Sangue do meu sangue.

113 9 3
                                    

Louise Collins.

Entrei em casa eufórica sem saber o que fazer, como me sentir ou reagir. Passei minhas mãos repetidamente pelas minhas pernas na tentativa de ficar calma. Judith entrou no apartamento me fitando com receio, nas suas mãos tinha a arma de Rick.

-arruma suas malas, Judith.-pedi com falta de ar soando frio.

-mãe essas pessoas precisam de ajuda.-a garota me lembrou. Eu não dou a mínima pra essas pessoas.

-eu não me importo, Judith. Isso não é problema nosso. Arruma suas malas, agora.-ordenei para criança que me olhava imóvel cheia de decepção.

-mas mãe.-antes que a garota reclamasse eu a cortei.

-Judith, arruma suas malas.-gritei assustando a pré adolescente que apenas se virou emburrada saindo dali. Carol entrou na casa vindo até mim colocando sua mão nas minhas costas.

-você tem que se sentar. Não devia ter passado tanto nervoso.-a mais velha comentou tentando me conduzir para o sofá mas eu recuei assim que bateram na porta. Fui até a mesma abrindo sem receio.

-vem comigo, Collins.-pediu Mercer. Olhei para trás recebendo um olhar reconfortante de Carol. Sai do edifício encontrando minha mãe na sala de necropsia, ela está parada com um semblante triste enquanto fita meu irmão mais novo.

-isso foi um dos seus amigos, Eugene.-disse Pamela como quem não queria nada.

-sinto muito.-falei olhando para meus próprios pés.

-como você consegue ser tão fria assim com o sangue do seu sangue. Nós somos sua família.-dizia Pamela incrédula.

-eu não sei o que dizer.-assumi colocando a mão no cenho. Pamela me abraçou fortemente de surpresa caindo em lágrimas. Eu tinha me esquecido por um bom tempo como é bom ser aninhada nos braços de minha mãe, ela ainda tem o mesmo cheiro de quando eu era criança. Pamela me soltou limpando o rosto tentando se manter firme.

-vamos achar ele, e fazer ele pagar por isso.-minha mãe disse como se eu fosse concordar com isso.-o que foi, não concorda comigo.-questionou Pamela vendo meu semblante.

-Eugene é uma pessoa boa mãe.-falei calmamente não querendo que ela surtasse.

-ele matou seu irmão.-minha mãe lembrou incrédula.

-e meu irmão matou dúzias de pessoas além de ameaçar meus filhos, tudo porque você cortou o saldo bancário dele.-argumentei deixando ela mais incrédula ainda.

-essas pessoas fizeram sua cabeça. Você nos vê como se fôssemos monstros.-disse Pamela o que pensava.

-essas pessoas salvaram minha vida dezenas de vezes.-lembrei a mesma que não se importou.

-você sempre foi assim, não é. Sempre se achou superior a nos, sempre escolheu o lado oposto. Olha pra você agora, com dois filhos que nem devem ser do mesmo pai e esperando mais  uma criança. Você já sabe o nome do bebê, você não sabe nem o sexo, essas pessoas destruíram você.-dizia Pamela como se eu fosse patética.

-olha quem fala. Sebastian seria uma pessoa melhor se não tivesse uma mãe que só se importa com aparência, classe e palavras bonitas. Quer saber, eu to indo embora e vou levar seus netos comigo. Agora você tá sozinha.-disse com o semblante sereno.

-vai levar eles lá pra fora, não vão estar seguros lá.-lembrou Pamela com o cenho franzido.

-eles não são sangue do seu sangue, não precisa se preocupar.-alfinetei ela usando a mesma frase que ela disse a meses atrás.

-esse bebê é. Não posso deixar que saia desses muros.-minha mãe disse seriamente. Dei alguns passos pra trás a olhando intensamente.

-isso foi uma ameaça.-questionei. A sala estava em completo silêncio.

-foi uma ordem.-disse Pamela em voz alta olhando para trás de mim. Mercer deu um passo à frente, eu não o vi chegar.

-me acompanhe, por favor.-pediu o moreno de laranja. Eu não posso lutar contra Mercer, não assim. Apenas concordei com a cabeça sendo guiada para fora da Necropsia, ele estava bem atrás de mim enquanto passávamos por um longo corredor.

-Mercer, eu pensei que você fosse diferente da minha mãe.-comentei rancorosa.

-eu sigo ordens, Collins.-rebateu o grandão com a voz firme.

-eu quebro elas.-disse rapidamente dando uma cotovelada no estômago do soldado que gruiu se curvando para frente. Passei por Mercer correndo o mais rápido que eu podia para fora do edifício. Não demorou muito para as sirenes tocarem, eu corria o mais rápido que eu podia sendo seguida por trupes que surgiam por todas as partes atrás de mim. Corri para os muros do fundo saindo por uma grade frouxa no chão, me arrastei por ali finalmente saindo da Commonwealth, voltei a correr pelo gramado indo direto para a floresta. Caminhei pelo lugar entrando na casa de vinhos onde deixei o Walkie-talkie cair.-Daryl, tá me ouvindo.-perguntei sem ar me escorando na parede.

-Louise, onde você está.-escutei a voz do caipira. Sai da grande casa voltando para a floresta indo pra mais longe da Commonwealth.

-eu tô na floresta. Pamela tentou me prender.-falei com falta de ar.

-eu não consigo de escutar, tá dando interferência.-escutei o Dixon dizer quando simplesmente o walkie-talkie parou de funcionar. Me escorei em uma árvore ouvindo gruídos de zumbis, olhei para frente vendo apenas um. Peguei o canivete na minha bota cravando em seus miolos podres. De repente senti minhas pernas ficarem encharcadas. A bolsa estouro. Não pode piorar. Comecei a caminhar indo pra algum lugar mais seguro, eu estou com medo e sozinha. A primeira contração chegou me fazendo gritar de dor, vai ter que ser na floresta, não vou conseguir andar por mais tempo. Me sentei abaixando as calças sentindo mais uma contração. Minhas pernas estavam tremendo, assim como minhas mãos e meus lábios. Levei minha mão até minha parte íntima vendo que já estava dilatando. Fiz força apertando a terra que estava no chão enquanto tentava não gritar. Peguei o Walkie-talkie desesperada.

-Daryl, você está me escutando. Por favor diz que está me escutando.-falei sentindo as lágrimas escorrerem de meu rosto. Eu tô sozinha, eu tenho que ser forte. Coloquei a mão mais uma vez sentindo que já estava dilatado o suficiente. Respirei fundo fazendo toda a força que eu conseguia, respirei de novo e fiz mais força enquanto minha espinha e meu útero estavam latejando. Minhas mãos foram para a parte íntima e a cabeça já tinha saído, fiz força novamente e o bebê saiu mais um pouco, sem pensar duas vezes puxei ele para fora escutando seu choro ardido.

-oi, não chora eu tô aqui.-falei com a voz embargada. É uma menina. Coloquei a mesma sobre meu peito abafando seu choro e matando sua fome. Mesmo com dificuldade cortei o cordão umbilical com a boca, depois de alguns minutos ali após tirar a placenta, me levantei subindo a calça com uma mão, minha pressão está baixa e minha visão turva, eu estou cansada mas não posso parar. Depois que o mundo acabou nunca pensei que teria um filho novamente, e também nunca pensei que esse bebê nasceria depois de ter perdido um dentro do útero. Agora é uma sobrevivente, uma parte minha e do Daryl, ela vai crescer nesse mundo, vai sobreviver nele, e eu vou fazer de tudo para que isso de certo.

Sobreviver-Daryl DixonOnde histórias criam vida. Descubra agora