Violet saiu assim que Elena terminou de arrumar seu cabelo. Fizera um penteado diferente naquele dia, algo mais selvagem. Elena trançou a parte de cima até a metade e deixou os fios debaixo soltos, o que salientou o traços angulares de seu rosto de uma forma romântica. Escolheu usar um vestido verde, como um comunicado silencioso, como se estivesse tentando transparecer o elance entre eles de todas as maneiras possíveis, mas só até onde a sutileza permitia, na faixa linear de poder se ofender caso alguém sugerisse que agiu de tal maneira motivada pelas razões citadas.
Esperava que Karev notasse. Não da maneira como desejava que os outros percebessem, mas como uma forma de dizer "eu aceito quem você é, se você aceitar quem eu sou".
Eles seriam uma mesma família, seus filhos dividiriam o sangue de ambos. Sabia que não podia ter amor, mas faria todo o possível para manter o afeto que ele nutria por ela, assim poderia viver uma vida feliz e sem muito drama.
E também gostava de exibir a brisa de mudança que permeava seu humor. Estranhamente, tinha sido tomada por certo orgulho. Secretamente, chegava a pensar "eu consegui! Todos acharem que eu não conseguiria e eu consegui!".
Isso vinha junto com certa dose de confiança, o que também era um sentimento estranho para ela. Karev praticamente tinha colocado o mundo aos pés dela. Ela nem precisou pedir. Não costumava ser uma pessoa materialista, mas era bom saber que finalmente poderia ter coisas.
Agora estava com um novo penteado, trajando um vestido verde escuro, carregando suas tintas e telas e indo ao encontro de seu futuro noivo. Problemas a parte, aquele parecia ser um início de dia promissor.
Ainda no quarto, a banheira que Elena havia solicitado tinha chegado e agora ela estava despejando água morna e sais aromáticos dentro dela, enquanto Madeline se preparava para o banho.
Uma das outras criadas se ofereceu para banhar a lady, como tinha feito nos dias em que Elena estivera ausente, mas ela a dispensou.
Sentia que Madeline precisava conversar. Ela parecia um pássaro ferido. Estava de dar dó.
Era notável o contraste entre a alegria desmedida, e merecida de Violet, e a melancolia, talvez também merecida, de Madeline.
Como um boa criada e talvez futura dama de companhia, Elena precisava estar atenta as necessidades de suas ladys.
Como amiga, ela estava preocupada.
Madeline adentrou a banheira e ficou dentro dela em uma espécie de posição semi fetal. Elena usou a escova para ensaboar suas costas. Por muito tempo, nenhuma das duas disse nada.
Era de se esperar que a condição de subserviência aparente em que Elena estava em relação a outra fosse causar algum tipo de distanciamento natural entre as duas, mas enquanto sentia a escova passar por seus ombros, Madeline só conseguiu sentir que estava sendo cuidado por uma amiga, que sabia que ela estava se sentindo fraca demais para cuidar de si mesma. Isso a lembrou da mãe e a fez sentir saudades de casa.
Elena, do mesmo modo, apenas sentiu como se estivesse cuidado de alguém que amava, como fazer com Cléo ou com... Ela afastou o pensamento da cabeça. Apenas com Cléo, pensou novamente, finalizando assim dessa vez.
Elena pediu que Madeline se recostasse para que ela pudesse lavar seus cabelos.
Quando o fez, Madeline a encarou, indagando:
— Elena, posso pergunta uma coisa, agora que somos amigas?
Ela a sorriu.
— Eu ganhei muitos amigos novos nos últimos dias. — brincou. — É claro. Pergunte.
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O florescer dos lírios
RomanceNesse envolvente romance de época, três mulheres com personalidades diferentes se encontram e tem suas vidas mudadas enquanto embarcam em uma jornada de cura, autodescoberta e procura pelo amor.