Fim da amizade?

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09 de abril de 2015

Hoje é quinta-feira e tive que aturar minha gerente falando, por esses dois dias, que eu ainda não havia apresentado um motivo justo para ela não computar minha falta no RH. Ela simplesmente não aceita a ideia de que eu não fui trabalhar porque não quis, ainda achou que eu estava debochando dela quando respondi exatamente isso. Eu entendo que ela não quer descontar do meu salário, que já não é lá grande coisa, mas o que posso fazer, eu realmente não tinha nenhuma justificativa para dar a ela que não fosse aquela.

Eu estava no meio de um atendimento quando a avistei vindo pelo corredor, certeza que iria me cobrar a justificativa, um atestado, ou coisa assim.

— E aí Alê, trouxe o que eu lhe pedi? – eu revirei os olhos antes de responder

— O que foi isso? – ela disse – Revirou os olhos para mim? E eu aqui tentando ajudar... Seu ingrato!

— Márcia, eu realmente não tenho nada para lhe entregar. Eu não vim porque não tava a fim, só isso.

— E fala assim na minha cara, na maior a cara lisa?

— É a mais pura verdade!

— Mano, inventa alguma coisa, diz que tava com dor de barriga, que sua avó faleceu, que dormiu demais porque bebeu a noite inteira, inventa uma desculpa como todo mundo... Sei lá, me entrega um pedaço de papel de uma UPA qualquer.

— Olha, eu sei que a galera aqui faz isso o tempo todo, você tá viciada nesse tipo de coisa, parece até que tem uns dias que isso não acontece e você tá com abstinência – falei rindo, mas no fundo, o que ela falou me fez pensar na vovó e minha mente viajou para o sítio e o baú. Ela deve ter percebido isso.

— O que foi? Eu disse algo errado? – ela me perguntou demonstrando preocupação.

— Não, não. Eu viajei aqui. Enfim, como eu disse...

— Não ouse terminar a frase – ela falou me interrompendo – Tenho uma solução. Vou escalar você na equipe do próximo sábado. Assim você ajuda a equipe e não tem seu salário descontado, ainda ganha um extra, já que sábado pagamos dobrado!

Nem deu tempo de eu responder, ela se virou e saiu, minutos depois meu nome apareceu no telão que anunciava a equipe que trabalharia no sábado. Uma coisa eu gostei, na lista da equipe do décimo andar não continha os nomes da Hiroko nem do Douglas, eu não teria que cruzar com eles no fim de semana. A situação entre nós ficou tensa depois do aniversário dela. Ela simplesmente parou de falar comigo, seria o fim da nossa amizade?

Só descobri o motivo dela não mais falar comigo ontem à tarde quando encontrei com a Sarah, uma garota meiga e atenciosa, boa amiga nossa, daquelas que quer saber de tudo nos mínimos detalhes. Quando ela soube que a Hiroko estava namorando o Douglas, quis me contar, pois sabia da minha quedinha, mas teve de prometer que não falaria.

Ela me disse que os dois se afastaram de mim por dois motivos: primeiro porque o Douglas esqueceu de comprar um presente de aniversário para a Hiroko e no dia do aniversário dela disse que o presente dele, era ele mesmo e aquela noite no motel.

Nós dois rimos da situação, porque o cara era muito convencido ou muito sem noção. Além disso, parece que ele ficou com ciúmes por causa do meu presente. Pegou a sacola e trancou no porta-malas do carro dele. Isso gerou uma briga e quando ele foi devolver, de dentro da caixa caiu o cartão no qual eu me declarava para ela. Sarah falou que o cara pegou e leu antes mesmo da Hiroko ler, rasgou o cartão e foi embora.

Eu fiquei surpreso, porque naquele dia eu fiquei tão mal que não me lembrei que dentro da caixa do presente tinha um pequeno cartão com uma declaração. É que eu não ia permitir que ela abrisse o presente ali na minha frente, porque eu ia morrer de vergonha se ela encontrasse o cartão. Só que ela, na empolgação, abriu o presente, olhou o boneco e o colocou de volta sem perceber que havia ali um cartão. Cartão este, encontrado e destruído pelo namorado dela três dias depois.

Meu último dia de vida.Onde histórias criam vida. Descubra agora