29. Dar e receber

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Luna

Os olhos da mulher diante de mim me deixam encabulada.

Essa deveria ser uma das primeiras coisas que fiz quando acordei.

No entanto, ver a expressão de Derick quando falei sobre encontrar Heméro me fez hesitar, mesmo que por um instante. Creio que ele tem muitas ideias sobre quem foi o ser que me amaldiçoou na intenção de parar Kulan.

É bem nítido que eu não sou bem-vinda, pelo menos não por ela.

— Onde está o Heméro? — pergunto, já que não está me mostrando o caminho que posso seguir para o encontrar. Pelo visto é mais do que alguém que cuida da casa dele.

— Tem o direito de estar aqui? — questiona-me, e estava certa quanto a raiva que ela sente de mim, entretanto, a motivação por trás disso é o que desconheço. Heméro e eu estamos em bons termos, na verdade, estou nas mãos dele.

Estou devendo a uma pessoa muito perigosa.

— Se eu não tivesse acredito que já estaria atirando bolas de fogo em mim — digo e dou passos para frente. Estou sim invadindo os seus limites, mas com que direito ela me barra?

Pode ter a confiança dele para trabalhar nessa casa, entretanto, não é a dona dela. Decidir sobre quem vem e vai é muito além de seus deveres. Se recebeu uma ordem para me manter longe usaria mais do que palavras e uma expressão grosseira para me parar.

— Se não vai me parar, saia do meu caminho — ordeno, e por mais que essa seja a residência de outra pessoa começo a me preocupar por uma pessoa com essa atitude estar próxima de Heméro.

Ao invés de o ajudar a se proteger pode ser aquela que o colocará em risco.

Como uma resposta vinda direto do inferno, sinto uma sensação abrasadora atravessando o meu corpo vindo de um lugar da sua casa, e é algo tão aterrador que a reconheço instantaneamente. É exatamente igual aquilo que experimentei quando pediu que alguém protegesse o seu quarto para os Nocturs.

— Sai imediatamente — mando e a mulher continua em meu caminho. Paralisada, preocupa-se por eu não ter me assustado depois de presenciar tal aura perigosa escapando de dentro do lugar. — Se não sair eu terei que cortar a sua cabeça fora — aviso. — Acredito que o meu amigo pouco se importaria.

— Isto é por sua causa — reclama, entretanto, dessa vez, move-se abrindo a passagem para que entre na casa do bruxo e o que eu senti do lado de fora é muito mais pesado e violento na parte de dentro.

Está sugando tudo ao seu redor como se fosse capaz de devorar um mundo.

— Mantenha-se longe — digo a ela por último antes de avançar em direção as escadas onde salto degraus um atrás do outro procurando pela raiz da aura obscura tomando o ambiente.

Se ela se espalhar certamente vai fazer com que algumas pessoas percam o controle. Ela inunda o coração e se apega as partes mais escuras trazendo à tona através de desejos desesperados.

Alguém que nunca experimentou nada assim pode acabar sendo influenciado.

Houveram muitas pequenas confusões em Ayvalle por conta do odor de sangue que se dispersou por toda a cidade depois que Marie livrou meu irmão da maldição. Muitos vampiros que estão aos poucos livrando-se dos hábitos de tomar sangue humano.

A troca para sangue artificial não é tão simples se passaram toda a sua longa vida de outra maneira, mas os desejos de coexistência do clã em nossa cidade os ajuda a conseguirem o que desejam.

Céu escarlate - Série Lobos de Ayvalle | Livro 4 | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora