Ódio na internet

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No dia seguinte, enviei uma mensagem para Amity. Depois, enviei uma mensagem pelo Instagram. Depois, liguei para ela. Não tinha resposta, e às quinze para as sete da noite, saí da minha casa com a intenção de bater à porta dela, mas o carro da mãe não estava, nem ela.

No fim de semana, enviei a ela um pedido de desculpas bem longo por mensagem, que pareceu ridículo enquanto eu o escrevia e continuou ridículo quando o li. Enquanto escrevia, percebi que não havia nada que pudesse fazer para melhorar a situação e era possível que eu tivesse acabado de perder a única amiga de verdade que já tinha tido na vida toda.

Meu comportamento pelo resto do mês de outubro foi mais ridículo do que pensei que seria possível. Eu chorava todos os dias, não conseguia dormir direito e ficava muito irritada comigo mesma por causa disso tudo. Emagreci, mas não me incomodei muito. Sempre tinha sido magricela mesmo.

Outubro foi um mês cheio de trabalho da escola também. Estava passando a maior parte das noites fazendo lição. Eu tinha muito trabalho para fazer e precisava escrever redações toda semana. Eu estava tentando ler alguns livros para minhas entrevistas de Universidade, mas não conseguia me concentrar. Eu me forcei a ler mesmo assim.

Uma noite, vi Amity descendo a rua, vindo da estação, levando uma mala. Imaginei que passaria o fim de semana em casa. Quase corri para fora para falar com ela, mas ela teria respondido às minhas mensagens se quisesse retomar a amizade. Queria saber o que estava achando da faculdade. Ela tinha sido marcada em algumas fotos de calouradas no Instagram, com outros calouros, sorrindo, bebendo e às vezes até fantasiada. Eu não sabia se deveria me sentir feliz ou triste, mas ver as fotos fez com que eu me sentisse péssima.

Obviamente, parei de fazer a voz de Lúcia em Boiling Isles e parei de fazer a arte. Amity mudou a história de modo que Lúcia fosse expulsa da cidade de repente. Fiquei muito triste com isso, como se eu mesma tivesse sido expulsa.

Recebi muitas mensagens no Tumblr perguntando por que aquilo havia acontecido. Falei que era a história, que a participação de Lúcia tinha terminado.

Recebi muitas mensagens no Tumblr perguntando por que minha arte não aparecia mais nos vídeos de Boiling Isles por que eu não andava postando desenhos ultimamente. Falei que estava ocupada com coisas da escola e precisava dar um tempo.

Recebi muitas mensagens.

Quase joguei tudo para o alto e deletei meu Tumblr, mas não consegui, então procurei me manter longe de lá tanto quanto fosse possível.

No dia primeiro de novembro, eu fiz dezoito anos. Pensei que me sentiria diferente, mas, claro, não me senti. Acho que a idade não tem muito a ver com ser adulto.

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— Luz, você parece tão irritada — disse Gus. — O que está acontecendo?

Todo dia que eu passava almoçando com meus amigos da escola parecia que eu estava me aproximando um pouco mais de fazer as malas, sair da cidade e caminhar até o País de Gales.

Eles não eram pessoas ruins. Eram apenas amigos da Luz da Escola — a Luz certinha, estudiosa — e não da Luz real, que adorava animes, era louca por roupas estampadas e estava prestes a ter um treco. Eu precisava me livrar dela, mas não conseguia. Queria que meus amigos me conhecessem de verdade. A Luz real. Mas a essa altura, eu não sabia como simplesmente me tornar publicamente a pessoa que trabalhei tanto para não ser. A Luz da escola, comecei a perceber, quase não tinha personalidade. Mas e se eles não gostassem da Luz real?

Era início de novembro e eu estava tendo cada vez mais dificuldade de ser a Luz da escola.

Sorri para Gus.

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