Capítulo 4

332 69 8
                                    


Olho para o vestido elegante de cor sóbria sobre a cama. Eu nem gosto dessa cor, mas se não o usar, terei problemas. Abraçando meu próprio corpo, olho aflita para o vestido.

Até que o João Alberto tem um ótimo gosto, penso comigo mesma.

Quando a porta do quarto se abre, um arrepio atravessa minha coluna enquanto meu coração se contrai.

— Érica, você ainda está assim?

Forço um sorriso e me viro para ele.

— Eu estava me maquiando, só falta me vestir.

João dá um passo à frente e, com cara emburrada, analisa o meu rosto. Então, solta um palavrão.

— Esse batom está muito vermelho, você parece uma puta! Vá arrumar isso de uma vez, eu não quero os amigos do meu pai pensando que sou um corno idiota, que tenho uma esposa vadia!

Eu aceno, sem vacilar em meu sorriso.

— É claro. Eu havia pensado em passar outro batom, mas como não queria me atrasar, decidi colocar o vestido de uma vez.

Ele me olha com cara de nojo.

— Faça logo isso! — esbraveja e anda até o seu armário.

Eu não penso duas vezes e coloco o vestido. Em seguida, vou ao banheiro. Com um lenço, retiro o batom vermelho e passo outro, mais claro. Sinto que meus olhos se enchem de lágrimas, mas consigo me controlar. Eu não quero criar problemas e deixar o meu marido nervoso, afinal, ele anda muito sobrecarregado na empresa do papai. Além das cobranças em cima dele por conta do cargo político de meu sogro.

Devo compreender e lembrar que João Alberto só quer o nosso bem. O nosso casamento é muito importante para ele, e como minha mãe disse, é meu dever apoiar o meu marido e relevar algumas coisas, pois faz parte.

Volto para o quarto arrumada. Ele ajeita seu relógio e me observa dos pés à cabeça. Parecendo satisfeito, acena.

— Agora sim, bem melhor! — João se aproxima, e meu instinto é dar um passo para trás, mas quando percebo seu olhar estreito, eu me mantenho no lugar. Sua mão se ergue e segura o meu queixo com força, mas não a ponto de deixar marcas. — Lembre-se de só falar o necessário. Sem espalhar sorrisos para os homens. Comporte-se como uma dama, ou já sabe o que acontecerá, entendido?

Oprimida, eu aceno.

— Sim, você não vai se decepcionar — murmuro.

Ele dá uma risada macabra, e o medo que me domina se intensifica.

— Você já é uma decepção, Érica. Não foi à toa que seu pai quis se livrar de você. Eu fiz um péssimo negócio, mas... fazer o quê? Agora, sou obrigado a tolerá-la.

— Você não é obrigado a nada, João — respondo com voz trêmula.

Seu rosto se contorce, e eu me apavoro. Preciso me lembrar de não o enfrentar, porém, suas ofensas machucam. Elas machucam muito mais que o peso de sua mão quando me agride.

— Cale-se! — grita, fazendo meu corpo estremecer. — Esqueceu que você não tem o direito de falar, a não ser que eu mande? Comporte-se, sua miserável! Ou deixarei de ser bonzinho e, além de a devolver para a sua família, destruirei a todos, começando por aquele seu irmão metido que se acha o dono da justiça! Você sabe que eu tenho muitos contatos. A sua família até pode ter dinheiro, mas eu tenho influência. Com um telefonema, eu levo o nome Matarazzo para o fundo do poço! — ameaça.

Destinados a Amar NovamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora