Clínica de Santo António, Agosto 2020.
- Avó, não sei porquê a teimosia de Rodolffo. Eu sei que estou grávida.
- Deixa de ser picuinhas, Iara. Eu quero ter a certeza de que a inseminação teve êxito. Vamos fazer novo exame e não quero mais discutir este assunto.
- Não vejo a hora de conhecer o meu bisneto ou bisneta. Que Deus me dê saúde suficiente para que isso aconteça.
Rodolffo Sassetti, engenheiro informático, cedo perdeu os pais. Foi criado pela avó Isabel que sempre o mimou e lhe fez as vontades.
Habituado a viajar por países africanos, sempre foi muito preocupado com a saúde. Habitualmente fazia exames médicos e pelo risco que corria de contrair doenças infecciosas decidiu-se pela congelação de esperma.
Numa dessas viagens acabou por contrair malária e após meses de tratamento o diagnóstico era de que jamais conseguiria conceber um filho naturalmente.
Tinha uma relação com Iara Ferreira que conheceu numa dessas viagens e já durava há cerca de 3 anos.
Iara, jovem ambiciosa, viu nesta relação um modo de ter um futuro risonho. Sem profissão, nunca estudou mais que o ensino médio, vivia à custa dos trouxas que caíam na sua teia.
Por sorte caiu nas graças da avó Isabel e hoje era esta que tudo fazia por ela graças à vontade de ter um bisneto.
Quando surgiu a hipótese de usar o esperma congelado, ela foi a primeira manifestar-se. Afinal estava ali o seu passaporte para a ascensão social.
Um dos trouxas era o seu médico obstetra que conheceu lá bem atrás quando era dançarina de cabaré. Essa parte ela sempre conseguiu esconder de Rodolffo e Ediberto, o médico, fazia chantagem com ela para conseguir alguns benefícios.
Ele chantageava-a e ela aproveitava para tirar proveito disso.
Enquanto isso...
- Juliette, o seu problema, não sendo grave requer observação permanente.
Juliette vinha sofrendo de algumas dores abdominais. Entrou na clínica e foi encaminhada para a sala de ultrassom.
Recebeu o diagnóstico de um pequeno quisto num dos ovários pelo que havia necessidade de ser retirado.
- Quando pode fazer a intervenção, doutor?
- Pode ser já amanhã. Vá para casa, prepare-se e volte amanhã pelas 7 horas da manhã.
Juliette era uma jovem de 25 anos. Formada em administração, vivia no entanto um período difícil da sua vida.
Órfã desde os vinte anos, cedo soube o que custava a vida. As economias deixadas pelos pais, depressa desapareceram com o tratamento do irmão Raul, diagnosticado com doença terminal há 4 anos.
Juliette sempre fez de tudo para que ele tivesse a melhor assistência médica, mas foi-se o dinheiro e a saúde dele só piorou.
Regressou à clínica no dia seguinte conforme combinado e pouco depois já recebia uma anestesia.
Cerca de duas horas depois foi liberada para voltar a casa e regressar na semana seguinte para nova avaliação.
Na saída encontrou-se com Iara, que logo encetou conversa. Conversaram um pouco e depois que Iara foi chamada, Juliette regressou a casa.

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Permita-se Amar
Fiksi Penggemar...e pela rua, lado a lado, somos muito mais que dois (M. Benedetti)