06. Pedaços que se afastam, parte 1

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Júpiter

— Você está com a cabeça muito cheia — fala-me Zeus.

Beija o lado do meu pescoço e desliza a ponta da língua fazendo um breve círculo no lugar onde a minha veia pulsa mais forte. Leva uma mão para meu ombro antes de a arrastar sinuosamente até que seus dedos estejam em minha garganta.

Posso não ver sua expressão por estar sentado em minhas costas, contudo, ouço o bater do seu coração e o cheiro dos sentimentos que escapam a cada movimento lento que faz.

Não mentiu quando disse que estaria do meu lado em todos os momentos.

Nesta ocasião o seu clã está sem o seu líder porque ficou comigo para me ajudar.

— É impossível evitar, veja a situação em que estamos — discorro.

Tem muito a ser feito e muito mais que pode vir a ruir.

Sempre que ouço comentários sobre Luna estar recebendo uma punição por sua decisão quero arrancar cabeças e pregá-las em uma estaca. Sei que isto são somente pessoas que estavam do lado de Ester, mas não deixa de me irritar.

Minha irmã não fez nada pelo que devam julgá-la. Se houve qualquer possibilidade de inocência a decisão não teria sido tomada. É claro que podem dizer que o lumeny dela agiu para a ajudá-la, contudo, e todas as informações disseminadas? Estão aí para qualquer um ver.

— Você não conseguirá resolver nada ficando noites em claro — profere, com suas unhas causando uma fricção um pouco mais feroz em minha pele.

— É contraditório que diga algo assim — pontuo, pois sei que não teve descanso em sua vida por estar sempre preocupado com o que poderia acontecer comigo. Se eu iria viver ou morrer, se teríamos enfim dias tranquilos, esses pensamentos nunca saíram de sua cabeça.

— Eu não me importo de gastar todo o meu tempo preocupando-me com qualquer coisa que diga respeito a você — garante, com uma devoção que me entregou e nunca tomou de volta, não houve uma única circunstância em que duvidou do que queria.

— Como está o clã? — Pergunto. — Não precisa voltar logo?

— Não sem você — atesta.

— Isso pode ser um problema — digo a ele, visto que as coisas em Ayvalle estão piorando sem controle. No instante em que pensamos que algo se resolveu uma nova problemática nos assombra.

Além disso tem os lobos trazidos por Mirty.

Duvido que não haja alcateias que os queiram sabendo as qualidades que possuem. Da mesma maneira que há quem queira caçar os Ayphle. Solto um suspiro sentindo o peso do meu coração titubeando quando as presas de Zeus roçam na pele sensibilizada de meu pescoço por conta do trabalho de suas unhas.

— Porque está me torturando? — Questiono a ele, viro meu pescoço lateralmente vendo somente uma parte de seu rosto. — Eu já disse que não acontecerá, você pode me morder.

— Você ainda é um lobo, nossos venenos não se misturam — discorre o que eu sei a minha vida inteira, no entanto, apesar de sermos de espécies diferentes, ainda somos lumeny, e ela é uma ligação que se sobressai a tudo.

— Eu não vou morrer por uma mordida sua — atesto, mas creio que ele levará um tempo para confiar no que digo quando se trata desse assunto. — Milim repassou as informações necessárias para os outros líderes de clã?

— Sim, deve se lembrar de como ela trabalha bem — comenta, quer ver o que direi, não tem certeza quanto aquilo que eu me recordo, mas eu me lembro de tudo, desde antes de Heméro me livrar da maldição que seu povo colocou em mim.

Céu escarlate - Série Lobos de Ayvalle | Livro 4 | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora