Invasão

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13 de fevereiro 2016

Hoje se completam exatos quinze dias desde o encontro com a Isabella, devo confessar que demorei para dormir naquele dia, especialmente porque me toquei de que não pedi o telefone dela. Obviamente pensei que não seria difícil conseguir, afinal, bastava buscar nas redes sociais. Foi isso oque fiquei fazendo até tarde. Por incrível que pareça, não consegui descobrir nada. Ela não tinha redes sociais, pelo menos, não com o nome dela. Quero dizer, não propriamente dela, pois encontrei muitas contas com o nome Isabella Jardim, exatamente assim, nome e sobrenome, mas nenhuma conta era dela. Nutricionistas, enfermeiras, empreendedoras, uma conta no Only fans, duas no Linkedin e uma Psicóloga no Facebook, mas não era ela.

Fiquei pasmado em ver que era um nome mais comum do que eu imaginei. Revirei todas as redes possíveis, mas não encontrei. Diante da enxurrada de Isabella que encontrei. Decidi restringir a busca utilizando o e-mail do cartão de visitas da clínica dela. Achei a conta do Instagram da Clínica, mas nenhuma foto dela exatamente, apenas posts de suas leituras, outras de mensagens motivacionais, algumas da fachada e outras do interior, inclusive o antes e o depois daquela mudança que ela fez após ouvir os clientes. O número de telefone presente na página era da clínica. Liguei no dia seguinte, mas ao ouvir a voz da secretária, desliguei. Ia pedir o telefone pessoal dela para a secretária? Não me pareceu uma boa ideia.

Como não conheço nenhum amigo ou parente, rastreá-la a partir de conhecidos não era uma via fácil, então, as três tentativas que fiz foram em vão. Eu poderia esperar ela sair da clínica e fingir que estava passando por lá. Uma nova coincidência? Talvez não fosse um bom plano. Cansado da busca, fui dormir.

No dia seguinte sai cedo, para desespero de minha mãe, eu disse que ia caminha no parque, mas na verdade fui até a clínica. Para minha surpresa, a clínica havia mudado de endereço e o pessoal do lugar não sabia dizer o novo endereço. Voltei para casa desanimado, afinal, quais seriam as chances de encontrá-la novamente sem marcar uma consulta e pedir pessoalmente o telefone dela. Talvez ela se recusasse, por causa da questão de médico e cliente. Não é esse tipo de relação que quero com ela. Após muito pensar, deixei de lado essa questão e joguei para o destino, mesmo não acreditando em destino.

Nos demais dias, não sai de casa. Minha mãe estava me atormentando com as paranoias dela. Assim, decidi ficar entocado no meu quarto. O problema é que tudo me parece tedioso com tanto tempo livre. Meu pai insiste que eu deveria ao menos fazer academia e ocupar meu temo com alguma coisa útil, em vez de ficar trancado no meu quarto fazendo nada. Só que nada do que eu faça melhora meu humor, nem muda minha percepção do mundo. A maior parte do tempo tento não pensar nisso, porque pensar nisso me deixa ainda mais deprimido, mas o tédio também me deixa deprimido.

Antes de ontem, tive a sensação de nossa casa estava sendo vigiada. Olhei pela janela e não consegui perceber nada de fora do normal. A casa da frente continuava como sempre, uma ou outra luz estava acesa, mas nenhuma movimentação. Eu continuava observando e agora, com mais tempo livre, consegui observar vário dias em horários diferentes. A empresa de limpeza vinha uma vez por semana, o pessoal da jardinagem uma vez por mês, as entregas continuavam sendo colocadas naquela caixa de entrega enorme. Não era possível saber se ficava alguém na casa ao longo do dia. Duas vezes por semana uma empresa de lavanderia chegava, entrava, deixava as roupas lá dentro e saia.

Ontem, por volta das vinte três e trinta, todos estavam dormindo e eu estava observando a casa. As luzes todas apagadas, apenas a luz da frente que era automática, se acendia cada vez que algo passava e acionava o detector de movimento. Ela se acendeu três vezes, as duas primeiras por causa de um gato que subir no muro. A terceira vez não era um gato, mas alguém, pelo menos eu achei que fosse alguém. Não deu para ver direito, só foi possível perceber que era grande o suficiente para ser um gato, em seguida ouvi um barulho de coisas sendo derrubadas, vidro se quebrando. Alguns cães da vizinhança passaram a latir.

Meu último dia de vida.Onde histórias criam vida. Descubra agora