"Bem..." Comecei mas rapidamente a mulher me interrompeu.
"Vá meninas está na hora de se irem preparar para as aulas. Daqui a nada a carrinha chega e vocês não estão vestidas." Dito isto saíram todas a correr da cozinha e eu fiquei ali especada pois não estava nada à espera de um acontecimento destes. "Isto é assim todos os dias, vais habituar-te." A mulher falou para mim.
"Eu se calhar também me vou vestir para a escola." Assim que me levantei a voz da mulher parou-me.
"Nem penses querida! Tu hoje ficas cá para tratarmos dos papéis e também porque de noite não dormiste nada, aproveita enquanto elas vão para a escola."
"Mas eu tenho aulas, não posso faltar."
"Abigail, com a morte dos teus avós podes ficar o resto da semana a descansar e depois voltas. Eu sei o quanto é difícil uma perda assim, mas vais ver que isso passa, na verdade, o tempo cura tudo."
"Se quer saber o tempo não cura nada, nós apenas aprendemos a viver com a situação até nos habituarmos, mas acredite que o tempo não faz nada para melhorar." Ok admito que fui um bocado bruta mas também ela não tinha nada de tocar no assunto dos meus avós.
"Eu compreendo essa tua raiva querida, quer o tempo cure ou não, isso passa."
"Não, não compreende! Você acha que sim mas acredite que não faz a menor ideia por aquilo que eu passo todos os dias." Eu não sei o que é que se passa comigo hoje, mas estou com uma raiva, nunca tinha ficado assim, aliás, nunca tinha respondido assim tão mal a ninguém. Talvez este seja o meu novo eu. "Você não faz a mínima ideia de como eu sou ou deixo de ser."
"Abigail eu não estou aqui para te julgar, eu só estou aqui para cuidar de ti e todas as outras crianças que não têm para onde ir, que não têm mais família. Tu não és a única que sofre todos os dias, não és a única que perdeu a família de um dia para o outro, não és a única que passa por problemas. Todos nós somos assim mas cada um lida com isso à sua maneira. Eu só estou aqui para ajudar naquilo que for necessário, mais nada."
"Eu sei, desculpe." Suspirei. "Eu não sei o que me deu, a sério, eu nunca falei assim com ninguém."
"É normal teres reagido daquela forma, toquei num assunto delicado para ti. Compreendo a tua raiva."
"Mais uma vez, desculpe." A senhora sorriu-me.
"Tudo bem."
"Jo a carrinha já está lá fora." Apareceu um rapaz na porta.
"Obrigada Nash podes mandá-las descer." Ele assentiu e saiu porta fora.
"Quem era aquele?" Perguntei.
"É um voluntário." Respondeu. "Todos os dias aparece aí de manhã para ajudá-las a prepararem-se para as aulas e depois à tarde fica por aí a arrumar o que estiver desarrumado, a limpar, tratar de alguns assuntos, coisas assim." Encolheu os ombros. "Anda, vou-te mostrar cada canto do orfanato e vais conhecer todas as pessoas necessárias." Ambas nos levantámos e fui atrás da mulher, que finalmente lembrei-me do nome graças ao rapaz, Jo, que me levou até à entrada onde estavam todas as raparigas a sair e a entrar numa carrinha que eu penso que as vá levar à escola.
"Andam todas na mesma escola?" Perguntei.
"Não." Jo disse. "A maior parte anda toda na mesma sim, mas existem raparigas noutras escolas."
"E eu vou ter que ser transferida?"
"Claro que não, vais continuar na mesma escola." Não sei se estou feliz ou triste, quer dizer, se eu mudasse de escola nunca mais tinha de levar com aqueles anormais que todos os dias gozam comigo, o que era bom, mas se mudasse talvez acontecesse o mesmo que acontece nesta, talvez seria gozada também, o que não era nada bom. "Sisley, esta é a Abigail, a nossa nova hóspede. Abigail este é o Sisley, o porteiro." Sorri para o homem não muito velho, mas também não muito novo, e com barba por fazer, e este retribuiu.
"Prazer em conhecer-te Abigail."
"Igualmente." Respondi.
"Vou mostrar-te o resto da casa."
(...)
Finalmente sentei-me na minha cama depois de conhecer cada divisão deste edifício e todas as pessoas que nele trabalham, exceto uma, Mr. Olsen. Ele é que é o dono deste orfanato mas, pelo que a Jo me contou, ele não costuma aparecer muitas vezes e tem um ar muito misterioso e sombrio. Acho que não fiquei com grande vontade de o conhecer. Bateram à porta e eu dei permissão para entrar vendo o rapaz moreno e de olhos azuis de há pouco.
"Posso entrar?" Perguntou e eu assenti vendo este a vir na minha direção e a sentar-se ao meu lado. "Ainda não tivemos oportunidade de nos conhecermos. Eu sou o Nash." Estendeu-me a mão e eu apertei-a.
"Abigail." Apresentei-me igualmente.
"Bem Abigail, vejo que és nova por aqui."
"Sim, cheguei ontem de madrugada."
"Eu posso ser apenas um voluntário mas a maioria das raparigas têm uma grande relação comigo, como bons amigos, sabes? Espero criar essa relação contigo também." Dei o meu melhor sorriso.
"Obrigada, mas aviso já que não sou pessoa de muitos amigos." Informo-o, baixando ligeiramente o meu olhar.
"Então porquê?" Rugas forma m-se na sua testa, em confusão.
"É uma longa história..." Suspiro.
"Eu tenho tempo, e tu também." Sorriu-me e eu posso dizer que naquele momento eu senti que podia desabafar com ele à vontade, que lhe podia dizer tudo aquilo que vai na minha cabeça e ele não me iria julgar. Mas não sei se deva. "Vá lá nunca ouviste dizer que um estranho é sempre melhor para desabafar? Podes falar comigo sobre o que quiseres." Suspirei, derrotada.
"Eu nunca percebi o porquê, mas eu desde que entrei para esta escola que sou gozada. Talvez por não ter entrado logo de início mas mesmo assim acho que não é razão para aquilo que eles fazem comigo."
"E o que é que eles fazem contigo?" Perguntou-me e eu ainda pensei duas vezes antes de começar a falar. Mas se já tinha começado, porque não acabar?
"Eles humilham-me em frente da escola toda, obrigam-me a fazer os trabalhos de casa ou então, quando há trabalhos em grupo, ficam logo comigo e dizem para eu fazer o trabalho sozinha e depois colocar o nome deles. É raro ir almoçar ao refeitório porque sei que se for, acabo sempre com comida em cima, e já para não falar que a maior parte dos intervalos eu fico na casa de banho a chorar porque não quero dar parte fraca em frente à escola toda. Eu todos os dias suportava isto na escola mas depois chegava a casa e tinha o apoio dos meus avós. Eles cuidavam super bem de mim, eu agradecia todos os dias por os ter ao meu lado e ajudava sempre em tudo o que podia. Mas agora já não tenho nada. A razão para eu ir para a escola todos os dias e sofrer aquelas humilhações foi-se, por isso, agora não tenho ninguém que me apoie, ninguém que fique do meu lado e me faça passar por tantas dificuldades só para no final do dia receber um abraço, um carinho, ou até mesmo um sorriso para alegrar o meu dia." Limpei as poucas lágrimas que escorriam. "Desculpa estou para aqui a falar mas..."
"Não." Interrompeu-me. "Eu acho que tu és uma rapariga muito forte Abigail, mas não podes pensar assim. Tu tens agora uma nova família que se preocupa contigo e te vai apoiar em tudo o que fazes. Em relação a esses anormais que te fazem passar por isso tudo, mostra-lhes que és melhor do que aquilo que eles pensam e daquilo que eles te fazem parecer." Sorri-lhe.
"Obrigada Nash, soube bem falar contigo." Sorri, um sorriso sincero.
"Estou sempre aqui para o que precisares, faço parte da tua nova família agora." Abracei-o.
"Vais ser o meu irmão mais velho que eu nunca tive." Digo sem nunca o largar.
"Fico feliz por isso." Abraçou-me com mais força. Pela primeira vez sinto-me protegida.
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Dating Text ▲ H.G
Fanfiction"Olá." "Que queres?" "Conhecer-te :)" E foi assim que tudo começou. [BOOK ONE OF "DATING TEXT" TRIOLOGY] | ATENÇÃO: HAVERÁ LINGUAGEM QUE PODERÁ SER AGRESSIVA, E PODERÃO SER, AINDA, UTILIZADOS ALGUNS PALAVRÕES. CENAS DE VIOLÊNCIA E SEXUAIS PODERÃO T...