Capítulo 5

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"Eu não tenho certeza se
eu consigo
Ver isso parando algum dia"
Doubt, Twenty One Pilots

Eu estava tão perdido em meus pensamentos. Perdido ao ponto de pensar em como trabalhar com o principezinho ocupou a minha cabeça por um tempo, me deixando estático enquanto encarava a minha câmera.
Meu dia começou péssimo, nada fora do normal. Porém eu sabia que tudo ficaria pior, eu esperava que ficasse pior. É a única maneira que aprendi a ver o mundo e as pessoas, esperando o pior delas se mostrar para mim. Eu sei que fazer isso é estupidez, mas isso já se tornou um hábito e, talvez, uma habilidade minha.

Hoje seria a minha primeira sessão de terapia em meses e estou muito nervoso - e irritado. Meu psicólogo me obriga a contar tudo para ele. Sei que é o trabalho dele, mas eu não consigo expressar corretamente o que sinto. Porém, de alguma forma, ele compreende o que eu digo sem precisar explicar mais nada.
Minha linha de pensamento foi suspendida quando uma voz familiar me chamou do outro lado da porta, a voz pertencia ao senhor O'Brien. Saí e o cumprimentei como de costume. Ele tinha um sorriso no rosto e um papel em mãos.
Quando perguntei o que estava escrito no papel, a resposta foi instantânea.

—É um contrato!— sorriu —E ele é para você, Rodrigues— peguei o papel e comecei a ler.

Em poucas palavras, o contrato estava se referindo a como o principezinho gostou de trabalhar comigo e como ele adoraria continuar trabalhando comigo. O contrato era basicamente o mesmo que eu tinha com a empresa, as únicas diferenças eram, eu estaria "exposto" a mídia — adeus para a pouca paz que me restava. E a outra coisa era o quanto eu ganharia. A única coisa que posso dizer é que a quantidade de dinheiro era absurda, ao menos para mim era.

De longe pude ver Erick me espionando enquanto conversava com o pai dele. Sem perceber, eu comecei a encarar Erick com uma expressão irritada. Quando me dei conta disso, sacudi a cabeça na tentativa de parar de pensar nele e apenas caminhei até ele para que pudéssemos conversar sobre... o contrato.

—Por que eu?— eu segurava o papel enquanto terminava de ler.

Erick suspirou ao ver o meu descontentamento e respondeu.

—O seu trabalho foi o que mais me impressionou— um sorriso gengival surgiu —Mesmo eu já sabendo como era o seu trabalho...

—Eu sou obrigado a assinar isso?

—Claro que não! Você pode escolher recusar, se quiser...

A voz que estava animada no começo da frase, brevemente ficou trêmula e nervosa. Ele não queria que eu recusasse o contrato e eu confesso que vontade não me faltava, mas algo me chamou a atenção. O dinheiro. Não pense que eu sou interesseiro, porque eu não sou. Mas eu preciso muito de dinheiro ou, eventualmente, eu posso estar a sete palmos abaixo da terra.
Virei e revirei os meus pensamentos, assim como o papel. Por fim peguei uma caneta que sempre carrego comigo e assinei o contrato. Pelo canto do meu olho consegui ver que Erick estava surpreso.

Perguntei o que ele usou como avaliação para me escolher, ele respondeu com um sorriso que foi a maneira como eu consegui fotografar ele sem precisar editar as fotos, e a facilidade que eu tive ao usar a luz natural, deixando as fotos mais bonitas. Eu pensei que todo fotógrafo fosse capaz de fazer isso, parece que me enganei.
Essa decisão que acabei de fazer pode causar um arrependimento mais tarde. E sei que vai demorar muito para eu me acostumar a olhar para o rosto dele todo dia. O dia inteiro.

Ansiosamente olhei o telefone que estava em cima da mesa diversas vezes, eu queria que as horas passassem rápido. Mas elas se arrastavam mais do que eu quando me levanto da cama. Tentei ao máximo regular a minha respiração, não posso ter um ataque de ansiedade agora. E não aqui.
Pensei em como seria bom ver Edward novamente, faziam algumas semanas que não nos víamos pessoalmente. E essa cidade é uma merda sem ele aqui.
Em poucos minutos consegui me acalmar, mas agora estava preocupado com o que Edward pensava de mim agora.

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