Olho para a tela do notebook com lágrimas nos olhos.
— Este é o momento da despedida, finalmente eu te dou alta, Érica. Eu tenho muito orgulho de você por ter vencido os seus medos — Anna, a minha psicóloga, avalia com um sorriso. — E quero que você me avise quando vier ao Brasil com o seu projeto.
— Com certeza avisarei. E quem sabe você não dê uma palestra? — sugiro, e ela ri.
— Terei o maior prazer em ajudar, Érica.
Eu olho para o lado, e através da janela vejo a Torre Eiffel. Sinto-me feliz e ao mesmo tempo melancólica. Lucien foi para uma cafeteria para me deixar à vontade em minha consulta, mal sabe ele que é a última.
Volto a olhar para a Anna.
— A primeira vez que me consultei com você, eu pensei que não adiantaria nada, mas você me ajudou tanto, Anna! Eu nem tenho palavras para agradecer.
— Érica, eu auxilio, sugiro alguns caminhos a tomar, mas a cura vem de você mesma. A resposta para tudo está dentro de nós, e para vencermos qualquer obstáculo, temos que querer vencer, além de acreditar. E você verdadeiramente quis — declara.
Eu rio, entre lágrimas.
— Sim, e vou ajudar outras mulheres a quererem também. O Lucien está me apoiando muito, e depois do nascimento no nosso filho, o documentário "Silenciadas" não será mais apenas um projeto.
— E não se esqueça de me avisar quando estiver tudo pronto e disponível — pede. Ela olha para cima de sua mesa. — Minha querida, tenho que atender outro paciente daqui a alguns minutos — avisa com seu sorriso sereno. — Sentirei sua falta.
— Eu também, pois me acostumei a falar com você — confesso.
— Mas agora você tem o seu noivo. E um filho, que em alguns meses tomará bastante do seu tempo.
— Eu não vejo a hora — declaro.
Nós trocamos mais algumas palavras e logo nos desconectamos. Eu nem acredito, jamais pensei que teria alta.
Caminho até o sofá e me sento. Um alívio misturado à felicidade irradia de dentro de mim. Eu tenho ciência de que algumas lembranças ruins podem retornar, mas como disse a Anna, eu consigo lidar bem com esse assunto sem pirar. Acredito que eu tenha resolvido as minhas questões, mas o que determinou para que eu recebesse alta foi a conversa que tive com meus pais.
Isso foi há duas semanas, quando eles apareceram de surpresa após descobrirem as barbaridades de João Alberto, que já estava morto e enterrado.
No dia seguinte à chegada dos meus pais, Lucien precisou comparecer a uma reunião de negócios, e eu almocei com os dois aqui no apartamento. Minha mãe estava aflita...
— Eu me sinto péssima, Érica. Como eu pude cometer um erro desses com a minha família? Eu a incentivei a se casar com um monstro, eu nunca deveria ter feito isso — desabafa.
Olho para ela, sentada ao lado de meu pai, que mal me encara.
— Vocês não sabiam quem era o verdadeiro João. No início, até eu o achei um homem gentil — acentuo.
Minha mãe me encara com olhos sofridos.
— Nós erramos, e esse erro quase nos fez perder outro filho — lamenta e começa a chorar, com meu pai a consolando.
Quando Afonso, meu irmão mais velho, morreu, ainda jovem, por envolvimento com drogas, a minha família praticamente se desfez. Meus pais entraram no mundo perfeito deles, lidando com o sofrimento procurando esquecer esse trágico episódio e não deixando que ninguém descobrisse.
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Destinados a Amar Novamente
RomanceÉrica sempre foi a personificação da elegância e da etiqueta, uma jovem criada na alta sociedade, onde sua vida era ditada pelas vontades dos pais, inclusive, a escolha de seu marido. Porém, por trás da fachada impecável, escondia-se uma realidade s...