Capítulo 16

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Elena tinha sentido um grande alívio ao saber que teria alguns dias longe de toda a movimentação na casa Albernathy. Fazia tempo que ela não tirava um tempo para si mesma ou para ficar com Cléo, que estava se tornando independente demais para uma criança de dez anos. Ela era brilhante e criativa e Elena se ressentia por não conseguir acompanhar detalhadamente sua evolução. Os anos passaram rápido demais desde que elas chegaram ali e Elena temia ter firmado mais raizes que o necessário ao redor daquelas terras férteis. Não era para ter sido uma parada definitiva, mas a medida que se instalavam naquele pequeno vilarejo, entre conseguir alugar um pequeno chalé nos limites das terras de lorde Albernathy e conseguir um emprego na propriedade, ficar acabou sendo bom e não tinha mais porque continuar indo. Só que agora, enquanto a paz reinava quase soberana, Elena guardava em si questionamentos constantes. Havia nela uma ânsia indistinta, que a fazia indagar se não existia para ela nada além daquela amenidade branda. Mas o que poderia existir? A vida já era gentil em lhe conceder proteção e tranquilidade depois de tudo que passara, não devia ela apenas ser grata?

Ainda assim, parecia que algo não estava certo. Como se uma parte de sua vida, um parte de si mesma, ainda não estivesse... Completa?

Bobagem.

Ela sabia que era bobagem, mas nem sempre as divagações podiam ser contidas. Na maior parte do tempo, entretanto, Elena não tinha tempo para se perder em tais pensamentos. Com tantas ocupações, era difícil realmente acreditar que ainda faltava algo. Mas faltava. Ela sabia que faltava. Olhando para Cléo, entretanto, ela sentia que se a aceitação de sua condição significasse dar a irmã tudo o que nunca teve ou teria, então valia completamente a pena. Se Cléo tivesse uma vida completa, intensa e feliz, Elena se contentaria em viver carregando dentro de si a inquietude de um pequeno e inexplorado espaço vazio. Ela só precisava descobrir como se tornar apta a proporcionar coisas boas para Cléo sendo apenas uma criada que mal recebia o suficiente para comprar meias novas.

Naquele final de tarde e no dia seguinte, todavia, as meias remendadas teriam que servir, porque ela não faria nada além de passar o máximo de tempo em casa, escutando o final de Os cachos dourados de Emma Buterflue e assando bolinhos. Um descanso merecido depois de toda a turbulência do dia anterior. Ela precisava de memórias leves para substituir o pesadelo que tinha sido.

Só quando Cléo se negou a finalizar a leitura do livro, alegando estar com a vista cansada demais para prosseguir, Elena percebeu que não teria sua tarde dos sonhos e as duas ficaram emburradas em cantos opostos do pequeno sofá, o que não as separava muito. Depois de alguns longos minutos, horas depois de o sol ter se posto, Cléo sugeriu a coisa mais absurda de todo o universo e Elena, sendo guiada por seja lá qual ápice de insanidade repentina, aceitou quase que prontamente. Agora ela estava na biblioteca da casa Albernathy, olhando para ninguém mais ninguém menos do que o irmão de lady Albernathy, o mesmo que tinha a flagrado em uma situação muito semelhante a duas noites atrás.

— Milorde. — Elena se abaixou em uma meia reverência esquisita, tentando digerir o fato do conde tê-la chamado pelo primeiro nome, embora eles nunca tenham sido apresentados ou qualquer coisa que justificasse tal comportamento.

Ele tinha ido em seu auxílio e das ladys na noite anterior, mas não houve nenhuma troca de palavra entre os dois. Elena duvidava muito que ele sequer tivesse lembrado que ela era a mesma garota da biblioteca e agora estava a chamando pelo primeiro nome?

— Sabia que já tinha visto você antes, mas não me lembrava de onde. — murmurou ele, confirmando as suspeitas de Elena. — Você é a...

— Afanadora da biblioteca? — ela completou antes dele, olhando nervosamente para o outro lado da prateleira onde Cléo tinha se escondido assim que o barulho da porta anunciou a chegada daquele intruso.

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