11 de abril de 2015
Depois de sair do trabalho, meu ódio era tanto que eu não conseguia raciocinar direito, eu precisava falar com alguém e ao mesmo tempo queria ficar sozinho. Custei a acreditar no que eu tinha ouvido na reunião.
— Aquele desgraçado! – repetia sem parar para mim mesmo — Não é possível isso...
Eu saí do trabalho às quatorze horas, realmente não queria ir pra casa, mas ao mesmo tempo não sabia para onde ir. Estava tão atônito que andei a pé e sentei numa praça quatro quadras de onde eu trabalhava. Meu celular vibrou. Era uma mensagem.
Sarah: "E aí vagabundo, onde cê tá?"
Eu: "Na praça dos skatistas e você?"
Sarah: "Uai, fazendo o quê aí, desde quando tu curte skate?"
Eu: "não curto."
Sarah: "Pois é, então cê tá bolado com o quê?"
Eu: "nada não"
Sarah: "porra Alê. Para de fazer cu doce e me fala logo, caraca. Te conheço!"
Eu: "é um lance lá no trampo... Cara tô com muita raiva"
Sarah: "Quer vir aqui pra casa?", "A gente conversa, vc me conta o que aconteceu ou a gente só fica de boa. O que achar?"
Ela não esperou minha resposta e enviou a localização da casa dela. A Sarah me conhecia o suficiente para saber que eu não ia responder, mas aceitaria o pedido dela. Era a primeira vez que ia até a casa dela e pensando bem, eu não sabia quase nada sobre ela que não fosse coisa do trabalho. Se bem que ela não sabia muito sobre mim também, só coisas do trabalho. Olhei a localização e um pouco longe dali. Chamei um carro de aplicativo e meia hora depois eu estava lá.
Ela morava em um apartamento e depois que o porteiro me liberou, fui recebido por ela com uma empolgação que só ela tem.
— Bem-vindo ao meu apertamento. É pequeno, mas é igual coração de mãe, quentinho e sempre cabe mais um – falou sorrindo espontaneamente – Cara você tá péssimo.
— Nem me fale, não dormi direito ontem e hoje na hora de sair do serviço, recebi uma intimação.
— Intimação? Como assim? – ela perguntou espantada.
Eu contei como a mensagem chegou à minha caixa de entrada e como pensei que seria demitido, mas na verdade, ao entrar na sala, estavam lá, minha chefe, a Márcia, o diretor da filial, um dos seguranças da empresa e um homem que eu desconhecia. Eu fiquei sem entender o que estava ocorrendo e o diretor da filial se antecipou antes que eu fizesse qualquer pergunta e apresentou o oficial Sérgio.
O oficial se levantou e entregou a intimação, me explicou que eu deveria comparecer no endereço indicado segunda-feira às quatorze horas para prestar esclarecimentos. Quando perguntei porque estava sendo intimado, fui informado que estava sendo acusado de lesão corporal leve. O oficial olhou para mim e observou meu ferimento e hematomas. Fiquei tão nervoso que comecei a falar alto com o oficial que me alertou para que eu baixasse o tom se não quisesse ir preso por desacato a um servidor público. Disse que para maiores esclarecimentos eu deveria comparecer na delegacia. Havia também uma medida restritiva para proteger a "vítima". Nela dizia que eu deveria manter uma distância de pelo menos quinhentos metros do Douglas e que eu não deveria estar no mesmo ambiente que ele. Por isso a empresa estava me transferindo para a filial da zona sul.
— Como assim? – Sarah falou indignada – O infeliz te agrediu e ainda abriu um boletim de ocorrência e medida protetiva contra você.
— Foi o que tentei explicar ao oficial, mas ele disse que como eu não fui até a delegacia fazer um boletim, o Douglas foi e agora eu é quem tenho que prestar esclarecimentos.
— Não se preocupe, nós vamos lá e acabamos com essa confusão. Serei sua testemunha.
— Se fosse simples assim. Enquanto a investigação ocorre, eu tenho que trabalhar em outro lugar. Dá pra acreditar?
Sarah me abraçou e tentou me acalmar. Foi até a cozinha e voltou com duas taças e uma garrafa de vinho. Falamos um pouco mais sobre o assunto e queríamos acreditar que a Hiroko não estava envolvida nisso.
— Bem, vamos mudar de assunto – ela disse – Como vai a sua terapia?
— Ah, o de sempre, fiquei calado quase o tempo todo. Era a última, eu não volto lá.
— Tem certeza? Eu não te conheço tão bem, nem sei como é sua vida, mas se seus pais indicaram, acho que deveria continuar indo.
— Claro, claro. Sabe como é, eu falo pouco e não gosto de compartilhar minha vida com ninguém.
— Sei, sei – ela disse demonstrando certa chateação – Por isso não somo amigos, mas apenas colegas de trabalho que não sabem nada um do outro quase, não é? É por essas e por outras que você não se dá bem. – disse me cutucando. Contorci-me e derramei um pouco de vinho no tapete branco dela.
— Opa, derrubei vinho no seu tapete – afastei-me da parte molhada e ia me levantar para pegar algo para secar ali, mas ela começou a fazer cócegas em mim e a taça dela virou em cima de minha camisa.
— Olha o que você fez — eu disse segurado as mãos dela — Minha camisa vai ficar manchada.
— Quem se importa – ela falou rindo.
— Eu me importo — respondi soltando as mãos dela e esfregando a camisa.
— Esse é o seu problema sabia – ela disse olhando pra mim.
— O quê? – levantei a cabeça para olhar para ela.
— Você se importa demais — ela pôs sua mão sobre meu peito e me empurrou contra o tapete me beijando repentina e vorazmente. Não consegui reagir imediatamente. Não sei se era o vinho ou minha insegurança, mas fui retribuindo os beijos aos poucos tentando acompanhar o ritmo imposto por ela que me acariciava o rosto e enquanto com a outra tentava abrir os botões da minha camisa.
Minhas mãos correram pelos cabelos dela alcançando a nuca e desceram até a cintura. Meu corpo agia sozinho e pela primeira vez eu não estava pensando em nada, apenas seguia o fluxo. Minha respiração estava muito acelerada e eu rolei para cima dela, que me rolou de volta para o chão. Ela puxava o meu cabelo e beijava-me no pescoço. De repente, ela se sentou em cima do meu tronco, eu fui me sentar quando ela esticou a mão e me empurrou de volta.
— Não! – ela disse respirando fundo. Levantou-se rapidamente, pegou a as taças que estavam ali ao lado, pegou também a garrafa de vinho e saiu andando para a cozinha enquanto falava — Eu não posso fazer isso. Você precisa ir embora.
— O que foi? Eu fiz alguma coisa errada? – questionei ainda um pouco atordoado.
— Não, você não fez nada, tá legal? – ela voltou da cozinha se ajeitando — É melhor você ir agora. Me desculpa tá. Eu não devia ter feito isso. Você é um cara legal e... Droga...
— Como assim? O que tem de errado?
— Tudo, tudo, tudo errado. Vá embora, por favor! – ela falou me empurrando e abrindo a porta do apartamento.
— Tá, tá. Nos falamos depois?
— Sim, sim... agora vai. Vai dar tudo certo. Tchau!
A porta se bateu à minha frente e eu fiquei sem entender o que havia acontecido. Ainda estava processando tudo. Chamei um carro e fui pra casa. Meus pais não estavam em casa. Pelo recado que me enviaram, tinham saído para jantar e comemorar o aniversário de casamento. Estava cansado e confuso, não era cedo, mas também não era tarde. A casa parecia maior que o normal e o silêncio nela também. Fui dormir e para minha surpresa, isso não demorou a acontecer.
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Meu último dia de vida.
Mystery / ThrillerAlexanderson passou um mês planejando o último dia de sua vida. Há meses havia deixado escrito em várias cartas e um diário, enterrados no quintal, suas percepções sobre a vida, suas dores, os amores não vividos. No último dia de sua vida, deixou um...