Karev estava começando a ficar preocupado com sua situação. A questão do reconhecimento do título já estava quase resolvida. Apenas algumas assinaturas, protocolos e uma breve ida a Londres e ele seria oficialmente o novo lorde McColin, filho e herdeiro do título do pai, que ostentaria o status de conde pelo pouco tempo de vida que ainda tinha.
Que bobagem!
Como se isso fizesse alguma diferença, como se eles precisassem da Coroa, que já se tornava obsoleta em seu próprio país.
O que importava de verdade, o que realmente fazia diferença, era o estado civil com que voltaria e se seu pai consideraria a moça adequada. E essa também era a parte mais difícil.
Tinha conhecido algumas damas inglesas, mas não as descreveria exatamente como adequadas. Não só porque não conseguiria passar mais do que vinte minutos na presença de qualquer uma delas, mas porque, embora não houvesse, para ele, a possibilidade de uma aliança formada por amor, queria alguém que ao menos conseguisse tolerar. Não precisava deseja-la, nem sequer gostar muito dela, mas precisava não sentir vontade de arrancar os próprios ouvidos ao estar em sua presença.
Àquela altura, ele já estava começando a achar que isso era pedir muito.— Sr. McColin. — uma voz doce e conhecida o tirou de seus devaneios.
Ele estava em uma das salas de chá, que servia como um segundo escritório para lorde Albernathy. Era mais confortável e adequado para tratativas mais informais e ele havia requisitado a presença de Karev lá naquela noite, antes do jantar, embora um lacaio tenha aparecido alguns minutos atrás trazendo um bilhete em que o lorde informava um imprevisto e que se atrasaria cerca de trinta minutos.
Como não tinha mais o que fazer e não queria esbarrar com nenhuma das moças com quem tinha passado a tarde, Karev decidiu esperar.
— Srta. Wesley. — ele se levantou, reverenciando brevemente ao cumprimentá-la.
— Não esperava encontrá-lo antes do jantar. — comentou enquanto adentrava mais a sala.
— Albernathy pediu que eu viesse. — respondeu, indo em direção ao bar. Se teria que esperar, ao menos beberia. — Tenho alguns documentos para assinar.
— Acerca do reconhecimento do título? — indagou a srta. Wesley.
— Exatamente. — concordou e sentiu certo alívio ao achar uma garrafa pela metade de um delicioso uísque escocês. — Aceita? — ele se virou para ela, mostrando a bebida que logo serviu em um dos copos.
— Ah... — ela pareceu meio indecisa, mas acabou por surpreendê-lo ao aceitar: — É claro. Por que não?
Com um leve sorriso nos lábios, ele serviu um outro copo e entregou a ela.
— É de boa qualidade. Escocês.
A srta. Wesley concordou com a cabeça, aceitando a bebida. Ela o encarou, respirou fundo, como se estivesse prestes a enfrentar um grande desafio, e, antes mesmo que Karev pudesse adverti-la, deu uma longa golada.
Quando sentiu o líquido queimar em sua garganta, irrompeu em um ataque de tosse.
— Aí meu Deus. — ela conseguiu murmurar. — Queima.
Karev tirou o copo das mãos dela e tentou ajudá-la a respirar. Tudo isso enquanto se esforçava para não rir daquela situação, nem perceber o quão meiga ela era.
Ela era tão sensível quanto parecia e ele tinha sido um bruto.
— Foi falta de traquejo da minha parte. — disse ele, sorrindo, enquanto lhe entregava um copo de água. — É claro que uísque escocês puro seria forte demais para uma dama inglesa.
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O florescer dos lírios
RomanceNesse envolvente romance de época, três mulheres com personalidades diferentes se encontram e tem suas vidas mudadas enquanto embarcam em uma jornada de cura, autodescoberta e procura pelo amor.