13 de abril de 2015
Saímos da filial da Zona Sul e seguíamos para a delegacia, como estávamos com tempo, ela parou em um restaurante para que pudéssemos almoçar. Ela sempre come no mesmo lugar, disse que depois que provou a comida de lá, não achou outro lugar que tivesse aquele tempero. Quem olhasse por fora não dava nada ao pequeno restaurante de comidas caseiras, mas ao adentrar ao ambiente, era notório que todos ali eram profissionais especializados naquilo que faziam. Desde a entrada até à cozinha, sem exceção, a gentileza e sobriedade era a palavra de ordem.
— Bem, agora que já lhe tirei daquele inferno, você me deve uma – ela falou olhando nos meus olhos — Sabe, Alê, eu gosto e confio no seu trabalho. Sei que sobre sua liderança a equipe pode render muito. Muito mais do que rende comigo até. Além disso, não quero aquele tosco do Douglas gerenciando minha equipe. Ele é cria do Gabriel e já tem um voto de apoio dele.
— Vou pensar... — eu realmente não sabia se queria essa vida de gerente.
— Qual é cara?! Você está pensando tem mais de quinze dias. Ah, tá, entendi. Eu ia falar que o salário é bom, mas tu é rico e não precisa dessa grana – ela falou sorrindo — Mas faz isso por mim, o Douglas tá fora, então, da filial centro, apenas a Hiroko vai pra frente e se você não se inscrever ela vai comandar.
— O Douglas tá fora? Como assim? – perguntei curioso.
— Logo você vai descobrir – ela riu maliciosamente enquanto a comida era colocada em nossa mesa.
A comida era realmente deliciosa. Depois de almoçarmos, fomos para a delegacia. Ao entrarmos, eu fui conduzido para uma sala onde seria ouvido e prestaria os esclarecimentos. Márcia pediu para eu ficar tranquilo que depois de ser ouvido ali iríamos nos encontrar em outra sala e que os agentes me levariam até ela. A pessoa que me aguardava me deixou bem à vontade e esclareceu os motivos de eu estar ali. Fez um monte de perguntas e me perguntou várias vezes a mesma coisa de maneiras diferentes.
Relatei os fatos da maneira como se deram e ela me perguntou se havia algum interesse do Douglas em me prejudicar, eu disse que não saberia dizer, mas que até onde eu sabia, tudo havia sido motivado por ciúmes. Pelo menos era a única coisa que eu conseguia pensar. Ela anotou tudo, questionou a quanto tempo eu conhecia o Douglas e há quanto tempo eu estava interessado na Hiroko. Respondi todas as questões e ela me agradeceu e disse que eu poderia ser chamado novamente se fosse necessário. Disse ainda que a medida cautelar continuaria valendo e que eu deveria estar atento para não descumprir as medidas.
Ao sair da sala dela, um agente me levou até outra sala na qual encontrei com a Márcia, o Douglas e seu advogado e mais um homem que eu desconhecia. Este último se levantou e se apresentou como sendo advogado da empresa e que estava ali me representando.
— Estamos aqui para propor um acordo e encerrar com essa ação absurda – foi o que disse o advogado da empresa.
— Absurda é a sua proposta – respondeu o outro advogado – Meu cliente foi agredido, desejamos a indenização e as devidas medidas contra o agressor. Ele está com sequelas por causa da queda que ele sofreu na escada depois de ser empurrado pelo seu cliente – ele falou de maneira calma e ao mesmo tempo ameaçadora — Não satisfeito em causar a confusão, após descobrir que meu cliente foi levado pelos seguranças ao segundo andar, seguiu-o até lá e aguardou que ele descesse as escadas para então empurrá-lo.
Na minha cabeça aquilo tudo era um absurdo, eu nem sequer estive no segundo andar, fui direto para a enfermaria.
— Além disso, estamos pensando em entrar com uma ação de tentativa de homicídio.
— O quê? – falei me levantando nervoso. Márcia fez questão de me acalmar e eu tremia de estresse e ódio.
— Então, para que isso não aconteça queremos que seu cliente pague a indenização e as despesas médicas que manteremos a denúncia por agressão com lesão corporal.
O advogado que estava me representando abriu uma pasta e colocou sobre a mesa. Depois colocou também um tablet e mais um monte de papéis.
— Este documento aqui é um pedido de demissão do seu cliente. Esse aqui é um termo de compromisso de retirada da medida protetiva e anulação do boletim de ocorrência. Este aqui é uma declaração de retratação e uma nota de esclarecimento que deve ser colocada no portal da empresa. Se esses documentos forem assinados, encerramos o acordo aqui e seu cliente não será preso por falsa denúncia, difamação, calúnia e lesão corporal leve. Pagará apenas uma multa de vinte salários mínimos ao meu cliente.
O advogado do Douglas lia os documentos na pasta e nele estavam os registros de entrada e saída da enfermaria, estavam duas fotos do Douglas e mais uma pessoa com uma blusa muito parecida com a que eu usei no dia da briga e também colocou um vídeo no tablet para que eles vissem.
— Embora as câmeras do corredor não gravem as imagens, apenas filmem ao vivo. As câmeras internas e a câmera externa do elevador gravam e armazenam as imagens por trinta dias – meu advogado falou apontando para a tela — Esse vídeo mostra o exato momento em que meu cliente sai do elevador e é golpeado pelo funcionário Douglas. Como você pode ver, em momento algum ele reagiu ou desferiu um soco contra o seu cliente, muito pelo contrário, ele foi golpeado e saiu ferido para a enfermaria.
O outro olhava para o vídeo e olhava para o Douglas como tentando entender o que estava acontecendo, meu advogado continuou.
— Note que o moletom branco usado por Alex ficou sujo de sangue. Seu cliente alegou que foi empurrado por Alexanderson quando descia as escadas ao sair da sala de segurança, disse que sabia ter sido ele por causa do moletom. Observe que a foto apresentada por seu cliente, a qual ele diz que tirou enquanto meu cliente saia do local, além de não pegar o rosto do meu cliente, mostra uma blusa igual, mas totalmente limpa. A blusa do meu cliente estava ensanguentada. Para além disso, no estacionamento, quando seu cliente estava sendo levado para a ambulância, a câmera externa flagrou uma pessoa que saiu pela porta de emergência do térreo. Esta pessoa usava a blusa, retirou-a, enrolou em um saco de lixo preto, jogou em uma das caçambas e foi em direção à ambulância.
Mais uma vez o meu advogado parou o vídeo e apontou na tela.
— Esta pessoa acompanhou seu cliente na ambulância até o hospital.
Douglas estava passando mal, parecia que ia desmaiar. O advogado dele olhou para ele e disse de maneira muito surpresa e séria.
— Você mentiu para mim. Quem é essa pessoa e por que você fez isso?
— Bem, isso eu consigo responder – interveio a Márcia — Alguém da minha equipe vazou para ele que eu tinha a intenção de lhe indicar o Alexanderson para o cargo de gerente se ele se inscrevesse. Sabendo disso, ele decidiu que abriria um B.O contra o Alexanderson, isso prejudicaria ele, pois impediria que concorresse ao cargo se assim desejasse. Pois ele sabe que com meu voto, a chance de ele ser aprovado diminui, uma vez que outros dois departamentos já demonstraram apoio ao meu indicado, se eu conseguisse convencê-lo a se inscrever. Acho que essa foi a motivação.
Eu estava estarrecido com tudo aquilo. Ao ser questionado por seu advogado, Douglas confessou que foi isso mesmo, mas que fez isso a pedido do gerente da Filial Sul, que desejava ascender ao cargo de CEO e levaria Douglas como gerente, uma vez que se o indicado tiver qualquer problema, isso mancha também a carreira do gerente que o indicou. Assim, os dois ganhariam a vaga, já que era a fase final da seletiva.
O advogado dele o orientou a assinar todos os papéis e retirar a queixa, escrever uma carta de retratação, pedir demissão. Pois a coisa seria muito pior se ele se recusasse, pois a empresa abriria um processo criminal contra ele. Assim foi feito, o acordo foi fechado Douglas responderia por falsa denuncia de crime apenas e pagaria multa.
Ao sairmos da delegacia, Márcia me olhou sorrindo e disse.
— Agora pode voltar para nossa equipe, pixuruco da mamãe – apertava e minha bochecha enquanto fala como se estivesse falando com um neném – Coisa fofa, linda, tchuco, tchuco.
Eu ri, ela realmente sabe como quebrar a tensão.
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Meu último dia de vida.
Mystery / ThrillerAlexanderson passou um mês planejando o último dia de sua vida. Há meses havia deixado escrito em várias cartas e um diário, enterrados no quintal, suas percepções sobre a vida, suas dores, os amores não vividos. No último dia de sua vida, deixou um...