Capítulo 15

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Não sei o que sou, e
não sei porquê sou.
Apenas aprendi a aceitar
que serei isto pelo resto da vida

Diário do Félix.

Estranhamente hoje acordei com uma confiança que não é normal para mim, tomei um banho rápido e saí correndo para a empresa. Fiquei sentado no sofá da recepção enquanto olhava para as cicatrizes de queimaduras nas minhas mãos, faziam duas semanas desde o ocorrido e o meu tempo estava quase acabando.
Apertei os meus dedos enquanto escutava os estalos que vinham deles, fechei meus olhos e respirei fundo. Eu não estava nervoso, apenas preocupado.
Erick chegou com um atraso de alguns minutos e em silêncio entramos no carro.

Minhas mãos estavam geladas. Erick brevemente olhou para as minhas mãos e começou a falar, a voz dele fez com que todo o “pânico” que eu estava sentindo fosse embora.
Coloquei minha mão sobre meu peitoral  e meus batimentos cardíacos pareciam estar normais, mas ainda tinha alguma coisa que estava me incomodando nessa situação toda.

Sempre quando alguma coisa que eu não gostava acontecia, eu arranhava a área que as minhas sardas ficam. Esse maldito hábito já me fez ir para o hospital.

—Não faça isso— Erick usava a mão esquerda dele para dirigir e a outra para impedir que eu machucasse o meu rosto.

—Me solta...

—Vou soltar você assim que você parar de se machucar!

Um sorriso de canto misturado com ranger de dentes surgiu no meu rosto.

—Então você vai segurar a minha mão para sempre— seria impossível conseguir fazer ele soltar a minha mão.

—Se segurar sua mão pra sempre significa que você vai ficar bem, não vejo porque não.

O carro do Erick parou em frente de um orfanato. A estrutura era antiga e estranhamente confortante, agarrei minha câmera com força e desviei o olhar do local, Erick ficou parado me olhando.
Lentamente saí do carro, segui Erick para quase todos os lugares que ele foi, eu me sentia como um cachorro perdido.
Mesmo não olhando para nada além das costas do Erick, eu percebia os olhares que as pessoas e as crianças do orfanato estavam me dando.
Erick me apresentou as todos os funcionários do lugar e eu o odeio por isso, toda confiança que eu estava sentindo hoje de manhã foi embora.

Procurei um lugar quieto e sem ninguém e me sentei, eu precisava ficar sozinho por um momento e ver as crianças apontando para mim e sorrindo não estava ajudando em nada, fiquei olhando para a minha câmera até que Erick me encontrou.
Todas aquelas lembranças estavam voltando e passando como um flash na minha cabeça, eu odiava quando isso acontecia mas eu não conseguia evitar.

Erick segurava duas crianças e cerca de mais sete crianças estavam seguindo ele. Uma delas tentou me abraçar mas por alguma razão eu senti medo e me afastei antes que o abraço acontecesse. Mas em troca ofereci um aperto de mão. A mãozinha pequena da criança logo apertou a minha e assim ela permaneceu até, repentinamente, ela dizer “oi” e ir embora.
Erick soltou as crianças e pediu para que elas brincassem enquanto esperavam por ele.

—Por um momento pensei que você tinha voltado para a sua casa— Erick se sentou na poltrona preta que estava do meu lado —Você não gosta de crianças?

—Não quando estão perto de mim— respondi.

Erick gargalhou e me deu um olhar compreensivo.
Depois de alguns minutos enrolando para explicar o que estávamos fazendo em um orfanato, Erick finalmente disse que queria que eu fotografasse as crianças para que o orfanato tivesse uma foto das crianças na parede de entrada. Eu nunca trabalhei com crianças e não estava nem um pouco nervoso, eu poderia usar a energia deles ao meu favor se quisesse.

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