Capítulo 14

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"Paro de respirar
Se eu não te ver nunca mais"
Far away, Nickelback

Meu pai foi me buscar na porta da minha casa, ele disse que alguém que conhecia o Félix queria conversar comigo, não esperava que a conversa fosse ser de tamanha importância. Mas a pessoa que queria conversar comigo era o psicólogo dele, o Edward.
A conversa foi calma porém longa. Ele pediu para que eu cuidasse do Félix, para mim o pedido dele soou mais como uma súplica - ele parecia gostar muito do paciente dele.

Como sou um homem de palavra, prometi que cuidaria dele com tudo que estivesse ao meu alcance. O rosto dele era pálido, as únicas partes que davam uma amenizada na palidez dele era as bochechas que eram levemente rosadas e as olheiras escuras.
Edward se despediu e foi embora, suponho que um psicólogo tenha um dia muito ocupado e turbulento.
Passei alguns minutos com o meu pai dentro do escritório dele. Eu me perdi completamente nos meus pensamentos, eu estava tentando criar um plano de como cuidar dele sem morrer primeiro.
Abri a porta do escritório do meu pai e logo percebi que o Félix estava sentado no sofá da entrada. A cabeça dele estava baixa e as mãos dele estavam vermelhas.

Balancei minha cabeça ao perceber que estava olhando demais para ele, com aquele rosto é impossível não olhar. Meus pensamentos estavam recheados com o rosto do Félix, pensar nele virou um maldito hábito meu.

Andei até ficar próximo o suficiente para que o Félix pudesse escutar a minha voz. Pensei que ele estivesse me ignorando, mas a voz baixa e mansa dele me deixaram em alerta. Logo pensei em perguntar o que aconteceu, mas percebi que ele estava escondendo o rosto mais do que o normal, me sentei ao lado dele e esperei que ele olhasse para a minha direção.
Levantei minha mão para encostar nele, mas ele recuou antes que as pontas dos meus dedos pudessem chegar perto. Eu já estava acostumado com ele evitando o meu toque e se aproximar de mim, mas isso era... diferente.

-Félix?- o chamei -Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa?- a voz baixa dele disse alguma coisa, mas não consegui entender -O que você disse?

-Eu disse que não aconteceu nada!- a expressão hostil no rosto dele logo se transformou em uma expressão de pânico. Ele abaixou a cabeça rapidamente enquanto apertava seus punhos sobre as coxas.

-Olha pra mim.

-Me deixa em paz...

Suspirei e cuidadosamente levantei o rosto dele.
No lábio inferior tinha um corte médio, um olho dele estava roxo entre outros cortes espalhados entre a testa e as bochechas, principalmente na área em que as sardas dele ficam.
Quando olhei para as mãos dele, meu olhar assustado foi para uma expressão, de certa forma, preocupada. Algumas áreas das mãos dele pareciam estar queimadas, e mais precisamente com cigarro. Sem querer esbarrei em uma das queimaduras da mão do Félix e escutei um gemido de dor tão baixo que pensei que estava maluco.

Félix em momento algum disse nenhuma palavra, o silêncio dele me deixava mais preocupado que o estado físico dele, me perguntei se deveria contar ao psicólogo dele ou se deveria ficar quieto - afinal, o assunto não me envolvia. Mas eu não posso deixar o Félix desse jeito.

Félix cerrava os lábios dele com força e depois os deixava relaxados, a respiração dele também estava pesada. Dei um sorriso pequeno para tentar disfarçar a minha preocupação com uma mistura de pânico.
Os olhos de cor amarelada e brilhantes dele pareciam ter perdido todo o resto de vida deles, eu tinha certeza de que ele estava me implorando para não contar a ninguém o que eu estava vendo. E quem faria isso?
Peguei meu telefone e fiquei observando a tela acesa até que ela se apagasse. Guardei o telefone e apontei para o meu carro, não posso deixar que ele volte para casa desse jeito.

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