Capítulo 14

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Estou muito preocupado com a Érica, pois ela, muito de repente, ficou ansiosa e com o semblante triste.

Meu coração bate forte, tenho a sensação ruim de que eu não vou gostar de ouvir o que ela tem para me contar, pois é nítida a sua angústia.

A nossa curta viagem é feita em silêncio, e assim que eu abro a porta do meu apartamento, Érica me olha com curiosidade.

— Você se mudou — aponta.

Eu sorrio e olho em torno.

— Sim. Este apartamento era dos meus pais e estava em reforma. Como meu pai e minha madrasta decidiram sair de Paris, ele achou justo passar o apartamento para mim de uma vez — conto.

Érica atravessa a sala, para de frente para a janela e segura a cortina, então me olha.

— Posso?

Eu sorrio e percebo como a sua presença me deixa feliz.

— Fique à vontade — digo e me aproximo.

Ela abre a cortina, e eu reparo em sua expressão maravilhada.

— Seu apartamento tem uma vista linda para a Torre Eiffel!

— Sim. Minha mãe adorava ficar nesta janela. Eu tenho uma vaga lembrança dela, bem aqui, com uma xícara de café na mão e admirando a Torre — conto, com um sentimento agridoce.

Érica me olha e sorri.

— Eu a entendo, não tem como não se encantar — sussurra.

Eu a olho e acaricio o seu rosto.

— Você aceita um vinho?

— Sim, aceito, obrigada.

Respiro fundo e me afasto. No bar, do outro da sala, eu sirvo duas taças de vinho. Quando retorno, Érica está sentada, com as mãos unidas sobre o colo e o olhar baixo.

— Aqui está — ofereço a taça a ela, sentando-me numa cadeira em frente.

Érica bebe um pouco do vinho e coloca a taça sobre a mesa de centro.

— Sabe a mulher do cachorrinho? — pergunta, ainda olhando para baixo.

— Sim. Você a conhece?

Desconfio que sim, pois foi depois de esbarrar com a mulher que Érica mudou seu comportamento.

— Eu não a conheço, mas quando olhei para ela, foi como se eu enxergasse a mim mesma.

Bebo meu vinho e, como ela, coloco a taça sobre a mesa.

— Eu não entendi — admito.

Érica passa a língua entre os lábios.

— Você notou que ela tinha um ferimento na testa?

Busco pela imagem da mulher na mente, então me lembro de ter visto algo em sua testa, mas que era escondida pelos cabelos.

— Sim, ela deve ter batido em algum lugar, por isso ficou aquela marca.

Seus lábios tremem, e eu fico receoso, pois sinto no peito um medo esmagador.

— Sim, essa era a minha desculpa quando alguém via meus hematomas — sussurra.

Engulo em seco.

— Érica... por que você tinha hematomas?

Ela me olha com olhos amargurados e cheios de lágrimas. A sua tristeza me atinge em cheio.

Destinados a Amar NovamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora