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Ana Júlia,

Essa noite rendeu alguns episódios.

Começando pela confusão no banheiro. Eu voltei para a rodinha com um bico horrendo. A menina realmente me tirou do sério.

Quando eu estava quase superando todo o ódio plantado no meu coraçãozinho, ela apareceu saindo com ele. Só então percebi que era uma das piranhas que me odiava no ensino médio.

Por isso aqueles assuntos.

Esse ser humano fazia bullying até com a ponta do meu nariz, e o irônico é que ela me imitava em tudo.

Até nos machos. Nem meu ex escapou. Uma semana depois do término, ela pegou ele.

Agora foi o Richard, kkkkk. Vai ver temos o mesmo tipo.

Acabou que, depois de muito me zoarem por acharem que eu estava chateada por Richard estar com outra, os meninos me animaram novamente e eu voltei a aproveitar a festa com eles. Sem beber. As coisas estão mudando.

Fui embora com Calleri, Diego, Nestor e a namorada, quase derrubando o carro com tanta bagunça.

Terminei a noite cuidando de dois marmanjos que não sabem beber com moderação e acabaram vomitando tudo. O jogo virou. Para pior.

Hoje acordei com 3 ligações perdidas e nove mensagens apagadas do bonitão.

No fim da madrugada, o álcool fez ele mandar e depois ele se arrependeu. Certeza.

Mandei apenas um ponto de interrogação e ele só visualizou. Tomara que ele se lasque no chão, ridículo.

Continuei minha vida normalmente enquanto ele postava no close friends: almoçando com Juan, cortando o cabelo e fazendo graça enquanto se exibia com o tanquinho sarado no espelho só de toalha.

Desnecessário.

A vida segue. Quando finalmente deu a minha hora, a mulher da portaria do CT mandou me avisar que estavam me esperando.

Na hora pensei nele, mas quando cheguei lá era só meu pai, me esperando todo sorridente.

Só aí lembrei que tinha marcado de tomar café com ele. Que filha horrível eu sou.

Fomos para a cafeteria preferida dele e conversamos sobre a Maria Luiza, que estava começando na vida amorosa e deixando meu pai mais calvo do que já é.

— E seu namorado?

— Que namorado, pai?

— Aquele do Palmeiras. Richarlison. — Eu soltei uma risada.

— O Richard, pai. Ele não é meu namorado, só um amigo.

— Amigo, Ju? — riu fraco — Ele na sua casa de manhã, vocês viajando juntos...

— Quem te falou da viagem?

— Victor. — Bufei — Já fui jovem, Julinha. Vocês são tudo, menos amigos.

— Não temos nada fixo.

— Sério que você está sendo a segunda opção, Ana Júlia? — perguntou sério.

— Não, pai. Estamos nos conhecendo.

— Ele está te fazendo de otária, sua burra. — Olhei para ele boquiaberta.

— O que está acontecendo com você? A "skin lerdinha" era melhor.

— Minha filha, você é tão esperta.

— Pai, existem casos em que é melhor ficar por ficar.

— Você está ficando apaixonada e sendo feita de otária. — meu olho arregalava mais a cada palavra-

— Meu amor?

— É a verdade, Julinha. — Com a voz dócil e o apelido para amenizar a humilhação — Ou você bota esse macho para virar gente ou cai fora disso.

— Tá bom, meu anjo. — Tentei cortar o assunto.

— E sua avó sonhou com você grávida. Fica atenta.

Que caralho, meu irmão.

— Pai, vamos falar de viagem em família. Sei lá, assuntos saudáveis.

— Viagem em família e saudável na mesma frase? — Negou — No caminho, a Denise iria voar do carro.

— Tadinha.

Depois disso, foi só casos de família até chegar em casa, onde ele ficou uns minutos comigo.

Quando ele saiu, o interfone tocou e adivinhem só? O porteiro avisando que Richard estava subindo.

Não demorou para ele chegar, fazendo zona com a campainha.

Abri com a cara fechada e ele abriu o sorriso descarado de sempre.

— Ainda com essa roupa feia, meu amor? — Tentou me dar um selinho, mas eu desviei.

— Como você conseguiu livre-arbítrio no meu prédio? — Observei ele se sentar com o pé podre no meu sofá.

— Encontrei meu sogro. — Ignorou minha pergunta — Apertou minha mão com uma força desnecessária.

— Frouxo. — Sentei — O motivo da visita é qual mesmo?

— Você não ia dormir lá em casa hoje? — Arqueei uma sobrancelha e ele sorriu.

— Tirou essa informação de onde?

— Você me falou ontem, não lembra?

— Está confundindo. Nem te vi ontem. — Ele soltou uma risada irônica.

— Não, né?

— Não que eu me lembre. — Dei de ombros.

— Mas eu te vi bem. — Piscou e eu gargalhei, sabendo exatamente onde ele queria chegar.

— Que bom, bebê.

— Vai se arrumar logo.

— Pra quê?

— Dormir na minha casa.

— Pra quê? — Ele estalou a língua, se estressando — Você vai me trazer amanhã.

— Se você me pagar.

— Sonha, amor.

Pensei: amanhã é feriado e eu não tenho planos.

Vamos conhecer o muquifo do Ríos.

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Arrumei minha bolsinha, como sempre parecendo que vou passar uma temporada fora, e fui para o banho.

Coloquei um vestido longo, larguinho e estampado. Eu sei, nada a ver com o meu estilo piriguete, mas foi caro e eu preciso usar.

Passei perfume por passar mesmo. Já sei que chegando lá já vou ativar o modo mendiga.

Olhei no espelho e me senti uma mãe recatada do lar, mas ao mesmo tempo uma grande gostosa.

Tudo isso para ir para o muquifo do ovo mole do Richard. Aff. Em dias normais, eu estaria me odiando.

— Tô pronta, bem. — Ele me olhou, largando o celular.

— Nossa senhora! — Assobiou. — ficou lindona nesse vestido estranho. — Cheirou meu pescoço. — Fala a marca que vou comprar um monte pra te ver assim de novo.

— Eu sei que sou linda. — Me gabei e recebi um tapa na bunda.

— Ainda bem. — Pegou minha bolsa. — A gente vai passar no shopping, tá? — Assenti, abrindo a porta.

Tranquei tudo e ele foi chamar o elevador. Só então ativamos nosso modo casal adolescente. A porta do elevador abriu revelando uma família.

Com o clima tenso que ficou, foi impossível não rir.

Tudo culpa do colombiano maldito.

Continua...

Me embucetei e coloquei na minha cabeça que preciso terminar este caralho de livro que rende desde fevereiro🥲

Inolvidável | 𝐑𝐢𝐜𝐡𝐚𝐫𝐝 𝐑𝐢os Onde histórias criam vida. Descubra agora