24 de janeiro de 2016
Fui liberado do hospital no dia seguinte àquele, pois fiquei estressado com a ideia de passar com um psiquiatra, afinal, eu não sou louco. Ainda que todos estejam dizendo que essa interpretação é equivocada e que todos temos que tratar de nossas dificuldades, a sociedade ainda enxerga as pessoas como doentes mentais, loucas e se utilizam desses termos para tratarem as pessoas ou invalidarem os discursos delas e eu não queria ser visto dessa maneira. Por causa da minha irritação, acabei passando mal e o médico suspendeu minha alta naquele dia.
Já em casa, meus pais insistiam na ideia de que eu havia tentado suicídio. Meu pai me deu um sermão.
— O que você pensou que estava fazendo tentando se matar?
— Eu já disse que não tentei me matar. Não sei o que aconteceu.
— Ah claro que não sabe. Tá querendo apenas chamar a atenção. Pare de agir como uma criança mimada, sua mãe está gravida e você faz ela passar por um nervoso desses. Seu moleque.
Aquela fala me irritou muito, afinal, por que eu faria uma coisa dessas só para chamar a atenção.
— Como você é imbecil! – gritei sem pensar — Sai do meu quarto!
— Olhe como fala comigo, moleque. Seu quarto? Você aqui não tem nada, nada entendeu? – ele vociferou.
— Sai daqui agora! – gritei ainda mais alto.
— O que pensa que está fazendo? - Mamãe subiu e o empurrou para fora do meu quarto, indignada com a postura dele. Ele desceu resmungando e minha mãe sentou-se ao meu lado na cama.
— Ouça, meu filho, não dê ouvidos ao seu pai, ele está preocupado e não sabe como demonstrar isso. Não importa o que aconteceu, saiba que estamos aqui e pode nos contar porque fez isso quando sentir vontade. Descanse agora, amanhã você terá uma consulta para ir, eu irei com você.
Não sei se estava mais irritado com meu pai ou com a insistência deles em dizer que eu tentei me matar. Ao mesmo tempo, eu não conseguia lembrar de fato o que aconteceu.
Horas depois a campainha tocou e minha mãe gritou lá de baixo.
— Alex, visitas para você. Estão subindo.
— Cadê o garoto mais gato da Center Group Telemarketing?
Aquela voz era inconfundível, era a Márcia e pelas risadas ela não veio sozinha.
— Estou entrando!
Ela entrou e junto dela estavam a Priscila do R.H. e mais duas mulheres da minha equipe, Suzana e Camile. As duas eram as melhores pessoas que eu poderia ter, criativas e competentes. Elas me abraçaram e eu estava muito feliz em ter pessoas conhecidas ali comigo.
— Obrigado por virem!
— Não fique se sentindo com quatro beldades vindo lhe visitar – Camile falou animada e dando uma piscadinha para Suzana —
— Realmente, isso é um privilégio para poucos – Márcia concordou e todos rimos muito.
Elas me encheram de perguntas, se eu estava bem, se eu queria alguma coisa e ficaram surpresas ao me ouvir dizer que não me lembrava de nada na última semana.
— É sério? – Márcia perguntou — Amnésia é?
— Não sei, o médico disse que é comum isso ocorrer. Tipo um estresse pós-traumático.
Elas se entreolharam e fiquei desconfiado de que estavam escondendo alguma coisa.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa que eu precise saber? – perguntei olhando para elas.
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Meu último dia de vida.
Mystery / ThrillerAlexanderson passou um mês planejando o último dia de sua vida. Há meses havia deixado escrito em várias cartas e um diário, enterrados no quintal, suas percepções sobre a vida, suas dores, os amores não vividos. No último dia de sua vida, deixou um...