Tudo fica melhor sob as estrelas

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Só me lembro de ter acordado no carpete, morrendo de frio no escuro — devia ser três da madrugada, talvez quatro — com um gosto esquisito na boca, como algum produto que usaríamos na aula de química, com tudo morto ao meu redor, com a poeira flutuando no ar, sem Amity e Hunter.

Precisava muito fazer xixi, por isso deixei o monte de cobertores e saí da sala em direção ao banheiro, mas parei no instante em que ouvi vozes vindas da cozinha.

Eles não me viram na porta porque estava quase totalmente escuro. Mal conseguia vê-los também — eram só manchas iluminadas precariamente pelo luar —, mas não precisava. Estavam sentados à mesa de jantar, Amity encostando a cabeça no braço, Hunter apoiando o queixo em uma das mãos, um olhando para o outro.

Eles demoraram para falar.

— É, mas não tem a ver com o que as pessoas querem ou não — disse Amity. — Não tem a ver com ninguém, não me importo mesmo com o que os outros vão pensar.

— Está claro que você tem me evitado — disse Hunter. — Mal nos vimos durante todo o verão.

— Você... você andou ocupado. Estava trabalhando...

— Estava, mas eu conseguiria tempo para você se você quisesse. Mas parece que você não quer.

— Quero, sim!

— Então pode me dizer o que está acontecendo? — Hunter parecia incomodado.

A voz de Amity ficou mais baixa.

— Não tem nada acontecendo.

— Sempre tem algo acontecendo. — Hunter ergueu a mão e tocou o braço de Amity — Você sabe que qualquer coisa que acontecer, pode falar comigo. Eu entendo você.

Eles se olharam por alguns segundos sem trocar uma palavra, apenas olhares.

Acho que foi quando eu percebi o que estava acontecendo. Não sei o que senti. Talvez tenha me sentido meio solitária.

Hunter levantou a cabeça e os braços. Amity se acomodou neles e encostou a cabeça no peito dele, que a abraçou com força, passando a mão lentamente pelas costas de Amity. Quando eles terminaram de se abraçar, Amity ficou ali. Hunter levantou uma das mãos, passou os dedos pelos cabelos dela e disse:

— Você precisa cortar o cabelo.

Então Hunter se inclinou. E eu me virei. Não precisava ver mais nada. Já tinha entendido tudo.

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Acordei um pouco depois no tapete, congelando de frio no escuro, e Amity respirava como se fosse um astronauta sem oxigênio, sentada ao meu lado com a cabeça inclinada para a frente e o rosto totalmente coberto pelas mãos. Hunter não estava ali. Amity continuou respirando, respirando e com as mãos na cabeça. Eu me sentei, pousei a mão no ombro dela e disse:

— Amity.

Ela não olhou para mim, só continuou tremendo, e de repente eu notei que ela estava chorando. Tentei me movimentar para que ela pudesse olhar para mim e repeti:

— Amity.

Nada aconteceu até ela emitir um gemido horroroso. Não foi só um choro, foi pior, era o tipo de choro em que queremos arrancar os olhos e esmurrar uma parede. Eu não aguentei ver, não suporto quando as pessoas choram, muito menos quando choram assim. Eu a abracei e a mantive ali. O corpo inteiro dela tremia e eu não sabia mais o que fazer, então só fiquei ali e perguntei:

— O que foi?

Perguntei bilhões de vezes, mas ela continuou balançando a cabeça e eu não sabia o que aquilo significava. Quando consegui fazer com que ela se deitasse e perguntei de novo, ela disse:

Em busca de Hecate Onde histórias criam vida. Descubra agora