiava o relevo grosso da pele e as conversas desinteressantes.
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Teto de Vidro
FanfictionApós se envolverem por uma noite, Anita e Verônica prometeram que tudo não passou de uma experiência. Todavia, é difícil resistir a adrenalina e diversão que somente pessoas tão opostas poderiam se provocar. Ao se verem envolvidas em um caso incomu...