Prologo. Luz e escuridão

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Kulan

Sorrio por poder arranjar tempo para vê-la.

Finalmente tive alguns dias tranquilos em meio a tantos séculos.

— Lua — chamo a mulher, e seus cabelos prateados como a lua banhada pela noite me dá um sorriso acolhedor. Continua a regar as flores sem se incomodar com a minha aproximação, somente me deixa seguir com o que desejo, diferente daqueles outros deuses que me temem, ela não se incomoda. — Criou essas flores de novo?

— Não as criei, elas nasceram sobre o tumulo daquela criança — fala, ainda as regando. — Não precisamos colocar nossas mãos em muitas coisas, elas somente seguem seu fluxo natural.

Deixa o regador de lado caminhando até a varanda do casebre que não é bom o suficiente para que alguém como ela viva, contudo, não se incomoda, desde que desceu para este mundo vive como uma pessoa comum.

Sua bondade é comentada em meio a outros deuses.

Nenhum vive tão calmamente quanto ela.

É muito diferente do que vimos durante a guerra.

— Como o fato de a morte ser inevitável? — Ela sorri, sabe que a minha questão não tem uma resposta correta, não depois que todos os seres beirando a imortalidade surgiram.

Seus filhos, suas criações são uma delas.

— O destino age de maneiras estranhas — garante, me olha, espera que diga o motivo para ter vindo até a ela. O nosso tipo não costuma se encontrar. Cada um leva a vida que deseja sem interferir no que os humanos fazem, contudo, sempre que penso nela tenho o anseio de vê-la.

— Sim, certamente, você viu algum dos outros deuses recentemente?

— Não, nem tenho motivos para precisar vê-los — articula, afirma sem se expor que não fez nada que atrairia a atenção deles. As criaturas habitando a Terra não são as únicas com liberdade para fazer o que desejarem. — Por esse motivo me sinto curiosa com a sua visita.

— Não é tão simples viver entre as pessoas calmamente — discorro, meneia a cabeça concordando. Não é este o primeiro lugar que decidiu chamar de lar. Já teve que deixar locais que gostava somente por perceber que seria atacada se permanecesse onde estava.

Por não gostar de criar conflitos apenas sumiu silenciosamente.

Duvido que se esqueçam de quem é. Sua beleza é desmedida.

Qualquer um que apreciar o brilho da lua se veria atraído por ela.

Eu fui, muito tempo atrás. Acreditava que seria ignorado, visto como mais um entre tantos de nós, mas ela sorriu para mim e estendeu a sua mão. Sua ação naquele dia fez com que tudo em mim reagisse diferente para os dias seguintes.

— Seria mais fácil se pudéssemos dar ordens a eles — comento, e é notável que está escondendo algo atrás do sorriso que fica em sua face, ele não é tão singelo como outros que já me mostrou.

Já vi muitas das suas facetas, no entanto, quantas delas são totalmente francas?

Eu quero que ela exiba tudo, do mesmo modo como viu os detalhes mais desagradáveis de mim naquele primeiro cruzar de olhos que tivemos. Não sabe que também posso suportar os seus demônios?

Não teve receios quanto aquilo que posso causar. É igual para mim.

Se tivesse decidido queimar todo o lugar onde queria viver para ficar em paz eu teria a ajudado. Se preferisse governá-los, faria questão de fazer com que fossem obedientes, mas preferiu somente afastar-se, deixando-os ser vitoriosos.

Céu escarlate - Série Lobos de Ayvalle | Livro 4 | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora