O diagnóstico?

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06 de maio 2016

Passei a semana procurando algo para dar à minha mãe no dia das mães. Hoje é sexta-feira e estava desde segunda rodando nas lojas e tentando arrumar algo que seja valoroso para ela. Havia me esquecido totalmente do envelope anônimo que alguém deixou para mim na caixa de correio e que estava ainda sobre a cômoda. Guardei o presente para o dia das mães, na verdade os presentes. Afinal, domingo iremos para a casa da vó Benedita, como eu começo no trabalho apenas na segunda-feira, poderei acompanhar meus pais esse ano. Vai ser bom, assim espero, faz tempo que não vejo minha avó.

Peguei o envelope e fui verificar o que tinha dentro. Reli a escrita: proposta de acordo. Que acordo seria esse e quem deixou esse envelope na caixa de correios de casa? Retirei a folha e havia uma carta em letra cursiva, era uma letra bonita e bem redondinha. Eu diria que é letra de mulher, parecida com letra de professora do ensino fundamental e dizia:

Bom dia! (    ) Boa tarde! (   ) Boa noite! (   )

Olá, meu caro rapaz!

Sei que tem observado minha casa, sondou uma das funcionárias e passou vários dias olhando com um binóculo para cá. Não sei exatamente quem você é, não sei exatamente o que quer olhando para minha casa. Se for apenas curiosidade, sinto muito lhe decepcionar, não fico muito em casa. Neste momento não estou nem no país.

Confesso que algumas vezes pensei em chamar a polícia, afinal, são tantos malucos e perseguidores soltos por aí. Confesso também que, nos dias em que eu estava em casa, até observei a sua sacada para tentar ver se você estava me espionando, mas nesses dias você não estava em casa, ou ao menos não estava na janela.

Quero agradece-lo, por causa dessa sua obsessão, acho que posso chamar assim, não é? Enfim, por ficar olhando para a minha casa, viu o invasor e acabou espantando-o de lá com a sua presença. Ele não levou nada da casa, suponho que tenha invadido atrás da minha pessoa. Mas como eu disse, eu não passo muito tempo por aí, não por enquanto.

Vamos fazer um acordo, você fica de olho em minha casa e eu fico de olho em você, se você não for nenhum maníaco, quem sabe deixo você me ver por aí... Ou não! Ha, ha...

Ao final da carta não havia assinatura, apenas um desenho feito de canetinha, flores num dia ensolarado. Instintivamente peguei meu binóculo e fui para a janela. Observei por meia hora e não vi nenhuma movimentação. Li a carta mais duas vezes e me dei conta de que ela disse que não estava em casa por esses dias. Fiquei o restante do dia pensando nisso. Perguntei à minha mãe se ela viu quem entregou o envelope, ela me disse que não. A carta não tinha data, mas foi colocada na caixa de correio na segunda-feira, ou antes disso, segunda foi o dia que a encontraram.

Fui até o computador e revirei a câmera de segurança que pega a entrada, onde fica a caixa de correio. Passei as imagens e consegui ver uma pessoa. Passou correndo às 5:30 da manhã, parou, colocou o envelope e seguiu correndo pela rua até virar a esquina. Vestia moletom cinza, usava capuz, veio da esquerda para a direita, da maneira que passou e como usava o capuz, não era possível focar o rosto. Não era o que eu esperava, imaginei que ela sairia da casa da frente e colocaria o envelope no correio e depois voltaria para a casa dela. A menos que não tenha sido ela quem colocou. Pediu para outra pessoa colocar?

Realmente, havia outras coisas mais importantes para me preocupar, mas eu só conseguia pensar em quem seria o remetente da carta. Contudo, o choro da Ana me trouxe de volta à realidade. Lembrei-me que os resultados dos exames haviam chegado e eu precisava apresentá-los ao médico da empresa. Foi isso o que eu decidi fazer.

Cheguei o consultório médico e sentei-me com o envelope em mãos. Dr. Marcelo me cumprimentou e pediu para que eu me sentasse numa maca. Começou a fazer perguntas.

Meu último dia de vida.Onde histórias criam vida. Descubra agora