Capítulo 9

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Elena não sabia se a visão dos plebeus era diferente das dos nascidos nobres, mas de alguma forma ela conseguiu enxergar o suficiente para chegar até a escada, de onde quase despencou antes de encontrar uma maneira de se equilibrar.

Ela subiu os degraus quase sentada, temendo pisar em falso e acabar quebrando metade dos ossos.

Não imaginava como elas fariam para fugir daquele bordel depois que a porta fosse aberta, mas não podia simplesmente ficar quieta esperando para ser abusada.

Ela não tinha ficado cinco anos antes, não ficaria agora.

Precisaria estar muito debilitada ou inconsciente para não lutar contra qualquer tipo de violação.

Talvez as duas ladys tivessem o precedente de uma vida inteira sendo ajudadas ou salvas, mas ela nunca tinha sido resgatada antes e não era agora que seria. Se não arrumasse um jeito de sair daquele porão fétido sozinha era provável que acabasse morta, porque escolheria isso mil vezes antes de permitir que um homem a tocasse outra vez.

Lutou arduamente com seu subconsciente para manter as lembranças dolorosas em um lugar seguro, mas resquícios cruéis a assombravam.

Era como voltar a anos atrás, quando sentia tanto medo que seus pés gelavam. Como naquela época dolorosa, o pavor a consumia tanto que ela não conseguia sentir nada até que tudo passasse, o que era bom, porque a externalização de seu medo apenas a impediria de ajudar a si mesma e aos outros.

Ela nunca teria conseguido esconder Cléo tantas vezes se tivesse sido tomada pelos próprios temores e nunca conseguiria ajudar as ladys se não fosse por essa mesma sensação de apatia.

— Vocês não conseguem mesmo enxergar nada? — ela indagou quando chegou até o degrau mais alto.

— Apenas sombras. — lady Madeline respondeu. — Acho que dá para ir até a escada se nos encostarmos nas paredes.

— Então faça isso.

Ela tateou a porta, tentando não focar nas pequenas frestas de luz que deixavam sua visão turva. Mordeu o lábio quando uma farpa entrou em um de seus dedos, causando uma dor aguda. Ela tentou ignorar a sensação estarrecedora, porque não conseguiria tirar a madeira de dentro da pele naquele escuro, e continuou tateando a porta.

Dava para ouvir as duas garotas se movendo, o que era um alívio. Elena chegou mesmo a achar que elas não conseguiriam fazer nem isso.

Talvez devesse ponderar sobre isso depois. Era provável que estivesse julgando demais as duas mulheres. A atitude de lady Madeline ao se sacrificar pela amiga mostrou uma versão dela que Elena achava inconcebível até então.

Nem sequer se lembrava porque tinha tanta antipatia por aquela garota. Tinha se irritado pela falta de afazeres, mas não era justificativa. Depois houve a atitude tola e inconsequente que as colocara naquela situação terrível, mas Elena provavelmente tivesse sido um pouco mais compreensiva se a ação viesse de qualquer outra pessoa.

Talvez aquela aversão sem fundamento fosse apenas uma daquelas coisas que surgem sem uma fonte explicável e esses geralmente eram os piores tipos de sentimento.

Elena daria uma chance para a lady, mas primeiro precisava arrumar um jeito de tirá-las dali.

Ela continuou tateando a porta, até que conseguiu achar um pedaço de madeira que parecia mais mole que todo o resto.

— Tem um... — ela empurrou aquela parte da porta com as duas mãos, conseguindo uma abertura. — Tem um buraco na porta.

Se empurrasse mais conseguiria deixá-lo grande o suficiente para enfiar o braço e alcançar o trinco, onde provavelmente estaria a chave.

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