🩸: através dos mares, até você

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Uma mala preta maior foi preenchida com roupas e livros úteis; uma menor com suas coisas de mago – como Pete diria – ambas paradas em frente a porta.

Não tinha amigos, exceto Sally, Ártemis, Pete e Mikey. Então despediu-se apenas deles, e do humano Newt (para este, deu uma tinta de coloração verde, pois ocasionalmente se lembrou dele mencionar que Laurent Shark sequer notaria se ele fizesse uma mudança brusca em si mesmo; a criatura frágil agradeceu com humildade, humanos tendiam a ser assim, ele mal pôde acreditar que Frank havia guardado uma anedota tão passageira em sua mente).

Para sua surpresa Ártemis e Sally já se conheciam há muito tempo, talvez mais tempo do que ele tinha de vida.

E para o seu choque, elas compartilharam um longo e íntimo beijo na frente de todos ali presentes como se não fosse nada demais – e voltaram a agir como velhas amigas em questão de segundos. Toda amizade feminina era assim no mundo sobrenatural?

Embora estivesse cheio de perguntas, manteve sua boca fechada.

Mikey, por outro lado, não soube esconder seu absoluto fascínio pela bruxa, e Pete não mediu palavras ao fazer a pergunta mais incisiva que alguém poderia fazer naquele momento 'é verdade que vocês dançam ao redor de uma fogueira com o diabo para ficarem eternamente jovens?' pergunta que foi recebida de muito bom humor pela bruxa, Frank agradeceu aos céus - ela não poupou absolutamente nada ao revelar que na verdade o elixir de sua juventude residia no sangue e na carne de bebês humanos. A morbidez multiplicou a admiração e a curiosidade do casal por dez milhas.

Frank deu adeus à cada um deles sentimentalmente, com abraços apertados.

Partiu sozinho, correndo através daquela floresta o mais rápido que pôde até chegar à civilização. Mal haviam taxis pela cidade, havia ouvido falar da grande substituição, agora havia um tipo de locomoção diferente com o nome de 'Uber', mas esse 'Uber' só aparecia através de um celular inteligente e um aplicativo.

Frank não viu muitas opções em seu caminho: roubou um carro estacionado perto à mata e seguiu seu caminho calmamente. O dono havia deixado a chave na tranca, como se a ideia de ser furtado jamais passasse por sua cabeça – aquele carro era verdadeiramente horrível, antigo, sujo e barato – mas tinha uma tela com GPS embutido. Selecionou seu destino com certa facilidade e seguiu as linhas até o porto de Sydney.

Estacionou o automóvel há alguns metros do lugar e o largou à esmo; conhecia o resto do caminho. Notou que aquele taxista de muitos anos atrás não estava mais lá em sua fileira de táxis amarelos.

2006 havia sido há... quase vinte anos atrás? Devia estar morto – acontecia muito entre os mortais.

Seguiu até a baía e observou as pessoas que pacientemente esperavam pela rampa que os daria acesso àquele navio. Frank era rápido. Assim que o objeto desceu, usou sua velocidade para passar como mais que um borrão – mas um sopro de vento no rosto da tripulação.

Ocupou-se do único quarto que dizia 'não reservado' e apossou-se dele como se fosse seu. Ninguém o perturbaria ali, ele esperava. E se o fizessem, sugaria seus sangues de modo que eles jamais se lembrassem das últimas oito horas.

†††

45 dias no mar.

Um mês e meio.

Não foi como a viagem do Japão à Austrália.

Em dado momento, foi dominado pela fome doentia, que fazia seu estômago doer e sua cabeça ficar vazia de pensamentos racionais.

my sweet vampire † frerardOnde histórias criam vida. Descubra agora