Capítulo 32

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Olho para a tela do notebook com lágrimas nos olhos.

— Este é o momento da despedida, finalmente eu te dou alta, Érica. Eu tenho muito orgulho de você por ter vencido os seus medos — Anna, a minha psicóloga, avalia com um sorriso. — E quero que você me avise quando vier ao Brasil com o seu projeto.

— Com certeza avisarei. E quem sabe você não dê uma palestra? — sugiro, e ela ri.

— Terei o maior prazer em ajudar, Érica.

Eu olho para o lado, e através da janela vejo a Torre Eiffel. Sinto-me feliz e ao mesmo tempo melancólica. Lucien foi para uma cafeteria para me deixar à vontade em minha consulta, mal sabe ele que é a última.

Volto a olhar para a Anna.

— A primeira vez que me consultei com você, eu pensei que não adiantaria nada, mas você me ajudou tanto, Anna! Eu nem tenho palavras para agradecer.

— Érica, eu auxilio, sugiro alguns caminhos a tomar, mas a cura vem de você mesma. A resposta para tudo está dentro de nós, e para vencermos qualquer obstáculo, temos que querer vencer, além de acreditar. E você verdadeiramente quis — declara.

Eu rio, entre lágrimas.

— Sim, e vou ajudar outras mulheres a quererem também. O Lucien está me apoiando muito, e depois do nascimento no nosso filho, o documentário "Silenciadas" não será mais apenas um projeto.

— E não se esqueça de me avisar quando estiver tudo pronto e disponível — pede. Ela olha para cima de sua mesa. — Minha querida, tenho que atender outro paciente daqui a alguns minutos — avisa com seu sorriso sereno. — Sentirei sua falta.

— Eu também, pois me acostumei a falar com você — confesso.

— Mas agora você tem o seu noivo. E um filho, que em alguns meses tomará bastante do seu tempo.

— Eu não vejo a hora — declaro.

Nós trocamos mais algumas palavras e logo nos desconectamos. Eu nem acredito, jamais pensei que teria alta.

Caminho até o sofá e me sento. Um alívio misturado à felicidade irradia de dentro de mim. Eu tenho ciência de que algumas lembranças ruins podem retornar, mas como disse a Anna, eu consigo lidar bem com esse assunto sem pirar. Acredito que eu tenha resolvido as minhas questões, mas o que determinou para que eu recebesse alta foi a conversa que tive com meus pais.

Isso foi há duas semanas, quando eles apareceram de surpresa após descobrirem as barbaridades de João Alberto, que já estava morto e enterrado.

No dia seguinte à chegada dos meus pais, Lucien precisou comparecer a uma reunião de negócios, e eu almocei com os dois aqui no apartamento. Minha mãe estava aflita...

— Eu me sinto péssima, Érica. Como eu pude cometer um erro desses com a minha família? Eu a incentivei a se casar com um monstro, eu nunca deveria ter feito isso — desabafa.

Olho para ela, sentada ao lado de meu pai, que mal me encara.

— Vocês não sabiam quem era o verdadeiro João. No início, até eu o achei um homem gentil — acentuo.

Minha mãe me encara com olhos sofridos.

— Nós erramos, e esse erro quase nos fez perder outro filho — lamenta e começa a chorar, com meu pai a consolando.

Quando Afonso, meu irmão mais velho, morreu, ainda jovem, por envolvimento com drogas, a minha família praticamente se desfez. Meus pais entraram no mundo perfeito deles, lidando com o sofrimento procurando esquecer esse trágico episódio e não deixando que ninguém descobrisse.

Destinados a Amar NovamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora