Capítulo 09

324 58 2
                                    


Desço as escadarias de casa bem devagar, tomando cuidado para que os empregados não vejam que estou mancando. Chego à sala de jantar e vejo que a mesa do café da manhã está posta. Para minha tristeza, João Alberto está sentado à cabeceira, com uma xícara de café em uma mão e olhando para o seu tablet, na outra.

Se eu soubesse que ele ainda está por aqui, eu não teria descido, mas agora é tarde, pois, ao erguer a cabeça, ele percebe a minha presença.

Seu olhar frio me observa dos pés à cabeça.

— Por favor, Érica, melhore essa cara. Você é mesmo uma ingrata, eu te dou do bom e do melhor, é uma dondoca, e ainda anda pela casa com essa expressão de desgosto — ataca, zangado.

Eu me aproximo e me sento à mesa. Eu não tenho um pingo de fome, mas se eu me levantar para sair, não será nada bom.

— Estou com uma leve dor de cabeça — respondo.

Marli, uma das funcionárias, aproxima-se de mim.

— Deseja que eu aqueça o seu café, senhora? — Eu olho para ela e sorrio. Marli não diz nada, mas eu tenho certeza de que ela sabe o que acontece nesta casa.

— Ninguém a chamou aqui! Será que não se faz mais empregados como antigamente? — esbraveja João, muito raivoso.

Marli suspira, e eu apenas nego com um gesto sutil. Ela me olha com pesar e se retira.

— Não precisa tratar os nossos funcionários dessa maneira, João. Ela só está fazendo o seu trabalho — contesto.

Ele bate na mesa com força, assustando-me.

— Primeiro de tudo: são meus empregados, não seus! Não é você que os paga! Segundo: eu os trato do jeito que eu quiser!

Eu respiro fundo e coloco um pouco de café em minha xícara.

— Senhor, desculpe-me interromper, mas a sua assistente se encontra aqui — informa outra funcionária, entrando na sala.

João acena.

— O que está esperando? Mande-a entrar! E prepare um lugar à mesa, ela tomará café conosco — ordena.

Procuro não esboçar nenhuma reação. Eu não sei por que João insiste neste casamento... Eu não sou idiota, sei do seu caso com a assistente. E os dois combinam muito bem, pois são duas pessoas cruéis.

Seus passos são ouvidos. Eu não olho para a frente, apenas bebo o meu café e como um biscoito.

— Bom dia, João! Muito obrigada pelo convite — fala e se senta de frente para mim. Eu noto a funcionária arrumando o seu lugar. Assim como o infeliz do meu marido, a fulana é incapaz de agradecer; em vez disso, prefere soltar o seu veneno: — Senhora Torres? Está se sentindo bem? Está muito pálida!

Aperto o guardanapo discretamente e olho para a frente. Valesca sorri com falsidade. Para uma assistente, está muito maquiada, e seu decote mostra além do necessário. Seu cabelo loiro de farmácia está muito bem arrumado, preso num coque no alto da cabeça.

Dispenso a ela um sorriso tão falso quanto o dela.

— Eu não sei se a senhorita sabe, mas quando me casei com o seu chefe, optei por não assumir o seu sobrenome, logo, deve me chamar de senhora Matarazzo. — Ao meu lado, sinto em minhas entranhas que João não gostou da minha resposta, e sei que haverá retaliação. Mas ele não fará nada na frente de sua assistente, suas ameaças e agressões acontecem apenas quando estamos a sós.

Destinados a Amar NovamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora