Capítulo 14

1.5K 222 46
                                    

Madeline estava decidida a passar uma borracha por cima dos últimos acontecimentos e transformar a estadia na propriedade dos Albernathy em uma semana memorável. Ela só precisava limpar sua mente de toda e qualquer negatividade e o resto fluiria naturalmente. Era difícil se manter leve quando tanta coisa acontecia em seu entorno, mas ela não tinha dúvidas de que conseguiria.

Ninguém, nem mesmo Nicholas com as investidas descaradas e insensíveis, tinha o poder de tirar sua preciosa paz de espírito. Ela tinha ido até lá com o intuito de começar uma nova fase e não deixaria que nada atrapalhasse.

Foi maravilhoso que Isabel tivesse separado aquela tarde para que elas se recuperassem e Madeline nem saberia como agradecer a amiga por ter negligenciado propositalmente aquela linda e imensa estufa. Seria uma ótima distração para as horas vagas e ela não deixaria nenhum espaço para que sua mente vagasse por caminhos tortuosos. Ocuparia cada segundo dos dias em que passaria ali e seria incrível.

Tirou a parte de cima do vestido, que, apesar de ser um modelo diurno, era todo trabalhado em rendas e pérolas, e vestiu um avental.

Começou organizando as prateleiras e aparando a folhagem, que já chegava ao chão. Algumas rosas, que outrora deviam proporcionar aroma e visão sem igual, estavam murchas e secas, o que era imperdoável.

Ela as regou e se deleitou com a visão de um futuro próximo, onde elas brotariam, livres e ostensivas. Era isso que Madeline gostava tanto na botânica. As plantas, especialmente as flores, sempre prometiam coisas boas e belas para o futuro. Ela sabia o que esperar e sabia que seria bom e bonito.

Queria que houvesse mais disso na vida.

No meio de toda aquela falta de cuidado e secura, ela encontrou um último vestígio do que aquele lindo jardim já tinha sido. Uma última rosa branca residia em um vaso solitário. As pétalas já ameaçavam cair e ela claramente não sobreviveria a mais um dia.

Madeline pegou o pequeno vaso e colocou cuidadosamente sobre a mesa.

— O que eu vou fazer com você? — indagou para a rosa, mordendo o lábio inferior pensativamente. — Acho que merece um fim digno, com cores e todo o resto. Não que eu não goste da sua cor. É linda. — ela suspirou. — Mas pode ficar mais. Para que quando você renasça, no paraíso das rosas, todos admirem suas pétalas coloridas.

Ela pegou um galho verde e o cortou, colhendo o líquido viscoso que escorria com uma faca. Encheu um pote inteiro e depois se pôs a andar entre as prateleiras, procurando por pétalas que ainda não tinham murchado completamente.

A primeira que achou foi de uma rosa amarela e logo estava transformando o líquido que tinha colhido do galho em uma espécie de tinta dessa mesma cor. Colocou um pouco próximo a raiz da flor, comprimiu com uma pedra e esperou até que uma das pétalas ganhasse cor. Ela tinha desenvolvido aquela técnica a alguns anos e ainda ficava surpresa sempre que acontecia. Era como mágica.

Ela retornou para o meio das prateleiras, mas se assustou quando ouviu um barulho alto emergir de um dos cantos.

O que...?

A porta não tinha sido aberta desde que ela entrara e Isabel havia garantido que a estufa não estava sendo cuidada por ninguém a semanas.

O barulho se repetiu e Madeline quase pulou para trás. Será que era algum animal? Era provável que sim, porque ela nunca tinha ouvido uma pessoa soltar tal rosnado.

Mais uma vez e ela se agarrou a uma pá que estava pendurada na parede mais próxima, caminhando cautelosamente em direção ao som.

Ritmicamente, ele voltou a se repetir e depois de novo, de novo, de novo... Até que ela encontrou a fonte.

O florescer dos lírios Onde histórias criam vida. Descubra agora