Capítulo 5

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Certa vez Sebastian ouvira de um de seus casos que ele sempre aparentava estar flertando, mesmo quando dava apenas um "boa noite".

Eram os olhos, ela acentuou. Sebastian tinha olhos de flerte.

Mas se seus olhos eram assim tão receptivos, por que aquela criada o encarava com tanto pavor?

Aparentemente ela estava roubando um livro, mas ele não iria estapeá-la por isso. Na verdade, tudo que ia fazer era pedir gentilmente que ela devolvesse a obra para a prateleira.

Livros eram artigos de luxo.

Dependendo do tipo de folha e da estrutura da capa, podiam valer até trinta libras. Não era surpreendente que alguém estivesse roubando de uma biblioteca tão grande, onde um sumiço ou dois passaria totalmente despercebido. Sebastian só não sabia quem, em um vilarejo tão pequeno e humilde, estaria disposto a pagar tanto em livros roubados.

Qualquer pessoa que pudesse pagar trinta libras em um livro, podia comprá-lo de um fornecedor legítimo.

— Eu não... — a mulher tentou falar, mas logo se calou, não parecendo conseguir formular a frase. — Eu...

Sebastian arqueou uma sobrancelha em expectativa. Doía reconhecer, mas aquele estava sendo o ponto alto do seu dia.

Uma trama sobre roubos não era exatamente o tipo de agitação que ele queria naquela semana, mas se era isso que tinha...

— A quanto tempo está afanando a biblioteca? — indagou, se recostando em uma coluna.

A mulher franziu o cenho.

— Afanando?

— Furtando? — ele tentou novamente. — Não sei um jeito delicado de perguntar isso.

Ela se equilibrou no outro pé, parecendo mais curiosa do que envergonhada ou assustada, o que fez Sebastian ficar ainda mais intrigado em relação àquela situação.

Ele nunca imaginou como uma ladra de livros deveria ser, na verdade ele nunca tinha pensado em nada tão específico antes, mas se tivesse o feito com certeza não seria assim.

A mulher mal tinha um metro e meio de altura.

Se ficasse na ponta dos pés, ainda bateria nos ombros dele. Não que precisasse ser alto para roubar livros, é claro, mas qualquer pessoa que se atrevesse a furtar alguma coisa devia ao menos ter olhos maliciosos e uma altura mediana.

Ela nem devia conseguir alcançar a última prateleira.

Não devia conseguir alcançar nem a terceira.

— Não estou roubado os livros. — ela finalmente se defendeu. — Eu os levo e leio antes de dormir, no dia seguinte trago no mesmo estado e pego outro.

O modo como falava, em oposição ao que dizia, parecia bastante honesto. Havia firmeza em sua expressão, negando qualquer tipo de sentimento semelhante a culpa.

— Entendo. — Sebastian pegou o saco, ouvindo-a resmungar em protesto.

Ele retirou o livro e leu o título, franzindo o cenho logo em seguida.

— E sua leitura dessa noite é "Análise de compatibilidade e serviços hipotéticos". Divertido.

O livro era sobre isso?

Elena não entendeu porque ficou tão decepcionada. Esse nem era o pior título que ela já havia escolhido. Conseguia contar nos dedos quantas vezes tinha levado para casa algo que realmente valesse a pena ser lido.

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