Capítulo 68 - Outra Casa.

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Aurora narrando:

Coincidentemente, encontrei alguns dos brinquedos da Mavie embaixo da cama, que talvez ela tenha esquecido de guardar ou que a Celestia tenha deixado lá. Com cuidado para não fazer barulho, arrumei-os e os coloquei no baú da cama, além de alguns livros de histórias na prateleira. Em seguida, liguei o abajur, que projetava luzes em formato de estrelas e luas.

Assisti-a dormir por mais um tempo, desejando que ela reaja bem no dia seguinte, e que encare a nova realidade com o mesmo conforto que encontra aqui.

Com a fome chegando, desço pelo elevador e encontro a sala envolta em silêncio, como de costume, mas desta vez com um toque de mistério na penumbra. Navego pelos corredores até chegar à sala de jantar, onde normalmente Amélia estaria.

Ao entrar, sou surpreendida pela mesa elegantemente decorada. Velas pequenas aromatizadas iluminam delicadamente o ambiente, lançando um suave aroma no ar. Duas taças reluzentes aguardam pacientemente ao lado de duas garrafas; uma de champanhe, outra de vinho.

Enquanto pires brancos em forma de coração seguram trufas de chocolate, morangos e uvas verdes. Pétalas de rosas vermelhas adornam a mesa, com intensão sucessiva de deixar a áurea mais romântica.
Mas o que mais me surpreende é o Ethan, do outro lado da mesa, ocupado em ajustar os últimos detalhes, até que seus olhos se encontram com os meus ao me ver entrar, revelando uma expressão tensa e séria.

- Oi. - Ethan murmura.

- O que é isso? - Minha voz soa incrédula, incapaz de ocultar minha surpresa. Ethan, arrumando uma mesa de jantar? E com toda essa decoração romântica?
Sobre seus trajes sociais, percebo um avental preto, uma imagem que acho graça internamente.
Uma mistura de surpresa e desconforto se instala enquanto tento desvendar o que ele dirá à respeito disso.

- Eu... - Ethan gagueja
- Preparei um jantar para nós dois. - Finalmente acrescenta, movendo nervosamente as mãos para trás. Seu semblante denota nervosismo e hesitação à minha reação.
- Para que possamos conversar, sobre qualquer coisa, e apenas fazer companhia um ao outro. - Conclui, engolindo em seco.

- Você? - Eu replico sarcasticamente.
- Você fez um jantar? - Repito, cética.
- Não deveriam ser as cozinheiras? E essa decoração, não foi você que fez. - Comento, observando a mesa meticulosamente arrumada.

Ethan solta um sorriso esperançoso e responde:
- Fui eu. Amélia me ajudou, é verdade, mas participei ativamente.

Meus olhos retornam à mesa, notando algo que antes tinha passado despercebido: um porta-retratos de vidro, exibindo a foto que tiramos com Mavie em seu aniversário, na poltrona da sala.

- Se preferir não ficar, eu entendo. - Ethan murmura nervoso.
- Não quebre os pratos. - Ele acrescenta com um humor ácido, referindo-se às flores que, por raiva, eu estraguei.

- É bom que você saiba que não vou ficar. - Respondo friamente.
- É um gesto bonito, mas não apaga o que você disse para mim, nem o que fez. - Concluo, firme.

Ethan aperta os lábios, mantendo as mãos atrás das costas. Ele balança a cabeça em sinal de compreensão e desvia o olhar para o teto, como se buscasse controlar suas emoções frágeis. Virando-me, caminho em direção ao elevador, deixando-o para trás.

Enquanto fecho as cortinas da janela, despeço-me silenciosamente da linda visão do bosque lá fora, como se estivesse fechando um capítulo da minha vida, dificilmente voltarei aqui de novo.
Sento-me na beira da cama e solto um suspiro audível, tentando aliviar o aperto do meu peito.

Uma voz suave dentro de mim sussurra, trazendo à tona lembranças dos momentos únicos que compartilhamos. Apesar das mágoas, ainda há uma parte de mim que o ama, um sentimento que é perceptível para qualquer um que olhe nos meus olhos.

Um DescasoOnde histórias criam vida. Descubra agora