Tudo o que eu queria neste momento era estar em casa, e não tendo de representar. A minha cabeça dói, mas para o meu marido, estou apenas de frescura.
João para o carro em frente ao restaurante onde terá um jantar de negócios. Normalmente, eu não venho a esses jantares, mas o homem com quem ele quer fechar negócio estará acompanhado da esposa. Não fosse o fato desse mesmo homem conhecer a minha família, em especial o meu pai, João não faria questão da minha presença. Como não é o caso, aqui estou eu.
O valet abre sua porta e João sai, ao mesmo tempo que outro funcionário me ajuda a descer do carro.
— Senhora! Tenha uma boa noite — cumprimenta de modo educado.
Eu sorrio para ele, afinal, o homem não tem culpa dos meus problemas.
— Muito obrigada — respondo.
João pega meu braço e o entrelaça ao seu. O meu primeiro impulso é me afastar, mas me corrijo a tempo, embora seja torturante para mim o seu toque, mesmo que superficial.
— Da próxima vez, não seja tão oferecida para um empregado morto de fome — cochicha em meu ouvido.
Eu decido não responder, pois de nada adiantaria.
Uma jovem, negra e muito bonita, recebe-nos com um sorriso.
— Senhor, senhora, sejam bem-vindos!
João sequer agradece a moça. Com sua postura altiva, ele a olha com certo desprezo.
— Tenho uma mesa reservada em nome de João Torres — diz.
A moça olha para o tablet, e após alguns comandos, volta a nos olhar.
— Sim. Por favor, me sigam. Os convidados dos senhores os aguardam — avisa e se vira.
— Um restaurante deste nível... contratando qualquer tipo de gente. É por isso que o Brasil não vai para frente.
Suas palavras odiosas e preconceituosas me fazem sentir nojo. Como esse homem pode ser tão mau? E como meu pai não enxerga isso?
— Por favor, pare de falar assim — sussurro, indignada.
João aproxima a boca do meu ouvido, e sinto repulsão ao sentir seu hálito.
— Cale a porra da boca, eu não a mandei falar nada, sua puta! Já basta ter de suportar a sua presença a noite toda, não me faça suportar a sua voz.
A jovem, sem perceber as ofensas de João, para em frente à mesa em que se encontram Jonas Albuquerque e sua esposa. Ela nos oferece um sorriso, mas eu não consigo sorrir de volta.
Já sei que terei um jantar infernal. Até quando suportarei isso?
Dias atuais...
Lucien estaciona no meio-fio. Assim que sai do carro, ele dá a volta e abre a minha porta, mostrando o seu cavalheirismo de sempre. Seguimos até o outro lado da rua de mãos dadas. O restaurante Les Ombres me traz ótimas recordações, pois foi onde trocamos o nosso primeiro beijo, que aconteceu dentro do elevador enquanto subíamos para o nosso jantar.
Entramos no lindo jardim do Musée du Quai Branly, um dos acessos ao restaurante, e seguimos até o local onde ficam os elevadores, que nos conduz cinco andares acima, passando pelo museu. Ao entrar no restaurante, o impacto e o frio na barriga de emoção me dão a sensação de que é a primeira vez que estou aqui.

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Destinados a Amar Novamente
RomansaÉrica sempre foi a personificação da elegância e da etiqueta, uma jovem criada na alta sociedade, onde sua vida era ditada pelas vontades dos pais, inclusive, a escolha de seu marido. Porém, por trás da fachada impecável, escondia-se uma realidade s...