32. Enfrentando a lua cheia, parte 2

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Derick

O cheiro entrando por minhas narinas é muito estranho.

Tinha certeza de que me joguei na cama assim que fui liberado do meu turno.

É como se algo tivesse sido esquecido a céu aberto para apodrecer embaixo do sol escaldante. Está exalando morte e embrulha meu estomago por um bom tempo enquanto caminho sob a baixa luz tomando o cômodo.

Viro-me com pressa quando uma mão faz peso contra meu ombro.

O sorriso do meu irmão me faz pensar que ele acredita que essa foi uma ótima brincadeira quando o meu coração já estava agitado sem isso. Ele nunca foi do tipo que faz brincadeiras como essa, no entanto, devo relevar o que acontece dado a sua circunstância.

Caminho com pressa apertando o seu corpo contra o meu assim que meus braços o rodeiam. Este momento é uma benção, me garante que está vivo, que eu ainda posso salvá-lo.

Não estamos em condições de deixar tudo de lado e buscar pelo covil de Kulan, mas nós nos preparamos, a cada dia que passa ficamos mais perto de conseguir o poder necessário para destruir aquele deus desgraçado.

— Eu até gosto disso — murmura Bob passando seus braços em torno de mim e apoia sua cabeça no meu ombro. É notável o quanto está mais magro. Todo o seu corpo dá sinais daquilo que sofre, mesmo que não abra a boca para expor.

Nunca o vi nesse estado antes. Quando lembro de nossa infância penso em como era energético. Nunca adoecia, estava constantemente pronto para ir em busca de alguma confusão. Foram dias perfeitos.

— Sinto muito por ainda não termos encontrado você — profiro, gostaria que mais do que desculpas envolvessem o nosso encontro, já que, obviamente, não controlo como o nosso elo funciona.

— Sei que estão fazendo o seu melhor, além disso, tenho que agradecer — articula afastando-me um pouco dele, e meus olhos logo percorrem toda a extensão do seu ser, pescando todos os detalhes que são impossíveis de serem escondidos.

A magreza não é a única coisa nítida. Sua pele está muito clara, quase como se todo o sangue estivesse sendo tomado dele, o que a deixa com uma aparência adoentada. Os olhos brilhantes que podiam iluminar um ambiente foram irrigados por uma escuridão cruel que macula toda a sua bondade.

— Porque me agradeceria Bob? O que tenho feito é muito pouco — exponho, porém, pelo visto, para ele é desnecessário que eu me desculpe.

Me lembra de como sempre estava pronto para ficar do meu lado durante a chuva de recriminações que nossa mãe era especialista em dar depois de passarmos dos limites. Nunca foi do tipo que assumia a culpa, dizia que era a melhor forma de eu aprender. Entretanto, mantinha-se comigo até que ela terminasse, independente de quanto tempo demorasse.

— Se eu...

— Você não percebe muito do que faz, não é? — Pergunta-me depois de me impedir de continuar falando. — Se não fosse o meu luparck eu poderia já estar morto — atesta. — Sua cura nem me deixa pensar direito.

— Permanece sofrendo nas mãos do nosso inimigo por que não podemos lidar com ele — expresso-me, com meu coração ardendo tamanha a dor que sinto por o ver colocar um sorriso no rosto apesar da situação.

Muitas coisas podem ter mudado, mas o irmão que tanto amo e que ficou do meu lado durante o meu caos é o mesmo. Em seus olhos constato muitos dos seus desejos, entre eles, a vontade de permanecer vivo independente do que lhe acometa.

Céu escarlate - Série Lobos de Ayvalle | Livro 4 | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora