Em busca de Hecate

Willow

— Então, Luz — disse uma menina de cabelo cacheado e óculos de armação roxa na aula de história, Boo, inclinando-se sobre a cadeira para conversar comigo de uma outra mesa —, se você é a Luzura de Boiling Isles, quem faz a voz de Hecate? É a sua amiga Amity?

Era a quarta semana de setembro. Uma quarta-feira. Amity partiria para a universidade em três dias.

— Foi por isso que vocês passaram tanto tempo juntas nas férias?

Aparentemente, muitas pessoas tinham tomado conhecimento a respeito do tempo que eu andava passando com Amity nas férias. Só achavam isso interessante porque acreditavam que eu era uma espécie de ermitã obcecada com a escola.

Pensei em mentir para a menina, mas entro em pânico sob pressão, então só disse:

— Hum... não posso... não tenho permissão para contar.

— Vocês não moram no mesmo bairro? — perguntou outra garota, que estava sentada ao lado de Boo, Amélia.

— Moramos mesmo — respondi.

De repente, todo mundo dentro de um raio de cinco metros estava olhando para mim.

— Porque, tipo, como você está trabalhando no programa agora, deve ser bem próxima da criadora.

— Hum... — Senti minhas mãos começando a suar. — Bom, não é bem assim.

— É o que todo mundo no Tumblr está dizendo, pelo menos.

Eu não disse nada porque ela tinha razão. Todo mundo no Tumblr parecia pensar que eu e a Criadora éramos melhores amigas.

Bem, acho que eles não estavam muito longe da verdade.

— Por que você não pode nos dizer? — perguntou Boo, sorrindo como se estivesse se divertindo como nunca na vida.

— Porque... — parei antes de dizer “ela” — a pessoa que faz o programa não quer que ninguém saiba. — Ri para tentar diminuir a tensão. — Tipo... faz parte do mistério.

— Ela é sua namorada?

— O que... quem? Hecate?

— Amity.

— Hum, não.

A garota continuou sorrindo. As pessoas que estavam ouvindo tinham começado a desviar o olhar, conversando entre elas.

— Espere, vocês estão falando sobre Amity Blight — interrompeu alguém do outro lado da mesa. Olhei na direção da voz e percebi que era Willow, recostada na cadeira contra a parede. — Não acho que é ela, porque ela é tipo a pessoa mais calada do mundo.

Ela olhou para mim e ergueu as sobrancelhas, esboçando um sorriso, e eu de repente percebi que ela estava mentindo.

— Além disso, Hunter não gosta dessas coisas — continuou. — Tipo... todo aquele lance de arte. Acho que ele não seria melhor amigo de um YouTuber.

— Hum... verdade — disse a garota na minha frente.

— Provavelmente é alguém que nem conhecemos. — acrescentou Willow.

— Eu só quero saber — disse Amélia alto demais. O professor acabou percebendo que ninguém estava estudando, se levantou e deu uma bronca em todo mundo.

Quando fui conversar com Willow no fim da aula, ela já tinha saído da sala. Só voltei a vê-la no fim do dia, quando ela estava descendo a rua, literalmente três passos à minha frente. Eu ia naquela direção, de qualquer modo, para a estação de trem. Normalmente, evitaria qualquer possibilidade de encontrar pessoas que conhecia vagamente, mas... não sei.