Ela não se esqueceria daquele dia por uma série de motivos, mas por enquanto o principal deles era que pela primeira vez tinha enxergado um lado do mundo para o qual fora cega durante todos os seus vinte e um anos.
Violet não sabia como seria sua vida depois daquele dia, mas tinha certeza que, independente do que acontecesse nas próximas horas, nada seria como antes.
Ela desprezava Madame Delyon, é claro, mas não conseguia deixar de notar, com desconfiança e curiosidade, a maneira como ela havia a tratado.
Violet não era nenhuma burra. Ela sabia que toda aquela franqueza forçosamente acolhedora soava muito mais como uma tentativa de fazê-la enxergar aquela situação deplorável de maneira mais branda ou até mesmo considerá-la para si do que um gesto de empatia genuíno.
O que ela não esperava, entretanto, era ter, mesmo que por um milésimo de segundo, se sentido atraída por tal sugestão. Talvez fosse apenas curiosidade ou a novidade de ter sido vista de uma maneira diferente da qual estava habituada, mas aquilo a instigou.
E isso a fez se sentir horrível.
Tinham mulheres sendo presas e abusadas naquele lugar. Mulheres que perderam o direito sobre os seus corpos e eram tratadas como meros objetos.
Não importava o quanto aquilo fosse semelhante ao matrimônio, ainda era errado e nojento.
Usando as palavras da própria madame Delyon: abuso é abuso.
E Violet jamais se submeteria a algo assim.
Ela não sabia o que esperar da vida, não tinha expectativas ou grandes paixões, mas tinha certeza, com todas as fibras de seu ser quebrado, que jamais abriria mão da sua dignidade.
Poucos minutos depois de madame Delyon sair do quarto, uma batida leve se fez ouvir. Violet não disse nada, mas logo uma moça adentrou o quarto.
— Olá. — ela falou em tom amistoso. — Madame Delyon me mandou para arrumá-la.
A moça trazia em mãos algumas coisas que provavelmente seriam usadas em Violet.
— Você é a atração principal, — continuou ela, parecendo genuinamente animada. — meus parabéns. Estarão aqui por sua causa.
Violet não conseguiu acreditar que realmente estava ouvindo aquilo, mas não contestou.
Depois de tudo, não parecia valer a pena.
Só a expectativa de ser o centro das atenções em qualquer coisa já a apavorava, que fosse aquela situação específica tornava tudo ainda pior.
Ela seria exposta para um monte de homens. Homens nojentos que ofereciam dinheiro para tê-la.
— Ela disse que você não falava muito. — comentou a moça, arrumando sobre a cama as coisas que tinha trazido.
Mais uma vez, Violet não disse nada. As palavras nunca tinham vindo fácil para ela e naquele momento em especial nada parecia adequado para ser dito.
Quando estava com pessoas com quem não tinha intimidade ou não se sentia confortável, Violet acreditava que só deveria falar quando tivesse algo que valesse a pena.
Em um momento de pré-violação, nada parecia digno.
Ela poderia surtar. Poderia gritar e ser a protagonista de um grande escândalo, mas do que isso adiantaria? Do que serviria?
A moça pausou repentinamente o que estava fazendo e se virou para encarar Violet.
— Está com medo? — indagou.
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O florescer dos lírios
RomanceNesse envolvente romance de época, três mulheres com personalidades diferentes se encontram e tem suas vidas mudadas enquanto embarcam em uma jornada de cura, autodescoberta e procura pelo amor.