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𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟑𝟎: Desconfortável

Hyunjin gostou de fazer arte em pele: era definitiva, durável, quase eterna. Vários estranhos pagavam para ter uma marca registrada dele em seus corpos. Fazia bem ao ego e ao orgulho do artista que renasceu como tatuador por um propósito ruim.

Seus desenhos expostos nas redes sociais recebiam muitas curtidas, suas tatuagens eram aclamadas por outros profissionais do ramo com muito mais experiência e ele finalmente teve o reconhecimento de seu talento artístico.

Ele gostava de ser Jinnieret, de rosto anônimo, apenas uma tela para toda aquela tinta em seu perfil do Instagram e na vida real.

Nem todas as suas tatuagens tinham um significado ou um bom motivo por detrás, ele não precisava justificar para ninguém o que fazia com o próprio corpo — ao menos o direito de decorar sua pele como bem entendesse ele tinha. Era uma forma de ele se expressar e apreciar a ilusória liberdade.

Apesar de se esquecer da maior parte delas, gostava do que encontrava quando se olhava no espelho. Jin era uma pessoa realista, mas que tentava encontrar pontos positivos mesmo nas situações mais adversas.

O caminho que o levou até onde estava não foi bonito, nem fácil, mas seu suor, sangue e lágrimas o tornaram mais forte. Ele virou um gato que sempre caía em pé. A tinta sob sua pele, a arte eternizada nele; era o que ele mais gostava em si mesmo, as joias cravadas em seu rosto vinham em segundo lugar.

As dificuldades moldaram seus músculos esguios, mas fortes; o treinamento e a convivência com pessoas perigosas mandaram seus medos embora, ao invés de aumentá-los; a pose arrogante que tinha de performar infundiu-o autoconfiança e ajudou-o a reconhecer suas próprias qualidades.

Chefe o enganou e foi um filho da puta ameaçando seus pais, espancando-o até quase a morte e obrigando-o a se envolver em negócios ilegais que podiam custar sua liberdade, culminando em sua exposição a indivíduos do submundo que facilmente tirariam sua vida.

Mas, ele também foi aquele que forjou um sobrevivente implacável que não se abalava com pouca coisa. Hyunjin gostava do Jin que se tornou por causa de Chefe, no final das contas. A verdade era que ele acabou se habituando a vida criminosa, as negociações arriscadas, a grandeza de vencer. Inferno, ter sido um perdedor por tantos anos foi uma merda!

Só que aquela vida tinha um prazo de validade, os anos dedicados a Chefe estavam no fim e faltava pouco tempo para ele se desconectar do submundo, de seus clientes perigosos, dos outros criminosos com quem conviveu, mudar-se da cobertura no arranha-céu, deixar o estúdio de tatuagem para trás e finalmente... finalmente o quê?

Durante aqueles anos, ele não foi capaz de investir seu tempo em nada sólido, não ganhava o suficiente, nem tinha exatamente um objetivo de vida além de pagar sua dívida. Chefe o colocou naquela situação financeira mais do que precária, propositalmente obrigando-o a depender dele para tudo, para garantir que nunca pudesse se livrar do agiota.

Não se tratava mais apenas do pagamento da dívida, ele queria manter o negociador excepcional.

Por isso investiu em sua educação, na capacitação para artista, tatuador e negociador. Enquanto estivesse estudando e trabalhando para ele, o agiota o prometeu que cuidaria de tudo. Ele não teria de se preocupar com nada.

Chefe queria que Hyunjin morasse em seu apartamento, que suas despesas fossem pagas por sua generosidade, que a "amizade" entre eles fosse o único vínculo duradouro do Hwang, que ele só conhecesse a gentileza por recompensas fornecidas pela sua infinita bondade.

Queria que o Hwang nunca pudesse se livrar dele.

Então tratou de tomar quase todo o seu tempo, ofereceu-lhe a luxuosa cobertura, a proteção contra os perigos do submundo e um emprego "real" no estúdio, que o trouxe valorização de sua arte. Para prendê-lo, para ser aquele quem controlava todos os âmbitos de sua vida.