10. Questões e lentidão

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Luna

— Você parece muito à vontade com a sua situação — fala Kulan. Ignoro-o continuando a folhear os livros na imensa biblioteca que é o cenário da vez que usa para tentar me confundir.

Admiro que esteja se esforçando.

Entretanto, depois de tudo o que passei realmente pensa que seria simples assim conseguir um sim de mim? Tenho muito o que fazer. Preciso voltar para os vivos. Preciso me desculpar sobre o que fiz com o Derick. É necessário para o meu coração que confirme que Alec está bem. Também é óbvio que a calma de muitos está em minhas mãos.

Contudo, tem um porque para que permaneça aqui.

Quero encontrar Bob. No entanto, com o tempo passando acredito que o estado dele era melhor do que o do meu irmão. Talvez esteja sendo usado de um modo diferente. Lily pode estar utilizando suas habilidades de outra maneira, e não como uma descarga do peso dos seus atos.

E se estiver certa e sua situação for melhor, não vou encontrá-lo aqui.

Os domínios da morte são somente para aqueles que estão muito perto dela, ou sejam bichinhos com quem ela quer brincar. No meu caso, estou fodida entre as duas opções.

— Tudo que precisa para ser livre é aceitar que eu siga com meus planos.

— Você não cansa? Minha língua já estaria dormente — respondo e a expressão no seu rosto torna o tempo aqui mais suportável. Ele não aceita que alguém critique os seus planos.

Se não compactua com a sua loucura automaticamente deve ser eliminado.

— Você pode ser a morte, mas quantas regras está quebrando mantendo uma alma com você? — pergunto e seus olhos mudam. As íris escurecem como se todo o seu ódio fosse uma poça escura que pode engolir seus inimigos. — Deuses também devem ter regulamentos. Motivos que os levariam a serem mortos. Tem que haver um porquê para a deusa lua estar morta.

— Não mencione o nome dela — manda, bravo, e o assunto deve ser muito desconfortável para que demonstre tamanha ira por tão poucas palavras.

Devia considerar que com tanto tempo livre aqui tudo o que posso fazer é maquinar sobre o que o levou a tomar ações tão absurdas. É isso ou ler livros sem parar. Escolho a opção que pode me beneficiar quando acordar, levando em conta que me lembrarei de tudo.

Nunca estive na corte noturna, por mais que minha mãe tenha me falado sobre ela e da nossa facilidade de acessá-la, jamais pensei que chegaria um momento em que precisaria usar tais habilidades.

Porque motivo iria entrar no limbo? O que eu procuraria?

— Porque eu não devo? Diz que somos semelhantes, deveria apreciar que quero falar sobre ela — articulo, o que faz a sua expressão ficar ainda pior. Toda a sua raiva contorce seus músculos faciais e sua cicatriz parece pronta para explodir. — Se não quer falar sobre ela, que tal me contar sobre o porquê de o deus da morte poder se tornar um lobo? Duvido que todos os deuses tenham sangue lupino.

— Porque eu falaria qualquer coisa a respeito da minha vida com você?

— Sua vontade é me convencer a dizer sim para você, o melhor jeito de conseguir isto seria me fazendo acreditar nos seus ideais, não acha? — inquiro, e posso não ter os sentidos me auxiliando nesse instante, uma vez que continuo não sentindo a minha loba, mas sei que está furioso.

Essa é uma coisa que me preocupa aqui. É como se minha loba e eu tivéssemos sido desconectadas, coisa que jamais pensei que fosse possível, uma vez que é uma parte indispensável nossa. Entretanto, por mais que tente senti-la encontro somente nada, um vazio imenso onde deveria residir.

Céu escarlate - Série Lobos de Ayvalle | Livro 4 | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora