🩸: te quis, desde sempre

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O plano era ir de Catamarca até Caracas à pé. Então nadar o oceano atlântico inteiro até a França, seguir para a Sérvia, onde pegariam um trem que passaria pela Bulgária, e por fim - a Grécia.

Frank seguiu o mapa da maneira correta.

Era um longo caminho, mas vampiros caminhavam rapidamente, não cansavam ao usarem seus pés e viagens de meses levavam apenas dias para serem completadas, quando o infortúnio de serem conduzidos por humanos não os acometia.

Sabia que Gerard estava apenas alguns passos atrás dele na cordilheira, sabia também que ele saia da trilha em certos momentos apenas para ver alguma coisa na mata profunda (provavelmente animais selvagens e perigosos, que por algum motivo não os atacava, apenas os observava receosos e curiosos) e depois voltava para não perder Frank totalmente de vista.

Por alguns quilômetros, uma puma fêmea e seus filhotes os acompanharam pacificamente, Way tinha um jeito com esses bichos, Iero, por sua vez, não quis tentar a sorte e levar uma mordida, manteve-se sempre longe e a frente; elas voltaram desconfiadas e temerosas quando se viram muito próximas da civilização. O primeiro sinal foi um poste de luz amarelado e fios de eletricidade embolados.

Frank e Gerard entraram nos vilarejos à frente - contudo, considerando que eram monstros, talvez invadir fosse a palavra correta.

Esconderam-se do sol em casas desocupadas e abandonadas, e de vez em quando, humanos solidários os abrigavam (estes os quais drenavam um pouquinho antes de ir, cortesia de suas voracidades). Way sempre falava com eles, Iero ficava quieto e apenas observava com as mãos cruzadas em frente ao corpo e um sorriso gentil. O que mais poderia fazer? Era um completo iletrado em Espanhol.

A primeira conversa que trocou com Gerard naquela viagem foi entre a fronteira da Bolívia com o Peru. Não alugaram o hotel, esperaram até bem tarde e subiram até a varanda de um quarto desocupado.

"Andamos 1.905,0 km." Ele iniciou, de repente, assim que suas malas foram largadas no chão, ele se deitou na cama e pôs uma mão no rosto. "Em três dias."

Iero arqueou uma sobrancelha. "Estava medindo o tempo, sombra?"

Ele retirou a mão do rosto. "Já caminhei essa distância antes. Caminhei todas as distâncias que teremos que caminhar."

Frank se sentou na beirada da cama com as palmas abertas no lençol. "O que faremos com relação ao oceano? Não sei nadar."

"Não vai precisar saber. Vai afundar comigo. E não vai se afogar." Foi tudo o que ele disse a respeito disso, pondo um braço inteiro sobre o rosto dessa vez. Talvez tenham ficado naquela quietude fria por quatro minutos inteiros, até ele resolver falar novamente. "Preciso fazer uma confissão muito séria para você, espero que não pense menos de mim por isso."

Frank se preocupou e franziu as sobrancelhas. "O que foi, Gee?"

"Fiz contas recentemente, sobre o ano de meu nascimento até o ano em que estamos agora."

Frank virou a cabeça em indubitável desentendimento. "E?"

"Nasci em 1572." Ele murmurou, sem olhá-lo. "Ainda não tenho 500 anos. Tenho 452." Frank não tinha certeza se aquilo era um desabafo, sequer sabia como reagir. Preparou-se para algo realmente sério. "Percebi que me confundi, que comecei a contar minha idade a partir das centenas e esqueci o dia em que nasci. É um fato que estou nesta terra há 5 séculos. Mas ainda faltam 47 anos para atingir os 500."

Aquilo não parecia urgente, tampouco motivo para pensar menos dele. "Não é importante. Eu não me importo. É só um arredondamento." Frank tentou ser o amenizador, vendo a desonra penosa afetar a postura dele. De fato, não conseguia ver como aquilo seria um problema, ele continuava sendo um vampiro arcaico - sua presença por si só remontava tempos remotos - mas Gerard tinha um dom a mais para o drama e a teatralidade. Viveu na mesma época que Shakespeare, talvez fosse a sina de uma geração.

my sweet vampire † frerardOnde histórias criam vida. Descubra agora