Vi o rapaz de olhos azuis a ficar tenso e rapidamente me encolhi no meu lugar. Sei que não vem algo de bom daquela boca.
"Porque é que perguntas?" Disse olhando para os livros. "Isso não te diz respeito, é a minha vida privada e não tens de te meter." Acrescentou de uma maneira mais rude do que habitual.
"Eu sei mas, eu só queria saber..."
"Porquê? Já disse que não te interessa!" Respondeu irritado e ligeiramente mais alto fazendo com que a bibliotecária nos chamasse à atenção.
"Hayes..."
"Sabes que mais?" Pegou nas suas coisas. "Eu nem sei porque vim aqui perder o meu tempo contigo." Agarrou nos livros que anteriormente colocara em cima da mesa e saiu o mais rápido que conseguiu do espaço.
(...)
Acho que nunca me senti tão mal por voltar para 'casa'. Neste momento acho que até preferia ter ficado na escola, quem sabe se não iria ser mais interessante do que aturar as minhas colegas de quarto. Acho mesmo que o melhor que tenho em estar neste orfanato é o facto de ter conhecido Nash. Ele é, sem sombra de dúvidas, um grande suporte para mim, mesmo não o conhecendo há muito tempo, eu sinto que posso confiar nele como se o conhecesse há anos. E a verdade é que posso, consigo falar com ele sobre tudo, até mesmo aquilo que mais me incomoda falar. Ele é mesmo o irmão que eu nunca tive e o meu melhor amigo.
"Olá." Ouvi uma voz mais fininha e assim que olhei para o lado vi uma pequena criança com um boneco na mão e a olhar para mim com um ar envergonhado.
"Olá." Respondi e ajeitei-me no assento onde me encontrava.
"Eu sou a Dalila." Aproximou-se um pouco mais de mim mas ainda com um pouco de vergonha.
"Eu sou a Abigail." Eu apresentei-me e a pequena menina sentou-se ao meu lado com algum esforço devido à altura do banco.
"Eu sei." Respondeu e eu olhei-a um pouco confusa. "Eu vejo-te várias vezes sozinha, ou então com o voluntário." Ela começou a ajeitar os cabelos da boneca que se encontrava no seu colo neste momento. "Porque é que estás sempre sozinha?" Eu encolhi os ombros.
"Talvez porque sou nova por aqui e ainda não tive tempo de me adaptar." Ela olhou para mim e consegui ver os seus olhos verdes fixos nos meus.
"Eu também não estou cá há muito tempo mas já tenho amigas."
"Eu nunca fui uma rapariga de ter muitos amigos."
"Porquê?" Arqueou uma sobrancelha, confusa, e eu encolhi os ombros.
"As pessoas nunca gostaram muito de mim."
"Porquê? Pareces simpática." Sorri devido à sua ingenuidade.
"Eu sempre gostei muito de ir à escola e as outras pessoas não achavam piada a isso." Tentei explicar-lhe da maneira mais simples que consegui. Eu sei que ela ainda é demasiado pequena para perceber o que é o que eu estou acostumada a passar e espero mesmo que nunca saiba pois, só o facto de ser tão nova e já se encontrar num local como este, não vai tornar a sua vida social muito fácil pois as pessoas gostam muito de julgar, e eu que o diga.
"Eu também gosto de ir à escola." Ri-me e ela olhou para mim mais uma vez, provavelmente confusa da minha atitude.
"Quantos anos tens?"
"Quatro." Mostrou-me quatro dedos, uma atitude típica de criança, e sorriu-me voltando a dar atenção à sua boneca.
"Quando fores mais velha, vais perceber." Ela não me respondeu e eu fique apenas a mirá-la a brincar com o objeto que tinha nas suas mãos durante um tempo. "Gosto da tua boneca."
"Obrigada." Respondeu. "A minha mamã deu-ma antes de me deixar aqui."
"Ela disse-te que te vinha deixar aqui?" Perguntei um pouco confusa, como é que uma mãe consegue dizer a uma filha de 4 anos que a ia deixar num sítio como este e que nunca mais iria voltar?
"Ela disse que eu ia para um local melhor, para onde ninguém me podia fazer mal, e assim que chegámos aqui ela disse para eu ser simpática e fazer o que me dissessem para fazer sem fazer birras. Ela deu-me a boneca e disse que era um presente por eu ser uma menina tão bem comportada e depois vi-a a tocar à campainha e abraçou-me com força a chorar. Eu perguntei se estava tudo bem e ela disse que sim e depois prometeu que me vinha buscar quando tudo estivesse tratado." Encolheu os ombros. "Ela nunca mais apareceu e eu acho que ela se esqueceu de mim."
"Eu não acredito nisso Dalila." Tentei animar a pequena criança que se encontrava ao meu lado. "Eu tenho a certeza que, se ela te prometeu que vinha, então é porque vem mesmo. As mães não mentem aos filhos."
"A tua mamã também te deixou aqui e prometeu que voltava?" Perguntou-me e eu rapidamente engoli seco.
"Não, os meus pais morreram quando eu era muito pequenina, ainda mais pequena que tu." Ela olhou-me.
"Eu não sou pequena." Eu ri-me. "Então quem é que te trouxe?"
"Eu estava com os meus avós e eles tiveram um acidente e morreram também, por isso tive de vir para aqui."
"A minha mamã disse que os meus avós estão no céu a olhar por mim. Mas eu nunca percebi como é que eles foram lá parar, aquilo é tão alto." Sorri mais uma vez por reparar o quão ingénua esta criança é e o desejo que eu tenho de voltar a esta idade onde tudo era tão mais fácil. Vê-se mesmo que ela ainda não percebe certas situações da vida mas também os pais não se incomodaram a explicar-lhe, o que só mostra que ela passou algumas dificuldades em casa. Eu percebo que isso possa tornar a educação de uma criança complicada, e para a senhora trazer uma criatura tão calma e serena como esta para um orfanato só mostra que as coisas realmente não poderiam estar a correr no meu melhor caminho. Ela é realmente uma criança forte.
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Dating Text ▲ H.G
Fanfiction"Olá." "Que queres?" "Conhecer-te :)" E foi assim que tudo começou. [BOOK ONE OF "DATING TEXT" TRIOLOGY] | ATENÇÃO: HAVERÁ LINGUAGEM QUE PODERÁ SER AGRESSIVA, E PODERÃO SER, AINDA, UTILIZADOS ALGUNS PALAVRÕES. CENAS DE VIOLÊNCIA E SEXUAIS PODERÃO T...