Capítulo 26

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Desde o incidente no bordel, Elena foi afastada de seus fazeres por dois longos dias, que vieram a calhar, já que sempre era muito exaustivo quando a casa estava cheia e ela já não passava tempo com Cléo há algumas semanas. Além disso, tinham sido agraciadas com a presença de Sebastian na tarde anterior, o que, para o bem da verdade, havia sido muito divertido.

Era impressionante quantas coisas ele sabia! Mesmo para um lorde bem educado, era muito. Conhecia os livros de cabeça. Falava sobre o tipo de escrita dos autores. Se empolgava contando anedotas acerca do processo de criação das obras.

E era tão gentil. E engraçado! Em determinado momento ele a fez rir tanto que ela sentiu a barriga doer.

Ela foi o caminho inteiro do chalé até a propriedade pensando nele e na tarde que tiveram. Ficava relembrando um momento específico, em que ele estava deitado sobre os cotovelos, deixando o sol banhar seu rosto, e então voltou o rosto na direção dela, e, devido a iluminação, os olhos brilhavam como safiras e o cabelo parecia estar em chamas, esvoaçando com o brisa suave.

Parecia um anjo caído.

Lembrava das histórias sobre o lindo anjo que desafiou Deus e teve suas asas cortadas. Era um querubim, relegado ao inferno por suas infâmias. Ainda assim, permanecia lindo.

Era como Sebastian. Um anjo caído.

Adentrou a casa pela cozinha e foi recebida com muito carinho por suas colegas de trabalho. Elas a atualizaram sobre dois ou três acontecimentos, o que a fez lembrar de suas duas ladys, de quem, supreendentemente, ela havia sentido saudades.

Pegou algumas roupas de cama novas, que precisavam ser trocadas, e subiu em direção a ala dos quartos. Antes que pudesse chegar até lá, entretanto, ouviu uma voz a chamar animadamente, em um tom alto demais.

— Elena! — anuiu Sebastian. — Você voltou!

Ela estava nos primeiros degraus da escada e, como
ainda era muito cedo, criados passavam de um lado para o outro.

Elena pausou o passo e respirou fundo, se voltando para ele.

— Lorde Plimont. — ela reverenciou brevemente, o repreendendo com o olhar, então meneou a cabeça em direção a um saleta ao lado, onde nunca tinha ninguém.

Ela foi até lá e ele a acompanhou.

— Está ficando maluco? — grunhiu Elena, dando um tapa no ombro dele. — Não pode falar assim comigo na frente dos outros criados.

Ele fez uma cara de menino travesso que ela odiou.

— Isso doeu. — reclamou, mesmo sendo mentira.

— Foi para doer. — retrucou Elena.

— Você é uma coisinha bastante irritante, sabia? — indagou Sebastian, puxando levemente a liga da touca dela.

Não gostava de vê-la usando aquilo. Mas no momento só o fez por implicância.

Ela deu um tapa na mão dele e arrumou a touca novamente.

— Não fale comigo na casa. — disse ela.

Sebastian franziu o cenho, ultrajado.

— Nem na biblioteca? — indagou, como uma criança mimada cujo os pais haviam tirado o doce.

Elena respirou fundo.

— Tudo bem. Na biblioteca. Se não tiver ninguém.

Sebastian sorriu, parecendo Satisfeito.

— Terminou de ler o livro? — inquiriu ele.

Ela sorriu, se lembrando da parte da história em que tinha parado. Uma linda carta escrita pelo mocinho.

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