Capítulo 6

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Elena encarou o invasor misterioso por alguns segundos, o cenho franzido. Olhando com mais atenção, ele lhe lembrava alguém que ela conhecia, mesmo que tal coisa fosse bastante improvável. Aquele homem com toda certeza era um convidado da casa, o que significava que ou era muito rico ou um nobre.

Talvez os dois.

E Elena não conhecia muitas pessoas que reuniam tais atributos.

De qualquer forma, ela achou que não havia mais conversa para ser estendida, então apenas assentiu e deixou a biblioteca.

Aquela tinha sido a interação mais estranha e inesperada que tivera em toda sua vida. Era provável, entretanto, que esbarrasse com aquele mesmo homem no dia seguinte e ele não conseguisse sequer distinguir o rosto dela.

Por mais gentis que os afortunados pudessem ser, dificilmente eles conseguiam olhar com atenção para os subalternos.

A própria lady Albernathy ainda errava o nome dela vez ou outra.

Elena não se ressentia com isso, é claro.

Cada um tinha o seu lugar e o dela era bom, apesar de tudo. Tinha um bom emprego, uma casa quente e confortável, embora pequena, uma companheira de vida que ela adorava de todo coração e agora, graças ao homem que ela não sabia como se chamava, um livro que realmente valia a pena ser lido.

O que mais alguém poderia querer?

Não importava que os poderosos não notassem a existência dela, sua vida era boa e feliz. Eles que ficassem em suas salas revestidas em ouro tomando bebidas que valiam mais que seu salário anual. Ela ia passar a noite deitada no sofá gasto usando meias remendadas e escutando sobre um romance que devia ser fantástico.

Mal se livrou dos sapatos quando chegou em casa e já estava se debruçando sobre o sofá, tamanha era a sua ansiedade para o começo da leitura.

— Cléo, venha aqui. — ela chamou.

A garotinha emergiu de seu pequeno quarto, estranhando a euforia súbita de Elena.

— Eu tomei banho. — ela tratou de se defender antes mesmo de ser acusada.

— Olhe. — Elena estendeu o livro, os olhos brilhando.

Cléo analisou a capa, abrindo um sorriso ao ler o título.

Os cachos dourados de Emma Buterflue.

Fazia tanto tempo que elas não tinham uma leitura como aquela e, para o bem da verdade, Cléo lera os últimos livros apenas para agradar Elena, que amava qualquer coisa formada por palavras.

— É um romance. — esclareceu Elena, abrindo espaço para a garotinha no sofá. — Pode começar a ler.

A mais velha estava tão animada que tremia levemente, a expectativa esquentando um cantinho especial do seu coração.

A senhorita Emma Buterflue era a moça mais bem apessoada de todo o vilarejo de Navarro. — começou Cléo. — Apesar de não possuir grande fortuna...

Elena escutara atenciosamente cada palavra, fazendo sons de surpresa e agrado em todas as partes que a causavam tais emoções. Era uma história interessante sobre uma jovem de boa aparência que aspirava mais do que poderia ter.

Ela desejava amor, fortuna e renome e a cada oportunidade de consegui-los acabava colocando tudo a perder.

Elena riu em algumas partes e quase chorou em outras.

Em determinado momento, ela se flagrou questionando que emoções aquela mesma leitura tinha despertado no homem que a indicara. Elena não conseguia imaginar um tipo tão distinto se emocionando com as citações de um romance, mas ele parecia ter um carinho muito especial por aquela obra quando a indicara.

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