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Ana Júlia:

— Se você fizer isso de novo, eu corto sua pica — falei revoltada depois de quase cair para trás com o grito do arrombadinho —

— Para de ser ranzinza.

— Dirige — tombei a cabeça pronta para dormir e ele veio me cheirar —

Não só isso, ele parou bem pertinho do meu rosto e ficou me encarando com um sorriso.

Eu queria parar nesses momentos.

— Para — dei um leve tapa na bochecha dele, que me deu um selinho e voltou ao normal, me arrancando um sorriso —

— Pegou tudo?

— Sim. Pode ir — coloquei o cinto —.

— Coloca uma música — jogou o celular dele na minha perna e deu partida —

E nem é querendo me gabar, mas a playlist dele estava melhorando muito com esses dias ao meu lado.

Cantei, cantei, até que dei uma boa cochilada e só acordei com o barulho da ligação.

Logo uma voz feminina tomou conta do carro. Ele começou a falar a língua dele e logo consegui entender que era a mãe dele.

— Estou no seu apartamento te esperando e Juan me disse que você não volta — ela disse, talvez irritada, e ele fez uma careta —

— Por que não me avisou que viria?

— Quis fazer surpresa. Thian e Nicole vieram também e você achou que seria uma ótima hora para sumir — ele apertou o volante, irritado —

— Estou fora de São Paulo e... — ela interrompeu ele —

— Com suas aventuras amorosas, né? De novo. Não se cansa. Já não bastou perder Natália, vai querer perder a Nick também? — eu me remexi na hora e ele me olhou de relance, trincando mais ainda o maxilar —

— Mãe, estou dirigindo. Retorno depois.

— Eu já falei que essas vagabundas só querem sugar seu dinheiro, Richard. Qual a dificuldade de entender isso? Sua namorada está aqui te esperando e você aí com outra — ele desligou e soltou todo o ar preso —

— Desculpa — me olhou enquanto eu me ajeitava no banco —

— Você tá namorando? — perguntei, calma, mas querendo morrer por dentro —

— Óbvio que não, Ana Júlia, você acha que se eu estivesse, eu estaria com você? — permaneci em silêncio com sorriso sarcástico e ele bufou — Eu não namoro, só fiquei com ela e minha mãe acha que nós estamos juntos.

— A vida é sua, Richard, tá tudo bem. O que eu não quero é ficar com fama de amante e ser chamada de vagabunda por pessoas que não sabem um terço sobre mim.

— Isso não vai se repetir. Desculpa por todas as palavras dela que te atingiram — assenti, não dando tanta atenção — Por favor, não deixa isso acabar com o clima bom da viagem.

— Tá.

E seguimos em um silêncio. Ou quase, porque minha mente não se calou.

Ficaram, e a mãe acha que estão juntos? Essa história não me desceu nem um pouco.

Ele sequer rebateu, só desligou quando ela falou de namorada, sendo que ele poderia muito bem negar.

Eu queria ignorar isso. Queria muito! Mas minha mente não parava de repetir que eu era uma trouxa que estava se sujeitando a ser amante e passatempo de alguém.

Não que eu queira ser assumida, apresentada, ou algo do tipo. Mas diante de toda essa situação, eu me sinto um lanchinho de uma madrugada qualquer que está ali pra dar prazer quando a namorada tá longe.

E o que mais me deixa louca é saber que eu sempre falei que não ia cair em papinho de jogador.

Mas parece que alguém escorregou bonito.

Cadê as cartelas de Rivotril pra calar as vozes nessas horas?

[...]

Chegamos após um longo caminho por águas, onde eu enjoei e por pouco não vomitei no Richard.

Fomos para o Airbnb onde ficaríamos com um clima bem chato.

Se trocamos dez palavras depois daquilo, foi muito.

Corri para fazer xixi, porque ou era isso ou eu faria nas calças.

Aproveitei e fui conhecer a casa que tinha uma decoração absurdamente linda. Piscina com borda infinita e uma vista para o mar cristalino que parecia um pouco mais escuro agora à noite.

Ele me chamou e eu fui seguindo a luz, toda perdida.

Quando entrei no quarto, encontrei ele me olhando como um cachorro inseguro. Ao lado, na cama, tinha um buquê e uma sacola da Pandora.

— Pra você — ele deu um sorriso meio xoxo que logo melhorou quando viu o meu —

— Richard — fui até a cama, toda emocionada —

Primeiro fiquei meio paralisada olhando. Ele esticou a sacola e eu fui abrir.

— Sei escolher pelo menos? — ele sentou na minha frente —

— Muito! — olhei para ele, já com os olhos enchendo de lágrimas. Ele me puxou para um abraço seguido de uma série de selinhos — É lindo. Obrigada.

Depois disso, ficamos em um enorme silêncio. Meu coração acelerou 2x e comecei a sentir algo que nem lembrava como era sentir.

Me tragam cloro, que hoje eu passo o litro para dentro sem careta.

Dois idiotas.

Meu talvez ficante me dando um buquê com uma Pandora em uma viagem no meio da semana que ele inventou.

Fora os traumas, o máximo que meu ex me deu foi um chifre.

Richard Ríos, eu te odeio tanto.

Continua

Estou doidinha pra plantar a semente do mal 😍

Inolvidável | 𝐑𝐢𝐜𝐡𝐚𝐫𝐝 𝐑𝐢os Onde histórias criam vida. Descubra agora