Capítulo 12

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"Vá em frente e chore,
garotinha. Ninguém faz isso como
você faz. Eu sei o quanto isso
importa para você. Eu sei que você
tem problemas com seu pai. E se você fosse minha garotinha, eu faria o que eu pudesse fazer, eu
correria e me esconderia
com você."
Daddy Issues - The Neighborhood

Nick Perez

    Todos na mesa estão em choque com o que acabou de acontecer. Todos se olham assustados e Ana tem aquele maldito sorriso convencido em seu rosto. Eu prometo que se ela fosse um homem, não estaria em pé agora.

    Eu não sei o que a Bella faz em mim, só sei que sempre que vejo alguém falando dela ou colocando ela em situações difíceis, sinto como se pudesse matar com minhas próprias mãos.

    Saio da mesa e ouço alguém me gritando.

— Não venham atrás de mim. — Grito de volta.

Vou em direção ao jardim, onde Bella foi.

    Vejo o céu estrelado e percebo que aqui fora está silencioso, a musica quase não chega aqui.

    Ouço alguém chorando e olho para o chão. Bella está lá, encolhida sentada na grama, de cabeça baixa. Vou até ela e me sento ao seu lado.

    — O que é? Veio continuar a humilhação? — Ela diz ainda de cabeça baixa. Ouvir sua voz chorosa me quebrou por completo.

    — Não, Bella. Eu só vim... ver se quer desabafar. — Suspiro. Ela finalmente me olha. Seus olhos estão vermelhos, mas sua pupila brilha, assim como todas as vezes que olho para ela.

    — Você não aguentaria ouvir metade da história. — Engulo seco.

    — Por que você não tenta me contar? Eu aprendi com a psicologa do time que desabafar faz bem. — Ela desvia seu olhar. As lágrimas em seu rosto começam a descer com mais velocidade. — Do que a Ana estava falando? — Pergunto meio que já sabendo a resposta.

    — O que ela disse é verdade. Marco realmente fez isso. Mas foi só até os meus onze anos. Depois disso fui morar com meu tio. Os meus avós nunca souberam de nada, se não teriam denunciado Marco muito antes. Minha mãe não deixava ninguém saber de nada. Ela é uma das mais culpadas disso. Ela era praticamente cúmplice dele. Quem olha e não faz nada também é agressor. Mas eu não aguentei e contei para o meu tio. Na época ele era de menor e não podia fazer muita coisa, mas quando ele fez dezoito anos conseguiu a minha guarda. — Ela respira cada vez mais rápido.

— E quem denunciou seu pai? — Ela abaixa sua cabeça novamente. Levo minha mão até seu cabelo e acaricio o local.

— Ge- Geraldo. Ele trabalhava com Marco. Após Geraldo descobrir que ele desviava dinheiro da empresa, denunciou tudo para a polícia.

— E por que Ana disse aquilo de Geraldo? — Ela fica em silêncio. Ah meu Deus. Entendi. Como alguém tem coragem de fazer isso com a Bella? Uma garota que não faz mal para ninguém. Está aí, de novo o sentimento de querer matar alguém que eu nem conheço. Ela levanta sua cabeça e me olha.

— Mas por favor, não conta isso para ninguém, ninguém pode saber. Eu não sei como Ana descobriu. — Ela me olha e assinto. Chego mais perto dela e ela deita sua cabeça em meu ombro.

— Sinto muito, Bella. — Continuo com a mão em seu cabelo.

— Não precisa sentir. Já passei a minha vida toda sentindo. Só quero esquecer tudo. Achei que vindo para a Espanha eu finalmente me livraria do meu passado. Mas ele me persegue onde quer que eu vá. — Gostaria de dizer algo a mais, mas não consigo. Porém, acho que meu silêncio reconforta Bella. Ela me olha de novo. — Obrigada por me ouvir. — Deita sua cabeça novamente.

...

Passamos um tempo em silêncio. Fiquei pensando em todas as vezes que fui um completo idiota com a Bella. Não é proposital, eu não sei o que acontece que sempre que ela está por perto é como se algo tirasse toda a minha paciência e as palavras sumissem da minha boca.

Ela não merece ser tratada assim, mas eu realmente me esforço, mas acabo estragando tudo sempre. Eu me odeio nesse sentido. Por que eu não consigo ficar normal perto dela?

— Eu vou para casa. — Ela diz se levantando.

— Deixa que eu te levo. — Me levanto também. Vejo nos seus olhos que as lágrimas haviam secado.

— Não precisa. Meu motorista vem me buscar. — Ela diz tirando seu celular de sua bolsa.

— Me deixa fazer isso por você. — Olho para seu rosto e não consigo distinguir nenhuma expressão.

— Tudo bem. Vamos ter que passar pela festa? — Ela olha preocupada.

— Não, daqui pelo jardim é possível sair na rua. Vamos. — Nós vamos andando enquanto eu guio ela até a saída do jardim.

Chegamos até meu carro e eu abro a porta para ela que entra. Dou a volta e entro também.

— Aqui o endereço da minha casa. — Ela me mostra seu celular. Não preciso do endereço, lembro o caminho. Será que ela se esqueceu?

Dou partida no carro e ligo o som. Tocava alguma musica do The Weekend que Bella cantarolava baixinho.

O trajeto demorou cerca de uns quinze minutos. Como era de madrugada e a cidade estava vazia, não maneirei na velocidade.

— Entregue. — Olho para o lado e vejo que Bella quase dormia no banco.

— Obrigada. E sobre a nossa conversa hoje... — Antes dela terminar eu já completo.

— Relaxa, Bella. Não vou contar para ninguém. — Ela olha no fundo dos meus olhos, reparo em como seus olhos castanhos ficaram tão claros com a luz da lua refletindo neles.

— Obrigada. — Ela saí do carro e vejo ela passando por vários seguranças antes de entrar em casa.

Decido voltar para minha casa. Não tenho clima para festa agora.

Sob os Céus da Espanha - Iza Calcar Onde histórias criam vida. Descubra agora